quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Do Presépio ao Calvário


Pe. David Francisquini (*) 

Apesar de revestida de mistério, a festa da Circuncisão de Nosso Senhor Jesus Cristo, comemorada no dia primeiro de janeiro, esparge luz que ilumina todos os dias do ano. 400 anos antes da promulgação da Lei mosaica, Deus prescrevia a Circuncisão como preceito para Abraão e seus descendentes, simbolizando a Aliança estabelecida por Deus com o povo hebreu, particularidade que o diferenciava dos pagãos.

Tratava-se do principal sacramento da religião mosaica — simbolizando ao mesmo tempo purificação e santificação — a caracterizar e congregar o povo escolhido com a eliminação do pecado original. Sendo Nosso Senhor Jesus Cristo verdadeiro Deus, descendente de Abraão, não estava sujeito a essa Lei, mas quis a ela sujeitar-se, em ato de humildade e obediência, para assim remir e libertar a humanidade da culpa original.

Nesse acontecimento de transcendental importância, comemorativo da oitava do nascimento do Salvador do mundo, cujo nome é Jesus — que significa Salvador e Redentor —, podemos figurar um diálogo que bem poderia ter ocorrido entre Filho e Mãe, qual melodia harmoniosa e sublime, para ressaltar o significado desse mistério que a Santa Igreja Católica comemora.

— Minha Mãe, a mais formosa das filhas de Israel, vede que vim reinar e conquistar os corações! Sendo Eu Deus, quis ser pequenino, frágil, mimoso e deleitável, para tocar os corações dos homens, a fim de que eles trilhem o caminho dos mandamentos. O vagido que se desprende de meus lábios representa a minha dor, torna-se um hino de homenagem que ressoa junto ao trono de Deus Pai!

— Meu Filho querido, ao desprender de vossos lábios o pranto de dor, sinto uma espada que trespassa o meu coração virginal! Uno-me a Vós de tal forma que na junção de vossa dor com a minha realiza-se algo que a Terra não pode compreender, pois Mãe e Filho sofrem e assim unem o Presépio ao Calvário. Vejo em Vós a nova aliança que se instala com o derramamento de vosso sangue de valor infinito que redime a humanidade inteira.

— Sendo de Família real, descendente de Abraão e dos demais patriarcas, Eu não vim abolir a Lei, mas cumpri-la. A prova do meu amor para com os homens se revela na circuncisão! Foi para padecer e sofrer por eles, garantindo a sua eterna salvação, que tomei a natureza humana em vossas entranhas virginais. Ao ouvir o lamento de minha dor, que desprende de meu coração que tanto ama os homens e faz estremecer os próprios anjos, espero tocar-lhes o coração.

— Como pode um Deus tão pequenino, tão frágil e meigo, sofrer sem culpa?

— Minha amada Mãe, foi para mostrar aos homens que Deus não abandona os pecadores que Eu tomei a natureza humana. Vejo nisso a expressão do meu sacerdócio, que se instala entre os homens para remir dolorosamente suas péssimas culpas e conceder-lhes os meios de salvação, instituindo assim os canais da graça que são os meus sacramentos.

E prossegue o Deus-Menino: — Como o povo hebreu fazia parte dessa nação eleita pela circuncisão, assim também pelo batismo reunirei os filhos prediletos de minha Igreja, fora da qual não há salvação. Se nesse estábulo sou circuncidado — local aonde os Reis Magos e os pastores vieram prestar-me homenagens — deixarei, Virgem Imaculada, um sacerdócio perene, para que este mesmo sangue seja sacrificado sob as aparências de pão e de vinho.

— Como se dará isso, meu querido Filho?

— Eu vim para remir o povo de seus pecados. Como Salvador e Redentor do mundo, não posso restringir minha ação a um povo, mas conquistar toda a Terra. Diante de meu Nome dobrar-se-ão os joelhos aqui, nos Céus e no inferno! Meu Nome será pronunciado pelos meus ministros e filhos queridos para expulsar os demônios e vencer todos os males.

O meu Nome será uma fonte inesgotável com poder inexcedível para sanar os males, afugentar os demônios e quebrar o poder de articulação dos maus. Ao pronunciá-lo com respeito e veneração, ele confortará nas lutas, consolará nas tribulações e tentações, será o escudo seguro contra os inimigos de nossa alma e lenitivo a amenizar as chagas do espírito, tal qual o azeite lançado nas feridas.

— Sei, querido Filho, que dos antros da humanidade se arrancarão determinações e planos contra a vossa Igreja, a ser instituída um dia. Como no campo bem cuidado pode proliferar a cizânia, percebo com a clarividência que me destes, com a luz que me infundistes, que o príncipe das trevas se articulará nos seus antros de maldade e perversidade, para levar à ruína vossa Igreja. Como Rainha da história humana, prevejo as articulações para introduzir em seu seio ministros que difundirão o mal para perverter as almas que custam o preço infinito de vosso sangue. Sendo vossa Mãe, sê-lo-ei também da Igreja e sei que as portas do inferno não prevalecerão contra Ela. O fulgor de vossa santidade e perfeição brilhará um dia em toda a face da Terra. Eu, que Vos concebi e por obra e graça do Espírito Santo Vos trouxe a este mundo, estabelecerei sobre ele o meu Reino: Por fim meu Imaculado Coração triunfará! Assim se unem o presépio com o Calvário e com toda a história da raça humana.

Aquele que sendo Deus quis abraçar a raça humana revestindo-se da carne desta, começa a derramar as primeiras gotas de seu sangue preciosíssimo. Vossa carne que está sendo atingida neste momento tem um valor incomparavelmente maior que o sangue dos cordeiros, ovelhas e bois.

Não contente com a efusão deste pouco sangue, quereis mostrar o excesso de vosso amor, de vossa bondade, de vosso entretenimento, de vosso carinho para com a humanidade inteira. O excesso de vosso heroísmo para remir uma raça que foi maculada pelo pecado não conhece limites. O desdobramento de vossa vida é uma contínua imolação, cujo auge será o sangue derramado por Vós no alto da cruz. O mais sublime exemplo para que a humanidade inteira compreenda que deve amar e lutar sem limites por Deus, de toda alma, de todo coração, de toda inteligência.
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(*) Sacerdote da igreja do Imaculado Coração de Maria, Cardoso Moreira - RJ 


segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

O PRIMEIRO PRESÉPIO DA HISTÓRIA

O belo costume de montar presépio para rememorar o nascimento do Menino Jesus nos foi legado por São Francisco de Assis (no ano de 1223), conforme narra São Boaventura:

“Três anos antes de sua morte, encontrando-se o Santo em Grecio, movido por sua ardente devoção e para excitá-la nos outros, quis celebrar a festa da Natividade do Menino Jesus com toda a pompa e majestade possível.

Mas, para que ninguém pudesse tachar essa festa de ridícula novidade, pediu e obteve do Sumo Pontífice licença para celebrá-la.

Em seguida, Francisco fez preparar um presépio; mandou trazer grande quantidade de feno, juntamente com um asno e um boi, dispondo tudo ordenadamente; reuniram-se os religiosos, chamados de diversos lugares; concorreram pessoas do povo, ressoaram vozes de júbilo por todas as partes. E o grande número de luzes e resplandecentes tochas, bem como os cânticos sonoros que brotavam dos peitos simples e piedosos converteram aquela noite num dia claro, esplêndido e festivo.

Francisco [pintura ao lado] estava diante do rústico presépio, extático pela piedade, banhado em doces lágrimas e cheio de gozo celestial.

Iniciou-se, então, a missa solene, na qual Francisco, que oficiava como diácono, cantou o Evangelho. Pregou depois ao povo e lhes falou do nascimento do Rei pobre, a quem, quando a Ele se referia, chamava, impulsionado por seu terno amor, o Menino de Belém.

Havia entre os assistentes deste ato um soldado muito piedoso e veraz que, movido pelo amor a Cristo, renunciou à milícia secular e se uniu estreitamente ao servo de Deus. Chamava-se João de Grecio, e assegurou de um modo formal ter visto no presépio, reclinado e dormindo, um Menino extremamente belo, o qual o bem-aventurado Francisco tomou em seus braços, como se docemente o quisesse despertar do sono.

Que tal visão do piedoso soldado é inteiramente certa o afirma não só a santidade de quem a teve, mas também sua veracidade; e a evidenciam os milagres que depois se realizaram. Pois o exemplo de Francisco, mesmo humanamente considerado, tem poder para excitar a fé de Cristo nos corações mais frios. E aquele feno do presépio, cuidadosamente conservado pelo povo, foi um eficaz remédio para curar milagrosamente os animais doentes, e antídoto contra muitas espécies de peste. E assim, glorificou o Senhor seu servo com todas estas maravilhas e demonstrou a eficácia de suas orações com prodígios tão evidentes”.
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(“Legenda de São Francisco de Assis”, in “Escritos Completos de San Francisco de Assis y Biografias de su época”, Biblioteca dos Autores Católicos, 1945, pp. 597-598).

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

É NATAL — O inferno ruge, a Igreja nada teme

“A Adoração dos Reis Magos” (1445) — Galeria Nacional de Arte de Washington. A pintura sobre madeira apresenta os três reis magos à frente a uma magnífica procissão (simbolizando todas as raças da humanidade) que espera sua vez para adorar o Menino Jesus. O pavão-real simboliza a Ressurreição de Cristo. Alguns especialistas afirmam que Fra Angélico (1387-1455) pintou as figuras principais e um de seus discípulos (provavelmente o monge Filippo Lippi) completou a obra.

Pe. David Francisquini  (*)

O Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo nos faz entrar na atmosfera encantadora e sublime das harmonias de um rei que assume a natureza humana no ventre virginal de Maria Santíssima por obra do Espírito Santo para redimir o gênero humano.

O que nos diz a singela, ordenada, pura e virginal cena de uma mãe que contempla seu filho que é ao mesmo tempo Deus e homem? Que olhar, que esplendor, no qual se reflete um interesse pelas mais sublimes virtudes de um brilho fulgurante!

Aquele Menino recém-nascido constitui-se o herdeiro universal de todas as coisas. Ao mesmo tempo em que é Filho do Eterno Pai, torna-se Filho da Virgem Maria. Aquele que é o esplendor, o reflexo, a imagem do Padre Eterno, recebe a carne e o sangue, ou melhor, a vida aqui na Terra, servindo-se da mais santa de todas as criaturas.

Enfim, quem é esse Menino tão terno, tão angelical, tão inocente, tão meigo e tão doce? Dirá a Mãe: Tu és o meu filho, eu te dei à luz. E o Menino se entretém num diálogo cuja melodia faz encantar a natureza inteira.

Se Eu sou o teu filho e me deste à luz, e todas as coisas vieram de minha onipotência, como, então, Eu, sendo Deus, Filho do Eterno Pai, posso unir algo que parece contradição? Teria acaso uma natureza finita, limitada o Eterno, Aquele que sempre existiu?

Meu Filho, sim, Tu és eterno, substância e sustentáculo de tudo; vieste ao mundo tomando a natureza humana para redimir essa raça perdida pelos nossos primeiros pais. Tu és o Sacerdote de uma nova lei, que é a lei da bondade cristã. Enquanto deste a vida a mim, eu Te dei a vida a Ti, pois Tu és o mais formoso de todos os filhos da raça de Adão.

Se assim é, ó Mãe, como então Aquele que é a primeira pessoa da Santíssima Trindade me diz: Tu és o meu Filho, eu hoje te gerei?

Sim, meu filho, Tu és o primogênito, o mais excelente ser que a Terra contemplou; se Tu és a substância do Pai Eterno, és também de minha substância, porque Tu vieste instalar um sacerdócio perene no mundo segundo a ordem de Melquisedec porque imolarás essa nova natureza que Te dei.

Então, Tu és, ó Mãe, a mais formosa de todas as mulheres, porque no teu fiat, no teu consentimento, soubeste imolar o Verbo de Deus, isto é, a palavra eterna que se torna homem, reunindo o infinito – Aquele que é Deus – ao finito – Aquele se fez homem, portanto duas naturezas numa só pessoa, que é a pessoa do filho. Tu és a Mãe de Deus, a mais formosa e a mais excelente das criaturas. Na manjedoura já começa o meu calvário, que é o meu sacerdócio, um culto que um Deus-Homem oferece à divindade, reparando assim, com a nova natureza que recebi de ti, o pecado que inundou a Terra.

"Adoração dos pastores",
Juan Bautista Maino (1612), Museu do Prado
 
— Sim, ó meu Deus, o teu trono, o teu cetro, é um cetro de equidade, de justiça e de amor, pois teu Nome será repetido até os confins da Terra, e reinarás no mundo inteiro, porque implantarás a religião da bondade, do perdão, da misericórdia, do heroísmo, da coragem, da fortaleza, da verdade, da fé, do zelo, da generosidade, da pureza, da virgindade.

Sendo Deus com o Pai e o Espírito Santo, Tu és também meu Filho, por pura bondade tua, e por bondade do Espírito Santo, que me desposou e operou essa obra insigne no amor de um Deus que se faz homem, da palavra eterna, isto é, o verbo de Deus que quis encerrar em meu ventre e vir à luz para espancar as trevas e inundar o mundo de grandes realizações.

Genuflexa eu Te adoro, rendo homenagens por todos os homens, pois Aquele que é criador quis também ser criatura; o que é eterno quis também ter um começo nesta Terra para implantar a religião que todos os homens devem abraçar e sem a qual não terão os meios de salvação.

De tal forma, ó Filho amado, esplendor e glória minha, que um Deus em três pessoas há de realizar em Ti algo com o qual toda a Terra há de beneficiar-se e o inferno de tremer, pois a eternidade se instalará na Terra através da Igreja que fundaste e contra cuja perenidade as portas do inferno não prevalecerão. Pode o inferno rugir, mas de nada adiantará!
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(*) Sacerdote da igreja do Imaculado Coração de Maria, Cardoso Moreira - RJ 

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Argentina: governo sem controle, oposição sem rumo, população indignada


A indignação popular contra o caos que corrói a Argentina atingiu um clímax. Sobre o futuro do país paira imensa incógnita que, em última análise, só a Providência Divina poderá resolver. 


  • Marcelo Dufaur


Batendo panelas e exibindo toda espécie de cartazes de protesto, de confecção caseira, por volta de 700.000 portenhos congregaram-se em torno do obelisco central de Buenos Aires para manifestar sua insatisfação e mesmo sua cólera em relação ao rumo nacionalista-esquerdista que a presidente Cristina Kirchner vem impondo ao país.

Tal multidão constitui a ponta de um imenso iceberg, símbolo de um país inteiro. “Panelaços” simultâneos ocorreram diante da Casa Rosada, da residência presidencial de Olivos, em bairros centrais e periféricos, bem como nas principais capitais de província da Argentina.

As queixas populares recolhidas pela imprensa abarcavam um dos mais vastos leques de descontentamentos que nossa época, entretanto repleta de absurdos, já conseguiu reunir.

A viúva do ex-presidente Kirchner vinha prolongando a obra de demolição iniciada pelo seu marido, atropelando as categorias sociais, os costumes e os símbolos mais cultuados pelos argentinos. O chamado “estilo K”, adotado pelos governos do casal Kirchner, consiste em atropelar os espíritos sem os convencer, para implantar com arrogância e vulgaridade uma Revolução Cultural e um socialismo invasor.
Gigantesca manifestação da indignação contra governo caótico da viúva Kirchner
O “estilo K” vem se servindo de uma equipe sindicalista que, segundo a opinião de correspondentes de jornais estrangeiros, assemelha-se mais a uma gangue mafiosa. Comumente conhecida como “La Cámpora”, essa equipe reúne militantes de esquerda, herdeiros revanchistas dos antigos grupos guerrilheiros marxistas ou da esquerda católica.

Sob uma bandeira nacionalista, tal equipe vinha conduzindo sistemática agressão igualitária contra as classes média e alta, as mais cultas do país, seus costumes e suas propriedades. Mas as consequências dessa investida faziam-se sentir também sobre as camadas populares: assombrosa degradação dos serviços públicos, criminalidade quase descontrolada, Judiciário aviltado e posto a serviço da prepotência esquerdista, inflação devorando ordenados e poupanças, acelerado processo de destruição da família.

Por fim, em meio a uma torrente de artifícios legais, o núcleo do poder do governo Kirchner manifestou a vontade de reformar a Constituição para reeleger a atual presidente, seguindo o sistema utilizado por Chávez na Venezuela. Como para tal reforma o governo não possui maioria, o povo argentino deu-se conta de que as formalidades legais não seriam respeitadas. Foi então que, como observou o jornal “Le Figaro” de Paris, a cólera e a saturação transbordaram na forma de maciças manifestações populares de protesto contra o conjunto de abusos esquerdistas.

Mistérios da situação argentina 
Se existe algum mistério na durabilidade do “estilo K”, não parece que deva ser procurado na famigerada gangue encravada no governo.

Seria tarefa fácil para a força oposicionista se ela quisesse apresentar uma opção viável de poder e até ficar com as rédeas do governo. Mas nem mesmo a ambição e o interesse pessoal moveram seus políticos a se mobilizarem com um mínimo de inteligência.

Resultado: no imenso “panelaço” de 8 de novembro último, também eles foram largamente apontados pelas multidões como responsáveis pelo mal-estar nacional. Os argentinos não se sentem representados pela oposição e um imenso vazio abriu-se entre o povo e os que deveriam representá-lo.

Imensa incógnita tomou corpo na Argentina. De um lado, a equipe governamental aparece ao mesmo tempo cada vez mais prepotente e cada vez mais impotente, incapaz de se conduzir em suas funções, repudiada até por muitos dos que nela votaram. De outro lado, a oposição política, sem líderes, sem ideias, sem alternativas, apenas um pouco menos repudiada pela população do que o governo. Assim, o vazio apresenta-se como a grande incógnita para o futuro.

O horizonte não seria tão pesadamente brumoso se a influência da hierarquia eclesiástica se fizesse sentir beneficamente sobre a população que, nesta encruzilhada, normalmente se volta compactamente para suas raízes católicas.

Mas, quem analisa a posição da Conferência Episcopal Argentina e do clero católico considerado em seu conjunto, depara-se com uma atitude semelhante à de uma esfinge do Egito.

Então, o que aguarda a Argentina? 
A prodigiosa desordem e a imprevisibilidade do quadro civil e religioso argentinos acena para acontecimentos futuros cada vez mais incertos, descontrolados e até contraditórios.

A insensibilidade da opinião pública argentina às propostas nacionalistas de cunho esquerdista do governo, sua desconfiança em relação à oposição, o desprestígio da esquerda católica e do clero progressista estão produzindo um descolamento sem nome. Cidadãos e políticos no campo civil, fiéis e clero no campo religioso, não mais se entendem. Predominam a insatisfação e a ebulição do temperamento popular contra todos esses fatores de desordem.

Poder-se-ia mesmo evocar uma analogia histórica: o desabamento do Império Romano do Ocidente, quando ocorreram fenômenos semelhantes de desarticulação no governo e desorganização na sociedade.

Mas há na Argentina um elemento superior que os fautores do caos atual fingem negligenciar: sua Padroeira, Nossa Senhora de Luján. D’Ela aguardamos a última palavra!


domingo, 2 de dezembro de 2012

Obama — a rachadura e a polarização


A reeleição do presidente Obama pressagia a expansão do caos em escala mundial. As profundas rachaduras abertas nos EUA favorecem o aumento do descontrole e da contradição no cenário mundial.

§   Luis Dufaur
Fonte: Revista Catolicismo, Nº 744, Dezembro/2012

Quando Barack Hussein Obama encerrou seu último meeting, na longa corrida pela reeleição, enxugou uma lágrima... O esgotamento de uma campanha insana contribuiu para trair uma grossa preocupação: o “Messias” de 2008 já não estava mais lá. O futuro se fazia pressentir doloroso e incerto.

A estreita vitória que o reelegeu deixou um país rachado, mais polarizado que nunca, com os políticos menos moderados dos dois partidos compondo as duas Câmaras em oposição.

Obter o consenso mínimo na legislação mais rotineira será difícil, observou Andy Sullivan, da agência Reuters (7-11-12). “Não haverá muita boa vontade no Capitólio”, disse o professor de história da Universidade de Princeton, Julian Zelizer. A polarização crescente manifestada na eleição tornará mais difícil governar o gigante acometido por violentas crises internas e externas.

Malgrado a vitória final, as perdas democratas foram notórias e Obama governará um país rachado não só política e ideologicamente, mas também social, étnica, geográfica, moral e religiosamente.

“A polarização já foi mais extrema em alguns períodos do século XIX e nos anos 1930” [da Grande Depressão], lembra o historiador Alexander Keyssar, de Harvard, mas “em nenhuma dessas vezes as instituições do governo ficaram tão paralisadas como agora”. E especificou que as trincheiras que dividem os EUA hoje são entre radicais e centristas dentro de cada partido; mais do que entre a esquerda democrata e a direita republicana.

Como conciliar o irreconciliável?

“Vitória sem folga” obriga o presidente americano a procurar a cooperação da oposição, comentou “O Globo” (8-11-12), mas esta “manteve a maioria na Câmara e saiu rancorosa das urnas com 57 milhões de votos”.

No Senado, o presidente terá o apoio de uma maioria democrata ampliada, porém posicionada mais à esquerda, com a presença pela primeira vez de uma senadora assumidamente homossexual.

“O pragmatismo deve levar Obama para o centro no 2º mandato”, escreveu Peter Baker, de “The New York Times”. Mas onde está esse centro, do qual os políticos mais populares dos dois partidos desertam, migrando para os extremos? Quem ou que fator poderá resolver o dilema de Obama?

Para o Prof. Zbigniew Lewicki, diretor do Departamento de Estudos Americanos da Universidade Cardeal Stefan Wyszyński, de Varsóvia (Polônia), do ponto de vista europeu, Obama “não correspondeu às expectativas geradas há quatro anos” e “voltou as costas à Europa” (“Gazeta Wyborcza”, 8-11-12). Porém — acrescentou — o único governo que “pode deleitar-se com a vitória de Obama” é o da Rússia. Justamente o inimigo visceral dos EUA. Isto por certo não é uma vitória americana, e não traz boas notícias para um futuro mediato.

As rachaduras morais acentuaram-se em vários plebiscitos que costumam ocorrer simultaneamente às eleições presidenciais. Até o momento das eleições, na totalidade dos estados em que fora posto em votação, o “casamento” homossexual havia sido recusado pela maioria. Mas desta vez, três estados o aprovaram: Maryland, Maine e Washington. Também o uso e a venda de maconha obtiveram aprovação em Colorado e Washington, embora tenham sido rechaçados no Oregon. A lei federal considera a maconha como narcótico ilegal e preveem-se atritos legais que podem até inviabilizar as aprovações.

Cambaleios e incertezas no horizonte

O segundo mandato de Obama começa com aspectos próprios de uma situação cambaleante do ponto de vista interno dos EUA. Essa crescente rachadura interna não poderá deixar de ter graves reflexos nas relações internacionais.

Quem no cenário internacional poderá equilibrar o gigante americano quando este começar a oscilar num sentido ou noutro de acordo com disputas internas? Na verdade, o resto do mundo aguardava respostas claras por parte dos EUA, pois sem o concurso dessa imensa nação as grandes economias mundiais, especialmente as europeias, não poderão dominar as rotações que as fazem dançar à beira de abismos assustadores.

Cavalgando sobre um gigante rachado, polarizado e absorvido por conflitos culturais, morais e religiosos internos, Obama não poderá realizar ações significativas no exterior. E então as bússolas dos países civilizados parecerão viciadas. A indicação de um rumo tornar-se-á cada vez mais obra de adivinhação, impossível até, talvez, para os políticos mais experimentados.

Nesse caso, quem poderá ganhar com a paralisia e/ou o enlouquecimento das bússolas do Ocidente?

No Oriente, a China se prepara de um modo assaz confuso, atormentado e incerto, para se projetar como a primeira potência mundial.

Nas condições em que se deu, a vitória de Obama deve ter sido recebida em Pequim como prenúncio da realização da hegemonia marxista chinesa no mundo preconizada por Mao Tsé-tung.

Mas quem arriscará garantir qualquer coisa considerando-se a obscura luta pela sucessão interna na China comunista e os crescentes focos de rebeldia popular contra o governo?

A única coisa certa é que a vitória eleitoral de Obama preanuncia horizontes ameaçadores para a estabilidade mundial.
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Luxemburgo: 
esplendor nobre.

Eleições americanas
vulgaridade demagógica.

Num clima de dignidade e proporcionado esplendor, Guilherme, príncipe-herdeiro de Luxemburgo, contraiu núpcias com a condessa belga Stephanie de Lannoy. O casamento nas famílias reinantes traz a promessa de continuidade da monarquia e estabilidade da nação. Mas certa mídia malévola que se diz amante da democracia tentou desmoralizar a solenidade alegando que a despesa — 350.000 euros — era incompatível com a atual época de crise.
Pouco depois, segundo o Center for Responsive Politics, as eleições presidenciais americanas consumiram seis bilhões de dólares, 13% a mais que o recorde atingido na eleição de 2008 e certamente destinado a ser superado em 2016... O dinheiro público e privado gastado em eleições paga amiúde explosões de demagogia e mau gosto. Onde reside no seu melhor sentido o espírito democrático? Onde o povo é elevado pela tradição e dignificado pelo requinte nobiliárquico, ou onde é rebaixado com exibições de vulgaridade e demagogia?

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Democracia vai se extinguindo na União Europeia

A tendência de estender os poderes da União Europeia (UE), com pretexto de tirá-la da crise, caracteriza a “fase final” da destruição da democracia e dos estados nacionais, alertou Václav Klaus, presidente da República Checa, país membro da UE. Klaus foi um dos líderes do movimento que derrubou o comunismo em seu país e agora denuncia a UE, porque nela os países “vão se tornando uma província inexpressiva”. “É uma ironia da História” – acrescentou. “Nunca teria imaginado em 1989, que hoje estaria fazendo isto: pregar os valores da democracia”. Compreende-se por que muitos cidadãos europeus adotem o slogan “União Europeia = União Soviética”.
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Agência Boa Imprensa (ABIM)

Austrália: Parlamento rejeita “casamento” homossexual

O Parlamento nacional australiano repeliu o projeto de “casamento” homossexual: 98 deputados votaram contra e 42 a favor. Foi significativo que o senador assumidamente homossexual Dean Smith votasse contra, justificando seu voto como “um honesto reconhecimento das características únicas e especiais da união chamada ‘casamento’” entre um homem e uma mulher. Os ativistas militantes homossexuais tinham ilusões com o estado da Tasmânia, mas ali o projeto foi também repelido. Os partidários do projeto alegavam que o “casamento” homossexual atrairia milhões de dólares em rendas turísticas. Os “casais” homossexuais sem continuidade familiar gastariam seus recursos materiais em divertimentos antes de acabar prematuramente suas vidas em virtude de maus hábitos contraídos.
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Agência Boa Imprensa (ABIM)

sábado, 24 de novembro de 2012

As aves do céu e os lírios dos campos


Pe. David Francisquini  (*)

Já revelei em outras ocasiões aos meus leitores o apreço que tenho pela vida campestre, a qual sempre nos remete à contemplação da arquitetonia do universo e aos ensinamentos de Jesus Cristo que estão contidos nas páginas dos Santos Evangelhos. Basta pensar na descrição tão poética quanto apropriada sobre as aves do céu e os lírios do campo.

Com a força física que lhe é própria, o homem prepara a terra e lança a semente, na esperança de tirar do seu trabalho o alimento material de cada dia. Com a sua força da vontade, ele deve procurar com afinco a luz, para entender a realidade mais profunda contida nas Sagradas Letras, haurindo assim sustento espiritual ao longo da vida terrena.

Nosso Senhor nos ensina: “Por que vos inquieteis com o que comereis e com o que vestireis? Olhai os lírios dos campos como crescem, não trabalham e nem fiam. Eu vos digo, pois, nem Salomão com toda sua glória se vestiu como um deles. Se Deus trata assim a erva do campo que hoje existe e amanhã é lançada ao fogo, o que fará por vós, homens de pouca fé?”. 

Ao falar assim da vestimenta que nos cobre e do alimento que nos sustenta, Nosso Senhor condena a inquietação que muitas vezes nos aflige quando nos entregamos ao desejo insaciável de riquezas. De si a riqueza não é má. Jesus Cristo apenas desaprova a inquietação, ou seja, a impaciência com a qual muitas pessoas procuram tais bens.

Quis Nosso Senhor nos instruir que não podemos servir ao mesmo tempo a dois senhores, a riqueza e a Deus. Nesse preceito se resume a conduta do homem neste vale de lágrimas: luta entre a luz e as trevas, entre o bem e o mal, entre o amor e o ódio; luta entre aqueles que pertencem à raça da Virgem e os que são da raça da Serpente.

Para Santo Agostinho, a Cidade de Deus é edificada no amor de Deus levado até ao esquecimento de si mesmo, enquanto a Cidade do Demônio é arquitetada sobre o amor de si mesmo até o esquecimento de Deus. Se colocarmos em primeiro lugar a cobiça dos bens terrenos, os sentidos ficarão destemperados, a inteligência obscurecida e abalada a nossa fé.

Deus toma exemplos inocentes – as aves do céu e os lírios dos campos – para introduzir no coração do homem valores mais altos. Ele fala dessas coisas para mover as almas no sentido de elevar os seus corações às sublimidades da vida divina.

Se Salomão com suas vestes foi superado pelas flores, ele que foi o mais rico dos reis, o que pensar de nós? Ponderam os Santos Padres que Salomão foi superado pelas flores em formosura não por um curto espaço de tempo, mas durante todo o seu reinado, para significar que nem um dia de Salomão superou as flores em beleza e esplendor.

Enquanto as roupas do rei Salomão eram tecidas por alguém que compreendia e conhecia a beleza dos trajes, o adorno com que Deus enriqueceu os lírios representa a claridade dos anjos dos Céus como luz reflexa da própria glória de Deus, sempre a nos inspirar a confiança de um dia estarmos igualmente revestidos dessa mesma luz.
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(*) Sacerdote da igreja do Imaculado Coração de Maria, Cardoso Moreira - RJ 

sábado, 17 de novembro de 2012

Rússia: bebês abortados transformados em cosméticos

A polícia russa encontrou 248 fetos humanos abortados em um bosque de Sverdlovsk, nos Urais. Elena Mizulina [foto], presidente da Comissão pela Família, Mulheres e Infância da Duma (Câmara russa), denunciou a existência de uma rede que comercializa esses fetos para a produção de cosméticos. Trata-se, segundo Mizulina, de corpos abortados além do prazo legal. “Todos os anos são praticados entre 5 e 6 milhões de abortos na Rússia, além do prazo autorizado pela lei”. As estatísticas oficiais falam de “apenas” 1,2 milhão de abortos anuais. Como na Rússia só nascem por ano 1,7 milhão de crianças – número insuficiente para repor a população –, o país vem se despovoando.
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Agência Boa Imprensa (ABIM)

Filmes revelam horrores de genocídios chineses

O cineasta Wang Bing [foto] produziu dois filmes sobre os capítulos mais sinistros da revolução socialista chinesa: a) a campanha de 1957 contra os “direitistas”, que deportou centenas de milhares de chineses para campos de concentração onde os prisioneiros morriam como moscas, de frio, esgotamento e maus tratos; b) o chamado “Grande Salto Adiante”, em que a fome matou entre 20 e 30 milhões de pessoas. Até hoje está proibido na China falar desses massacres, descritos em termos idílicos pelas esquerdas do Ocidente. Os filmes de Wang Bing rompem esse sigilo criminoso. O extermínio de pessoas, onipresente na China, exige um meticuloso julgamento internacional.
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Agência Boa Imprensa (ABIM)

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Carta ao Papa, escrita por um ex-islamita convertido ao catolicismo

Mesmo perseguidos, católicos recebem a comunhão no Sudão, país de religião predominantemente muçulmana

“Caro Papa: Acolhei no Vaticano os muçulmanos convertidos a Jesus” 

(Mensagem do eurodeputado Magdi Cristiano Allam(*) ao Papa Bento XVI, publicada no “Il Giornale” de Roma em 15-10-12)

Peço ao Papa que teve a coragem de conceder-me o batismo [foto ao lado], vencendo o medo da vingança islâmica e a resistência interna da Igreja, de acolher-me junto com uma delegação de muçulmanos convertidos ao cristianismo na Europa e no mundo.

A ideia, que eu aceitei imediatamente com entusiasmo, é de Mohammed Christophe Bilek, franco-argelino que fundou a associação Notre Dame de Kabyla.

Através do site www.notredamedekabylie.net, ele promove uma missão para a conversão dos muçulmanos ao cristianismo por meio de um diálogo baseado na certeza da nossa fé e na exortação constante de Jesus: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura” (Marcos 16:15-18).

Após o batizado (foto acima),
Magdi Allam faz a Primeira Comunhão
Embora o fenômeno esteja envolto na discrição, tornando, portanto, difícil informá-lo com certeza, pode-se afirmar a partir de diversas fontes que seriam muitíssimos os muçulmanos que abraçam a fé de Jesus Cristo.

Em 2006, entrevistado pela [televisão] Al-Jazeera, o xeque Ahmad al-Qataani deu estes números: “A cada hora, 667 muçulmanos se convertem ao cristianismo. A cada dia, 16 mil muçulmanos se convertem ao cristianismo. A cada ano, 6 milhões de muçulmanos se convertem ao cristianismo”.

Falando ontem em Paris, Bilek disse que até na Arábia Saudita, berço do Islã e reduto dos dois principais lugares de culto islâmico, haveria 120.000 muçulmanos convertidos ao cristianismo.

Os dados de 2008 indicam que os muçulmanos convertidos somavam 5 milhões no Sudão, 250 mil na Malásia, mais de 50 mil no Egito, de 25 a 40 mil no Marrocos, 50 mil no Irã, 5 mil no Iraque, 10 mil na Índia, 10 mil no Afeganistão, 15 mil no Cazaquistão e 30 mil no Uzbequistão.

Estive em Paris neste fim de semana, para pronunciar uma palestra intitulada “A Europa e suas raízes face à perseguição da cristianofobia”, organizada pelas associações Tradição Família e Propriedade, presidida por Xavier da Silveira, e Chrétienté-Solidarité, fundada por Bernard Antony.

Era o dia seguinte ao anúncio da atribuição do Prêmio Nobel da Paz à União Europeia. Que escândalo, no momento em que a União Europeia está alinhada na Síria com os extremistas islâmicos que estão perpetrando ao pé da letra um genocídio contra os cristãos!

No fim da tarde, na praça em frente à igreja de Santo Agostinho, junto com um argelino berbere que também se converteu, participei de uma vigília de oração e solidariedade com os cristãos perseguidos.

Em meu discurso, ousei fazer esta previsão:
“Quanto mais vou adiante, mais olho em volta, mais valorizo tudo, mais estou convencido de que o futuro da civilização laica e liberal, da democracia e do Estado de Direito, vai depender de sua capacidade de tomar distâncias em relação ao Islã enquanto religião, sem discriminar os muçulmanos enquanto pessoas. 
“Eis por que fico cada vez mais convencido de que seremos salvos pelos cristãos que fugiram da perseguição islâmica. Só quem já experimentou pessoalmente a tirania islâmica saberá convencer o Ocidente sobre a verdade do Islã. 
“Aqueles que se mantiveram firmes na fé de Jesus Cristo derrotarão o Islã, salvarão o Cristianismo neste Ocidente descristianizado e salvarão nossa civilização. Obrigado, Jesus”. 
E, imediatamente após a minha palestra, diante de 500 pessoas que testemunham a resistência do cristianismo, Bilek me fez o convite para promover uma associação que reúna os muçulmanos convertidos ao cristianismo em toda a Europa.

Para mim, a ideia de ser classificado de “ex”-muçulmano verdadeiramente não me agrada. Sinto-me e quero ser considerado exclusivamente cristão, do mesmo modo que sou orgulhosamente italiano, embora de origem egípcia.

Mas faço meu o conteúdo da mensagem: é preciso dar à luz uma instituição que encoraje os muçulmanos a superarem o medo, para serem batizados publicamente, para viverem abertamente sua nova fé.

Nós dois estamos cientes de que o verdadeiro problema provém dos cristãos natos, porque eles são os primeiros a terem medo. São inúmeras as denúncias de muçulmanos que gostariam de receber o batismo, mas que sofrem a recusa de padres católicos, os quais não querem violar as leis dos países islâmicos que proíbem e punem com prisão — e por vezes com a morte — tanto quem faz o trabalho de proselitismo como quem incorre no “crime” de apostasia.

É paradoxal que enquanto as igrejas vão se esvaziando cada vez mais, a ponto de serem colocadas à venda e acabarem se transformando em mesquitas, a Igreja bloqueie a conversão de muçulmanos ao cristianismo.

É por isso que apelo ao Santo Padre: acolha no Vaticano os convertidos ao cristianismo, a fim de enviar uma mensagem forte e clara a todos os pastores da Igreja em favor da evangelização dos muçulmanos. Serão eles que nos libertarão da ditadura do relativismo religioso que nos obriga a legitimar o Islã, que restaurarão entre nós a fé sólida na verdade em Cristo, e que salvarão a nossa civilização laica e liberal que, gostemos ou não, está baseada no cristianismo.
(*) Magdi Cristiano Allam: Nascido no Cairo (Egito) em 1952, de pais muçulmanos, Magdi Allam estudou com os padres salesianos. Emigrou em 1972 para Roma, onde se licenciou em sociologia pela Universidade La Sapienza. Trabalhou nos jornais “Il Manifesto”, “La Repubblica”, foi vice-diretor do “Corriere della Sera”. Considerado um dos muçulmanos mais influentes da Europa, recebeu ameaças de morte por suas posições contrárias ao terrorismo islâmico. O conceituado jornalista é autor de uma dezena de livros. Estudou longamente o Cristianismo e convenceu-se de sua veracidade. Em 23 de março de 2008, durante a cerimônia da vigília pascal, recebeu na Basílica de São Pedro o batismo das mãos do Papa Bento XVI — ocasião em que acrescentou Cristiano a seu nome. Sua conversão ao catolicismo teve repercussão mundial. Atualmente, o ex-islamita é deputado do Parlamento Europeu e preside o movimento político, por ele fundado em 2011, Io Amo l´Italia (Eu amo a Itália).

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

COLÔMBIA: As capitulações secretas jamais nos conduzirão a uma verdadeira paz


Ante as negociações com a guerrilha marxista: 
As capitulações secretas jamais nos conduzirão a uma verdadeira paz
O presidente Juan Manuel Santos quer nos impor uma nação desenhada pelos subversivos. Isto é, a rendição de 44 milhões de colombianos à vontade de um grupo minúsculo de delinquentes. Uma guerrilha derrotada, rechaçada pela imensa maioria dos colombianos, que não fez senão martirizar com seus crimes o povo colombiano, pretende ganhar na mesa de negociações o que nunca obteve com a luta armada. 


A Colômbia ficou desconcertada diante do recente anúncio presidencial que dá oficialmente início ao um novo Processo de Paz com as guerrilhas marxistas. Este acordo vinha sendo gestado sigilosamente há mais de dois anos, desde o momento da eleição do Dr. Juan Manuel Santos à Presidência da República, ou talvez antes.

Este impactante anúncio pode mudar irrevogavelmente o destino de nossa Pátria, gerando nefastos efeitos para os países vizinhos, afetados também pela narcoguerrilha terrorista. Por tal motivo, a Sociedad Colombiana Tradición y Acción não pode deixar de chamar a atenção do País, para que não se proceda com ligeireza e irreflexão diante de um assunto de tanta importância.

A negociação com as guerrilhas: um falso conceito de paz
De 1982 a 2002, todos os governos que se sucederam no Palácio de Nariño levaram a cabo ingênuos processos de paz com os grupos guerrilheiros. É evidente que esses fatídicos 20 anos foram marcados pelo fracasso estrondoso de todas as negociações de paz, e só conduziram ao aumento da violência, ao fortalecimento do narcoterrorismo, ao amedrontamento da sociedade, à pseudolegitimação do status guerrilheiro-terrorista e à desesperança de um imenso setor da opinião do País. 

Quanto mais concessões se faziam aos guerrilheiros com o pretexto de conseguir a tão anelada paz, maiores eram suas insolências e crimes. Na memória de todos os colombianos ficaram para sempre gravados os episódios dantescos do assalto ao Palácio de Justiça realizado pelo M-19, quando todos seus militantes haviam sido indultados, e também os não menos oprobriosos dias da desmilitarização de El Caguán, região que se converteu no epicentro do sequestro, do crime, do terrorismo e do narcotráfico durante o anterior processo de paz empreendido com as Farc.

Entretanto, esse panorama desolador mudou radicalmente a partir do ano 2002, quando o País se cansou de tantas capitulações. Decidiu eleger por dois períodos sucessivos ao ex-presidente Uribe, que prometeu, e cumpriu, desenvolver uma política de segurança para os colombianos, fazendo abstração do pernicioso sistema de continuar capitulando para conseguir a paz. Não é este o momento de analisar os acertos e desacertos desse governo, mas toda a Colômbia reconhece que nesses oito anos voltamos a ser um país seguro, recuperamos a credibilidade internacional, enquanto o desenvolvimento e o progresso legítimos invadiram todos os quadrantes da geografia nacional.

Esses resultados em matéria de autêntica pacificação fizeram com que a imensa maioria dos colombianos elegesse presidente ao então Ministro da Defesa, no qual viam o legítimo continuador da obra de um governo que nos conduzia pelo melhor dos caminhos. Isso levou o Dr. Juan Manuel Santos a ser respaldado nas urnas por mais de nove milhões de votos, o equivalente a mais de 60% dos eleitores.

Em embargo – oh surpresa! – em vez da atitude firme e clara do governo anterior, com grande desconcerto voltamos ao mesmo sistema de negociações que fora a fonte das desgraças e tragédias vividas pela Colômbia nas últimas décadas. Escolhido para continuar no caminho que tantos benefícios nos trouxera, o presidente Santos decide tomar a via contrária obrigando-nos a regressar a uma situação que a imensa maioria dos colombianos não quer.

Para onde quer nos levar o atual governo com estas negociações? Não nos esqueçamos de que o conceito de paz dos marxistas é muito diferente do nosso. Para eles, falar de paz é um meio para alcançar o poder, uma forma de luta, uma estratégia de conquista revolucionária. A paz e o diálogo são os nomes disfarçados que os marxistas dão à sua guerra contra a civilização cristã.

Enquanto a paz que todos anelamos é fruto sagrado da justiça e se obtém num contexto de profundo respeito pela tradição, pela família e pela propriedade, os guerrilheiros são movidos pelo ódio que a doutrina marxista professa contra estes valores sagrados da Civilização Cristã. A paz que eles desejam não é a “tranquilidade da ordem”, como a define Santo Agostinho e toda a Colômbia a deseja, mas, muito pelo contrário, é um estado político que lhes permita conquistar o poder, submeter a sociedade, dominar as pessoas e as instituições, e impor pela força um regime anarcocomunista: Que ninguém se engane: esta é a sua meta final! 

É muito eloquente a afirmação do ilustre pensador brasileiro, Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, grande estudioso da Guerra Psicológica Revolucionária: “Sempre que haja, em qualquer tempo e em qualquer lugar, um confronto diplomático entre belicistas delirantes e pacifistas delirantes, a vantagem ficará com os primeiros e a frustração com os segundos” (Plinio Corrêa de Oliveira,“Churchill, o avestruz e América do Sul”, “Folha de S. Paulo”, 31-1-1971).

Uma repetição dos erros do passado
Mas vejamos quais foram as ingenuidades e as cegueiras que nos levaram ao fracasso nas anteriores conversações com as Farc e os demais grupos terroristas e que agora se repetem ponto por ponto:

  • Os grupos subversivos nunca entregaram as armas nem abjuraram de seus métodos. 
  • Em nenhum caso eles liberaram as centenas de compatriotas sequestrados, nem se comprometeram a não voltar a sequestrar ninguém. É inadmissível que o presidente dos colombianos aceite a afirmação cínica deles, de que não têm sequestrados. 
  • Nunca se comprometeram a deixar de praticar atos de terrorismo contra a população civil. 
  • Matavam e feriam diariamente policiais e soldados. 
  • Jamais deixaram de fazer terrorismo contra as populações indígenas e camponesas, nem de recrutar seus meninos para a guerra. 
  • Quanto mais acordos se firmavam, tanto maior era a intimidação dos grupos armados contra as instituições políticas, judiciais e governamentais do País. 
  • Os governos de turno terminaram aceitando todas as condições impostas pela guerrilha  embora esta não cumprisse com nenhum dos acordos firmados. 
  • Tampouco renunciaram à sua atividade criminosa de primeiro cartel do narcotráfico na Colômbia, que por sua vez gera imensos recursos ilegais e clandestinos que foram o principal motor da guerra promovida por eles contra o Estado e a sociedade colombiana. Também é inadmissível aceitar que as Farc não tenham nada que ver com o narcotráfico. 


 O Estado colombiano executou imensas reformas que supostamente nos conduziriam à obtenção da tão anelada paz. Reformou a Constituição Política; transformou a Justiça; concedeu status político aos guerrilheiros; nomeou-os para incontáveis cargos públicos; permitiu que chegassem a cargos de eleição popular; desmilitarizou regiões inteiras como El Caguán; suspendeu muitas operações militares contra os grupos terroristas; indultou os crimes cometidos por estes; judicializou e prendeu milhares de integrantes das Forças Armadas baseado em rumores e falsas acusações lançados por uma insidiosa e mal-intencionada força política que a partir dos mais altos escalões judiciais se dedica a fazer guerra à Polícia e ao Exército a fim de paralisar e desmoralizar as Forças Armadas, que têm o dever de combatê-los.

Um novo Caguán onde se negocia o futuro da Colombia
Regressaremos aos oprobriosos dias em que o Estado era destruído por uma guerrilha que enquanto falava de paz nas mesas de negociação empunhava armas em todas as cidades da Colômbia? Não o sabemos. Mas se forem cometidos os mesmos erros do passado, é evidente que até lá chegaremos de novo, com a cumplicidade de todos aqueles que hoje aplaudem este novo processo com entusiasmo incondicional. Eles supõem que desta vez o governo e a guerrilha atuam de boa fé, quando é evidente que este honrado princípio de negociação foi o primeiro desterrado de todos os processos anteriores, e o será também, muito provavelmente, do atual.

Agora não estaremos entregando El Caguán, um pedaço de 40.000 km2 de um território selvático afastado dos polos de desenvolvimento da Colômbia, mas algo que terá consequências ainda mais trágicas. Voltando as costas para a opinião pública, envolto num segredo misterioso, e com o aplauso incondicional de muitos detentores de autoridade política, econômica e religiosa, pretende-se desenhar um novo Estado segundo as exigências da subversão marxista. Em troca de uma suposta paz, não se entrega um pequeno território, mas o futuro da Colômbia! 

O nefasto exemplo de Kerensky 
Não desejamos que o presidente Juan Manuel Santos passe para a História com o epíteto do malogrado ex-presidente Eduardo Frei Montava, conhecido como o “Kerensky chileno” por ter preparado o caminho para o marxista Allende. Foi a repetição do que fizera Alexander Kerensky na Rússia em relação aos bolcheviques, permitindo a chegada deles ao poder. Que Deus livre a Colômbia de tamanha desgraça!

Tradición y Acción torna público este documento para alertar o governo e todos os colombianos, especialmente essa imensa maioria que está sendo posta de lado neste processo de negociação com as Farc. Quer-se fazer crer à opinião pública da Colômbia que este é o único caminho de pacificação, tantas vezes fracassado pelos enganos da guerrilha. E isto no preciso momento em que esta se encontra a ponto de ser derrotada e o país manifesta importantíssimos sinais de prosperidade, desenvolvimento e pacificação.

Como católicos, ao terminar estas considerações nos dirigimos à augusta presença de Nossa Senhora de Chiquinquirá, insigne Padroeira da Colômbia. Suplicamos-Lhe não permitir que nossa Pátria seja demolida por uma minoria marxista que durante décadas a traumatizou com seus crimes e sua ação terrorista, e que com o beneplácito do governo pretende impor-nos sua tirania sob o pretexto mentiroso de que é a única forma de conseguir a paz.


Bogotá, 19 de outubro de 2012 
Sociedad Colombiana Tradición y Acción










(*) Manifesto publicado no "El Tiempo", de Bogotá, em 19-10-2012.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Revolução gramsciniana: novo conceito de família


Heitor Buchaul  (*)

O famigerado teórico comunista italiano Antônio Gramsci (1891-1937) desenvolveu o conceito de que a tomada do poder deveria ser precedida por uma mudança na mentalidade das pessoas.

Com essa nova visão, os intelectuais passam a ser os combatentes, o ensino se torna a arma mais importante, e a escola se transforma no campo de batalha.

Para Gramsci, as massas deveriam livrar-se dos “preconceitos e tabus” que faziam parte da visão do mundo da classe dominante.

Não é preciso ser um grande intelectual ou um sociólogo para concluir que, a partir de uma análise da situação atual, o ensino vem se tornado cada vez mais gramsciniano. Exemplo disso são as cartilhas de educação sexual difundidas em diversos países, bem como a questão do gênero, segundo a qual as crianças de ambos os sexos devem ter entre si um tratamento indefinido e igualitário livre de todo paradigma, e possam escolher livremente a própria sexualidade e o modo de vivê-la.

É interessante analisarmos nesse contexto a crítica feita pela atual ministra dos direitos das mulheres e porta-voz do governo francês, Najat Vallaud-Belkacem, de origem marroquina, sobre os manuais escolares: "Hoje, esses manuais ignoram obstinadamente a orientação LGBT (lésbicas, gays, bi e trans) de figuras históricas ou autores, mesmo quando essa orientação explica uma grande parte de seu trabalho, como no caso de Rimbaud [...] seria útil para as famílias homoparentais serem representadas nas campanhas de comunicação do governo em geral, a fim de banalizar esse fato, tornando-o mais popular." 

A ministra sabe bem que defender isso no seu país de origem ou nos demais países islâmicos é simplesmente impensável. E que é este um dos pontos pelos quais os muçulmanos caçoam do Ocidente e ameaçam conquistá-lo, pois nele todas as aberrações não são apenas permitidas, mas são punidos aqueles que ousam agir em sentido contrário...

A ministra promete recorrer à Missão Interministerial de Vigilância e Luta Antisectária (Miviludes) “para pôr fim a estes verdadeiros abusos que são as ‘terapias de transição’”. Essas terapias, que podem evitar que pessoas com tendência homossexual caiam no abismo moral.[1]

Por fim, ela acrescenta: “A França sustentará o discurso político pela despenalização universal da homossexualidade e vamos colocar nosso aparelho diplomático em movimento para exigir uma resolução das Nações Unidas neste sentido. Vou trabalhar em nível europeu para que a União Europeia adote medidas e orientações contra a homofobia”.

Este discurso da ministra reflete o pensamento dos pretensos defensores da democracia e da liberdade, para os quais uma pessoa não tem o direito de tentar reverter a sua tendência desordenada, mas o Estado, sim, tem o dever de empregar sua máquina para mudar a maneira de pensar dos cidadãos, forçando-os a aceitar o novo tipo de “família” que se quer implantar. São palavras dignas daqueles mesmos revolucionários que, para derrubar o trono e o altar, gritavam: “igualdade, liberdade, fraternidade ou morte”, porém transpostas para o século XXI, onde o objetivo é liquidar de vez com a instituição da família através de um incentivo constante às relações estéreis e antinaturais.

A isso muito se presta a teoria gramsciniana, que propõe através do ensino mudar as concepções e mentalidades tradicionais, criando novas gerações totalmente vulneráveis aos erros revolucionários e prontas para realizar o velho sonho dos inimigos de Deus, ou seja, a destruição da própria Humanidade.
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[1] O que causa indignação à ministra, talvez indignasse também o ex-presidente da mesma Miviludes, que está ameaçado pela Justiça com prisão por caluniar leviana e gravemente a Sociedade Francesa de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP).

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(*) Heitor Buchaul é colaborador da Agência Boa Imprensa (ABIM)