sábado, 31 de julho de 2010

Sonho e pesadelo (II)



  • Pe. David Francisquini*

Sob o título “Sonho e pesadelo”, escrevi recente artigo em que procurei analisar o justo ideal de jovens que contraem matrimônio na perspectiva de iniciar uma família bem constituída, mas que não tardam a ter que enfrentar obstáculos quase intransponíveis quanto à educação e à formação moral e religiosa dos filhos.

Sinteticamente, procurei “dar nomes aos bois” ao enumerar os referidos obstáculos, contrastando-os com a boa ordem das coisas criadas por Deus, e recorrendo a um profundo estudo histórico e sociológico de autoria do líder católico Plinio Corrêa de Oliveira, consubstanciado em sua obra-prima Revolução e Contra-Revolução.

Neste estudo mundialmente conhecido, o autor demonstra que a atual crise que abala os alicerces da nossa sociedade é de origem religiosa e moral, tendo atingido, sobretudo, a civilização ocidental e cristã. Depois ela se difundiu por todo o mundo. Não se pode entender, pois, a intricada situação em que se encontra a família descrita no referido artigo, abstraindo-se dessa visão.

Muitas pessoas, diante dos alarmantes índices de violência e da vertiginosa expansão das drogas, bem como da dissolução da sociedade familiar e das concepções geradas fora do casamento, recorrem a nós se perguntam como proceder de modo equilibrado na educação e formação da prole, a fim de preservá-la dos perigos que campeiam no mundo atual.

Há algum tempo, a imprensa de Belo Horizonte registrou para a História entrevista com um assassino confesso. Entre outras perguntas que lhe foram dirigidas, uma era no referente ao que ele faria se fosse solto. Arrogante e duro de coração, o delinqüente respondeu que não estava arrependido dos crimes que cometera, que não procuraria trabalho e continuaria matando e roubando.

Em seguida, perguntaram-lhe a razão de sua atitude e por que ele chegara a tal ponto. O homicida respondeu com frieza: “Tudo começou quando, aidna menino, cheguei em casa com um doce roubado no bar e minha mãe, ao invés de me corrigir, deu um sorriso”.

Salta aos olhos que uma concessão, por menor que possa parecer, pode trazer conseqüências desastrosas para o resto da vida. Pois nada de grande — quer no sentido do mal ou quer no sentido do bem — acontece repentinamente. O segredo para as famílias é a integridade na formação moral e religiosa de seus filhos.

Portanto, pais e educadores, no cumprimento de seus deveres, estejam atentos para não fazer concessões à maldade e traquinagens das crianças, pensando conseguir detê-las no caminho da ruína e da perdição. “Porque, a fascinação das frivolidades obscurece o bem e a inconstância da paixão transtorna o espírito inocente” (Sab. 4, 12).

Como sacerdote de Nosso Senhor Jesus Cristo, assisto com tristeza pais tomarem a defesa de filhos, quando eles cometem infrações e são repreendidos. Além de não corrigirem os filhos, ainda se aborrecem quando um professor os admoesta, chegando, não raras vezes, a romper com a escola onde estudam suas crianças, defendendo-as por ocasião de uma simples travessura infantil.

Outros abdicam da responsabilidade da educação, permitindo que os filhos permanençam longamente diante da televisão ou da internet. Mais tarde, ao se deparar com os desvios praticados pelos filhos, perguntam-se como aquilo aconteceu! Talvez seja demasiado tarde. De acordo com espírito católico, sempre haverá uma forma equilibrada e sensata de educar a prole.
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*Sacerdote da igreja do Imaculado Coração de Maria, Cardoso Moreira— RJ

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