sábado, 24 de novembro de 2012

As aves do céu e os lírios dos campos


Pe. David Francisquini  (*)

Já revelei em outras ocasiões aos meus leitores o apreço que tenho pela vida campestre, a qual sempre nos remete à contemplação da arquitetonia do universo e aos ensinamentos de Jesus Cristo que estão contidos nas páginas dos Santos Evangelhos. Basta pensar na descrição tão poética quanto apropriada sobre as aves do céu e os lírios do campo.

Com a força física que lhe é própria, o homem prepara a terra e lança a semente, na esperança de tirar do seu trabalho o alimento material de cada dia. Com a sua força da vontade, ele deve procurar com afinco a luz, para entender a realidade mais profunda contida nas Sagradas Letras, haurindo assim sustento espiritual ao longo da vida terrena.

Nosso Senhor nos ensina: “Por que vos inquieteis com o que comereis e com o que vestireis? Olhai os lírios dos campos como crescem, não trabalham e nem fiam. Eu vos digo, pois, nem Salomão com toda sua glória se vestiu como um deles. Se Deus trata assim a erva do campo que hoje existe e amanhã é lançada ao fogo, o que fará por vós, homens de pouca fé?”. 

Ao falar assim da vestimenta que nos cobre e do alimento que nos sustenta, Nosso Senhor condena a inquietação que muitas vezes nos aflige quando nos entregamos ao desejo insaciável de riquezas. De si a riqueza não é má. Jesus Cristo apenas desaprova a inquietação, ou seja, a impaciência com a qual muitas pessoas procuram tais bens.

Quis Nosso Senhor nos instruir que não podemos servir ao mesmo tempo a dois senhores, a riqueza e a Deus. Nesse preceito se resume a conduta do homem neste vale de lágrimas: luta entre a luz e as trevas, entre o bem e o mal, entre o amor e o ódio; luta entre aqueles que pertencem à raça da Virgem e os que são da raça da Serpente.

Para Santo Agostinho, a Cidade de Deus é edificada no amor de Deus levado até ao esquecimento de si mesmo, enquanto a Cidade do Demônio é arquitetada sobre o amor de si mesmo até o esquecimento de Deus. Se colocarmos em primeiro lugar a cobiça dos bens terrenos, os sentidos ficarão destemperados, a inteligência obscurecida e abalada a nossa fé.

Deus toma exemplos inocentes – as aves do céu e os lírios dos campos – para introduzir no coração do homem valores mais altos. Ele fala dessas coisas para mover as almas no sentido de elevar os seus corações às sublimidades da vida divina.

Se Salomão com suas vestes foi superado pelas flores, ele que foi o mais rico dos reis, o que pensar de nós? Ponderam os Santos Padres que Salomão foi superado pelas flores em formosura não por um curto espaço de tempo, mas durante todo o seu reinado, para significar que nem um dia de Salomão superou as flores em beleza e esplendor.

Enquanto as roupas do rei Salomão eram tecidas por alguém que compreendia e conhecia a beleza dos trajes, o adorno com que Deus enriqueceu os lírios representa a claridade dos anjos dos Céus como luz reflexa da própria glória de Deus, sempre a nos inspirar a confiança de um dia estarmos igualmente revestidos dessa mesma luz.
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(*) Sacerdote da igreja do Imaculado Coração de Maria, Cardoso Moreira - RJ 

2 comentários:

Unknown disse...

Se o Divino Mestre, em Sua existência terrena tivesse vivido no Brasil, certamente diria: "Olhai o ipê..."

Anônimo disse...

A cidade moderna com metrôs, cinemas, shoppings, plays-centers e coisas quejandas, procura nos arrancar esse sentido do maravilhoso. Negar as maravilhas da criação que Deus,Nosso Pai, nos proporciona, é rejeitar o Paraíso que Nosso Senhor nos quer dar na sua infinita misericórdia no fim do nosso caminho. Recomendo-me às orações do Pe. David Francisquini.