quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Kerenskismo obamista-lulista e Honduras: “eixo da moderação” a serviço do “eixo do mal”

Zelaya utiliza-se da embaixada brasileira em Tegucigalpa como palanque, fazendo comício para seus sequazes (partidários de Hugo Chávez), o que poderá levar Honduras a uma guerra civil. Se ocorrer derramamento de sangue o governo brasileiro poderá ser responsabilizado.


* Armando Valladares


O Palácio do Itamaraty, a chancelaria brasileira outrora reconhecida por sua habilidade, tato e inteligência, contribuindo para criar um inédito “governo paralelo” pró-chavista em sua embaixada em Tegucigalpa, empurrou o “moderado” presidente Lula no olho de um imprevisível furacão, o qual, diante de Deus e da História, o torna responsável direto pelo que possa acontecer em Honduras.

O Palácio do Itamarary, a chancelaria do “moderado” presidente do Brasil, Sr. Lula da Silva, ao autorizar o ingresso em sua embaixada em Tegucigalpa do deposto presidente pró-chavista Zelaya como “hóspede” e não como “exilado”, se envolveu nos assuntos internos de Honduras da maneira mais brutal e menos diplomática possível. Contribuiu dessa maneira para criar em Honduras um inédito “governo paralelo” pró-chavista, sob o amparo da extra-territorialidade.

Embaixada brasileira em Honduras transformada em "casa da sogra" por Zelaya e seus partidários

Tal como advertem analistas brasileiros, a diplomacia do Itamaraty, outrora reconhecida por sua habilidade, tato e inteligência, acaba de empurrar Lula, talvez inadvertidamente, para o olho de um imprevisível furacão que pode afetar o perfil de "moderação", “conciliação”, “diálogo” e “espírito democrático” que esteve esgrimindo nos últimos anos. E, sobretudo, o torna responsável direto, diante de Deus e da História, pelo que possa acontecer em Honduras.

De fato, intervindo dessa maneira nos assuntos internos de Honduras, a diplomacia do Itamaraty passa a assumir a culpa direta pelas conseqüências de sua decisão de usar sua embaixada para hospedar o presidente deposto e criar um “governo paralelo”; responsável, inclusive, por atos de violência e até de sangue que possam ocorrer.

O deposto presidente Zelaya dedicou-se a usar o recinto diplomático para discursar para seus seguidores, contribuindo para criar no país uma situação explosiva. O próprio presidente brasileiro, talvez percebendo de que maneira foi colocado no olho de um furacão por sua própria chancelaria, pediu a Zelaya que moderasse sua linguagem. E também exigiu o respeito da extra-territorialidade de sua sede diplomática em Honduras, no mesmo momento em que o Itamaraty viola dessa maneira normas internacionais elementares.

Em 12-8-09, Zelaya esteve em Brasília

pedindo ajuda ao pres. Lula

Com maior ênfase ainda que a colocada para insistir sobre o levantamento do “embargo” ao regime comunista de Cuba, a chancelaria brasileira monta um historicamente inédito “embargo” contra o povo hondurenho que não deseja cair no abismo chavista. No momento em que escrevo estas linhas, o presidente Lula propôs uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU, para tratar de uma delicada situação que sua própria diplomacia, tão pouco diplomaticamente, contribuiu decisivamente para criar. Falta somente que a representante do Brasil na ONU peça uma intervenção militar em Honduras.

Como advertiu desde as páginas do influente O Estado de São Paulo, o analista político brasileiro Roberto Lameirinhas, a volta de Zelaya, rodeado de um “show midiático”, na realidade vai “ampliar a fratura social hondurenha” e os que apostaram no retorno do deposto presidente “parecem apostar em uma popularidade que na realidade ele não tem”, assim como em uma suposta “disposição revolucionária” da população hondurenha que não existe.

Sem dúvida, a conta de perdas humanas, sociais e econômicas está sendo paga pelo povo hondurenho, sujeito a uma incompreensão internacional talvez inédita na História. Porém, a conta política, perante Deus e a História, no caso em que Honduras seja brutalmente arrastada ao abismo chavista, será o próprio governo brasileiro, seu atual presidente e sua diplomacia os que terão que pagá-la em boa medida.

Se hoje, na América do Norte, o kerenskismo favorecedor das esquerdas está representado pelo presidente Obama, tal como mostrei em recente artigo publicado por "El Heraldo" de Honduras, na América do Sul o kerenskismo talvez esteja encarnado prototipicamente no presidente Lula, do Brasil, a quem Obama, durante a Cúpula das Américas, qualificou como “o cara”.

Se Cuba comunista sobrevive até hoje, em boa medida isso se deve, talvez ainda mais que o apoio de Chávez, ao colossal sustento político, diplomático e econômico do kerenskismo lulista.

Se Chávez chegou até onde chegou, é porque em boa medida o kerenskismo lulista, sempre alegando moderação, espírito de diálogo e necessidade de contemporização, lhe deu sua anuência e o apoiou publicamente nos momentos de mais dificuldade interna, contribuindo para desmoralizar a oposição venezuelana.

Se os governos populistas-indigenistas da Bolívia e Equador estão efetuando os atuais atos de vandalismo, contribuindo para a auto-demolição social, política e moral de ambos os países, isso também se deve ao kerenskismo lulista que lhes proporcionou um respaldo decisivo em matéria política e econômica.
Se as pressões internacionais contra Honduras chegaram ao ponto a que chegaram, isso se deve às articulações do neo-imperialismo kerenskiano lulista que, por trás dos bastidores, e até na frente deles, sem o menor pudor, dedicou-se a pressionar o governo norte-americano para asfixiar essa pequena grande nação que os partidários da liberdade no mundo inteiro qualificam justamente como um pequeno grande Davi do século XXI.

O “moderado” presidente brasileiro integra junto com o presidente Obama um “eixo da moderação” que objetivamente, e independentemente das intenções de seus protagonistas, está a serviço do “eixo do mal” chavista e permite, com seu espírito concessivo, que o “eixo do mal” avance.

Há quase 7 anos, em 8 de outubro de 2002, no conhecido programa televisivo do jornalista Boris Casoy, o então candidato presidencial Lula da Silva me chamou de “picareta de Miami”, porque eu havia contribuído a denunciar em uma série de artigos, de uma maneira documentada e invariavelmente respeitosa, o vergonhoso apoio de Lula a Cuba comunista e sua política em favor do “eixo do mal” latino-americano. Na ocasião, na falta de argumentos, Lula respondeu com uma brusca mudança de tom.

A política externa do Itamaraty, durante os dois períodos do presidente Lula à frente do governo do Brasil, foi confirmando essas apreensões. Hoje, com a precipitação da aventura hondurenha, a diplomacia brasileira não fez senão confirmar essas apreensões.

Raul Castro, Manuel Zelaya e Hugo Chávez

É hora de proclamar as verdades que doem aos Golias contemporâneos, em voz alta, claramente, argumentando e dando provas irrefutáveis, tudo isso feito de uma maneira invariavelmente educada e respeitosa. Usei palavras sem dúvida alguma fortes, porém penso que elas são proporcionais à gravidade da situação, e foram sempre respeitosas.

Em declarações recentes ao Washington Post, o embaixador Jeffrey Davidow, alto assessor do presidente Obama, reconheceu que na América Latina de hoje um perigo maior que o militarismo é o populismo do tipo chavista. O embaixador Davidow disse uma meia-verdade. De fato, sob vários pontos de vista o maior perigo é o “kerenskismo”, que prepara o caminho para o populismo, o indigenismo e outros “ismos” pós-modernos que estão tomando o lugar do comunismo clássico.

A heróica resistência do povo hondurenho negando-se a pôr o “uniforme” zalaysta-chavista, apesar das brutais pressões de dirigentes internacionais, me lembra a epopéia de um punhado de presos-políticos cubanos que, em que pese os brutais golpes e torturas, negou-se durante anos a se vestir com o “uniforme” de presos comuns. O tirano Castro não pôde dobrá-los e passaram para a História como os “presos resistentes”.

Que a Divina Providência proteja Honduras “resistente”, que se recusa a pôr o “uniforme” chavista e continue lhe dando forças e inspiração para resistir, da mesma maneira como Davi resistiu e se defendeu contra Golias.


Tradução: Graça Salgueiro

*Armando Valladares, ex-preso-político cubano “resistente”, foi embaixador dos Estados Unidos na Comissão de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, durante as administrações Reagan e Bush. Acaba de receber em Roma um importante prêmio de jornalismo por seus artigos em favor da liberdade em Cuba e no mundo inteiro. E-mail” armandovalladares2006@yahoo.es




terça-feira, 22 de setembro de 2009

Os Dízimos, a Colonização e a História

Ibsen Noronha(*)

A Legenda Negra acerca da Colonização das Américas vai ganhando foros de verdade revelada. Os atuais governos latino-americanos contribuem com o seu tanto para a “Ciência”…

Outro dia um livro de divulgação — diria mesmo vulgarização ou panfletagem —acerca dos crimes cometidos pelos colonizadores, foi oferecido por um caudilho ao presidente americano. E a mídia fez também o seu tanto na propaganda ideológica.

Segundo estas versões, que tomam sempre ares de certeza trombuda e insolente, desdenhosas das posições contrárias, os colonizadores, em nome da ganância insaciável, destruíram a sociedade aborígene, repleta de bondade, modelar mesmo, apesar dos sacrifícios humanos em honra dos seus deuses, da antropofagia, de enterrarem crianças com má formação. Tudo isto “é cultural”, “louvável”. São tantas as lições de simplicidade que podemos receber destas sociedade tribais. O beau sauvage de Rousseau, afinal, somente poderia ter como modelo o aborígene americano. Enfim, eis o arquétipo de sociedade que o Homem Novo, reformado pela conscientização socialista-ecológica, está determinado a abraçar.

É muita densidade para apenas um parágrafo. Mas o melhor e não escrever muito. O Homem moderno tem paixão pela rapidez, e tudo que demande muito vagar é visto com pouca simpatia. E eu preciso de leitores…

Mas prossigamos. Remexendo arquivos de antigas Leis, no afã de aprofundar as já tão profundas idéias que a Legenda Negra promulgou, encontro algo que me deixa confuso. E transcrevo, caro leitor, pois nada melhor que uma fonte primária para não termos que conhecer a História de segunda mão que nos é ensinada, diria melhor divulgada, nos dias que correm… e correm muito.

… fareis guardar as Provisões que mandei passar sobre a liberdade do gentio das ditas partes, e para não pagarem dízimos aos que se fizerem cristãos, por tempo de quinze anos…
É terrível! Temos uma lei, de 12 de Novembro de 1582, que confirmava outra de 4 de Janeiro de 1576, isentando os índios de impostos aqui no nosso Brasil.
Deve ser apenas mais uma forma de camuflar a sede insaciável de riqueza e poder dos colonizadores. Eles deveriam estar já se justificando avant la lettre pois sabiam que os seus crimes hediondos um dia seriam denunciados por paladinos da liberdade, heróis da verdade, caudilhos que vieram ao mundo para proclamar o que foi e como foi!!!

Este texto é intolerável. Mas nas minhas solitárias pesquisas encontro dezenas, centenas de leis, que buscam proteger os índios. Que farsantes estes colonizadores! Querem espoliar e produzem leis concessivas e benevolentes.
O melhor seria que todas estas leis não fossem conhecidas nem discutidas.
Compromete a versão que circula. Além do mais, dizer que havia isenção de dízimos, concedida pelo soberano, enquanto administrador da Ordem de Cristo, seria dar uma idéia de complacência, de magnanimidade a um Rei — que precisa ser visto como tirano — e, à Igreja Católica uma certa doçura na conversão dos índios — que precisa ser vista como forçada, despoticamente imposta.
Liberar dos Dízimos? Que horror! Sobretudo hoje em dia. O Estado nos leva a metade dos nossos dias de trabalho. As pequenas igrejas, que são grandes negócios, enriquecem os seus áugures…
Há algo de errado com aquele texto de lei do século XVI!!!
Deve ser uma falsificação…
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(*) Mestre em Direito pela Universidade de Coimbra,
Professor de História do Direito Brasileiro pela UnB.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Obama-Clinton: “política do garrote” para Honduras e “política de sorrisos” para Cuba

Armando Valladares *
O espírito intervencionista do recente comunicado do Departamento de Estado sobre Honduras não podia ser mais brutal, constituindo um exemplo típico de retorno da “política do garrote”... contra o anti-chavismo, enquanto se impulsiona uma suicida “política de sorrisos” para o “eixo do mal” latino-americano

Em 3 de setembro pp., o Departamento de Estado norte-americano, em nome da secretária de Estado Hillary Clinton, deu a conhecer um comunicado que tem como objetivo visível golpear o atual governo provisório de Honduras porém que, no fundo, pretende quebrar a resistência do heróico povo hondurenho, em sua luta pela liberdade. Trata-se de um comunicado que reflete ao mesmo tempo um intervencionismo pró-chavista, não menos deplorável, nos assuntos internos de outro país.

Nem mais nem menos, é a cruel aplicação contra Honduras, um pequeno país centro-americano aliado dos Estados Unidos, da “política do garrote”, desta vez nas mãos do kerenskiano presidente Obama, que ao mesmo tempo impulsiona uma suicida “política de sorrisos” com relação aos totalitarismos e populismos de raiz esquerdista nas Américas, como Cuba, Venezuela, Bolívia, Equador e Nicarágua.

São dois pesos e duas medidas de uma injustiça que clama a Deus
Dias atrás, o presidente Obama havia qualificado de “hipócritas” àqueles que na América Latina exigiam até há pouco tempo que os Estados Unidos não interviessem nos assuntos latino-americanos, enquanto que agora imploravam que o governo interviesse no caso de Honduras. Não obstante, poucos dias depois o presidente Obama cedia ante a “hipocritadura” chavista, tal como Kerensky cedeu ante Lênin em começos do século XX, e que precipitou o desenlace histórico que todos conhecemos. Já tive oportunidade de definir em artigo recente o que entendo por “kerenkismo obamista” e, para maior brevidade, remeto meus leitores a ele (cf. “Kerenkismo obamista, Honduras e abismo chavista”, “Diario Las Américas, Miami”, EUA, 24 de julho de 2009; “El Heraldo”, Tegucigalpa, Honduras, 23 de julho de 2009; “Destaque Internacional”, Internet, 21 de julho de 2009; “Mídia Sem Máscara”, 26 de julho de 2009; texto reproduzido na Internet em vários idiomas, inclusive em lituano, em mais de 30 países).

O comunicado do Departamento de Estado anunciou “a suspensão de uma ampla gama de ajuda ao governo de Honduras”, ante a alegada “necessidade de fortes medidas” para quebrar a “resistência” ao “Acordo de San José” por parte das atuais autoridades hondurenhas, e ante o que denomina “falta de restauração de um regime democrático e constitucional em Honduras”.

O espírito intervencionista do texto não podia ser mais brutal, constituindo um exemplo típico de retorno da diplomacia do garrote... contra o anti-chavismo. Com efeito, um “acordo” significa conformidade de pareceres entre duas ou mais pessoas ou instituições. Se pretende-se dobrar as instituições e o povo hondurenho a qualquer preço, então não chamem-no hipocritamente de “acordo” e sim, uma “imposição”, um gesto de “neo-colonialismo” ou um “ucase” (do russo, “ukaz”, que os dicionários traduzem como “ordem despótica”). O comunicado do Departamento de Estado alega sair em defesa do sistema “democrático” e “constitucional” de Honduras, porém quer impor um “acordo” que, apesar de levar o nome desse grande santo que foi São José, acabaria sendo um “ucase” muito pouco santo e, sem sombra de dúvida, sobretudo muito pouco “democrático”.

O comunicado norte-americano trata de justificar seu intervencionismo alegando a necessidade de uma “restauração” da ordem democrática, parecendo ignorar por completo que o deposto presidente Zelaya já havia ferido gravemente essa ordem democrática, ao pisotear as leis e a própria Constituição, diante da indiferença do Departamento de Estado, da OEA e dos governos das Américas que hoje farisaicamente se rasgam as vestes.

O presidente Obama acaba de prometer na última Cúpula das Américas um “novo começo” com a sanguinária ditadura castrista; estendeu pontes de diálogo com os regimes populistas-totalitários da Venezuela, Equador e Bolívia; manifestou sua disposição de conversar com os regimes islâmicos mais radicalmente anti-americanos e até com o tirano da Coréia do Norte; finalmente, proclamou aos quatro ventos que o “diálogo”, não a imposição, é o caminho primeiro e indispensável para a resolução de conflitos de ordem internacional e que os Estados Unidos passaram a defender o multilateralismo. Porém, quando se trata de Honduras, a linguagem adocicada muda totalmente e fica amarga, com gosto de fel, agressiva, prepotente e intervencionista da pior qualidade.

Nas linhas seguintes, os redatores do comunicado do Departamento de Estado, talvez percebendo o flanco de contradição e da fraude que abriam, tratam de adotar um ar de imparcialidade quando dizem que se “reconhece” a “natureza complicada” das ações que levaram à deposição de Zelaya em 28 de junho. Não obstante, nessas ações, de uma maneira incrivelmente tendenciosa, somente atribui a responsabilidade e a culpa ao “ramo legislativo”, ao “ramo judiciário” e aos “militares”, silenciando sobre a responsabilidade primeira e fundamental do “ramo executivo” encabeçado por Zelaya.

Apesar desse pretendido ar imparcial, se comete a maior das parcialidades quando se omite uma alusão sequer ao fato de que em Honduras, no dia 28 de junho de 2009, também existia esse “ramo executivo”, é verdade, porém que havia se afastado nitidamente da Constituição e das leis, e tratava de empurrar Honduras para o abismo chavista.

É preciso insistir com invariável objetividade, na mesma proporção da insistente parcialidade do comunicado norte-americano: é o “ramo executivo” encabeçado pelo deposto presidente Zelaya o grande responsável pela atual encruzilhada de Honduras, assim como os irmãos Castro são os grandes responsáveis pelo drama cubano, e Chávez é o grande culpado pela deterioração das liberdades na Venezuela e em outros países da região nos quais intervém como Pedro em sua casa, sem que o Departamento de Estado abra a boca.

O lamentável comunicado do Departamento de Estado alude também “complexas questões legais”, que não se dá ao trabalho de definir e nem sequer de mencionar. Se essas questões são tão “complexas”, é uma razão a mais para defini-las ou, pelo menos, enumerá-las, e passar a analisá-las com o devido cuidado antes de adotar medidas que, além de serem intervencionistas e garrotistas, são precipitadas e injustas contra a irmã Honduras.

Outra das provas do garrotismo, e da unilateralidade deste comunicado do Departamento de Estado, é precisamente o fato de que evite a análise dessa “complexidade”, lavando as mãos como Pilatos.

Os indícios falam no sentido de que o Departamento de Estado evite abordar essa “complexidade” porque não lhe convém fazê-lo: a palavra “complexidade”, no contexto do comunicado do Departamento de Estado, é um eufemismo para não tocar no tema central, o da enorme responsabilidade do deposto presidente Zelaya, um chavista no qual o presidente Obama e a secretária de Estado Clinton depositaram suas esperanças.

Trata-se de uma típica saída kerenskiana, entreguista, partidária do ceder para não perder, com o qual se protege e absolve Zelaya que, como já se disse, foi “democraticamente eleito” porém que — convém reiterá-lo até o cansaço, na mesma proporção em que seus defensores o omitem também até o cansaço — se afastou dos princípios constitucionais e das leis hondurenhas.

Não menos lamentável é o fato de que o Departamento de Estado, aberto a “novos começos” com os mais sanguinários ditadores comunistas e com déspotas islâmicos radicais, continue se negando a dialogar com as atuais autoridades hondurenhas e ameace em “não respaldar” o “resultado” das próximas eleições nacionais desse país.

Explica-se que, diante do que foi dito acima, o maior representante latino-americano do “eixo do mal” e atual presidente-ditador da Venezuela, Hugo Chávez, com uma emoção de crocodilo tenha declarado desde o Irã, onde mantinha reuniões conspiradoras contra os Estados Unidos, que “já era hora” de que o presidente Obama adotasse essas medidas, e tenha manifestado sua complacência com esse lamentável comunicado do Departamento de Estado, em boa medida, fruto de suas pressões e reclamos.

Nesse texto do Departamento de Estado, de 3 de setembro pp., ficou a descoberto a claudicação pró-chavista do “ramo executivo” do governo norte-americano. Por isso, seria de se desejar que o “ramo legislativo” deste país, Câmara de Representantes e Senado, através de suas respectivas comissões de Relações Exteriores, convoquem os representantes do Departamento de Estado para que expliquem as flagrantes contradições e omissões deste recente engendro. E também, que estudem a possibilidade de convidar seus colegas representantes do “ramo legislativo” de Honduras, para que tenham a oportunidade de expressar sua opinião, um elementar direito de defesa que o “ramo executivo” do governo norte-americano lhes está negando.

A política intervencionista do Departamento de Estado nos assuntos de Honduras deve cessar de imediato. O Congresso dos Estados Unidos também deveria convocar a uma audiência o embaixador norte-americano nesse país, Hugo Llorens, um cubano-americano com credenciais de moderado, que foi alto assessor da secretária de Estado Condolleeza Rice, mas que agora se tem mostrado fiel e submisso defensor do deposto presidente chavista. Entre outras perguntas, se poderia perguntar ao embaixador Llorens se é verdade, sim ou não, que permitiu à esposa do deposto presidente Zelaya utilizar as instalações diplomáticas norte-americanas para, desde ali, discursar a favor de distúrbios e violência, enquanto fazia crer que estava resistindo nas montanhas. Os congressistas também poderiam convocar a Srª María Otero, uma hispana de origem boliviana e antecedentes bolivarianos, recém nomeada Secretária de Assuntos Globais do Departamento de Estado, para interrogá-la se usou, sim ou não, um telefone da Secretária de Estado e, sobretudo, a influência de seu cargo para chamar empresários hondurenhos por telefone, coagindo-os e ameaçando-os por seu apoio ao atual governo provisório.

Proclamar as verdades que doem nos Golias contemporâneos, em alta voz, claramente, com argumentos e provas irrefutáveis, de uma maneira invariavelmente educada e respeitosa, é a mais efetiva maneira de ajudar o pequeno e heróico Davi hondurenho, assim como aos povos irmãos latino-americanos que sofrem sob os malefícios do “eixo do mal” chavista.
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* ARMANDO VALLADARES, ex-preso político cubano, serviu como embaixador dos Estados Unidos ante a Comissão de Direitos Humanos da ONU nas administrações Reagan e Bush, tendo recebido a Medalha Presidencial do Cidadão e o Superior Award do Departamento de Estado. Em julho pp., na Itália, foi o primeiro hispano honrado com o prestigioso Prêmio ISCHIA de jornalismo internacional. E-mail: armandovalladares2006@yahoo.es

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Abaixo, algumas fotos da manifestação do dia 4 de setembro, na qual milhares de hondurenhos protestaram contra as contínuas intervenções de Hugo Chávez em Honduras







quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Partido do Congresso na Índia quer proibir uso de títulos nobres

Heitor Abdalla Buchaul *
Recentemente o Partido do Congresso, na Índia, decretou que todos os seus políticos e governadores não mais poderão ostentar seus títulos de nobreza, como marajá (grande rei), maharani (grande rainha), rajkumar (príncipe) ou nababo (equivalente a rei e usado entre os indianos de origem muçulmana). Sobre esse assunto é interessante a análise de um artigo de autoria do insigne pensador católico Plinio Corrêa de Oliveira, publicado em Catolicismo nº 195, março/1967), sob o título "A Índia tem saudades dos Marajás".

Naquela época, os Marajás já haviam sido afastados oficialmente do poder, o que ocorrera desde o ano de 1947, quando a Índia se tornara independente da Coroa Britânica; até então, era formada por um conjunto de principados.

Desde a independência, a Índia pretendera, sob a liderança de Gandhi, Nehru e Indira, ter uma face modernizada e de cunho socialista, rompendo com as tradições mesmo as que eram salutares e orgânicas. Porém, essa tarefa não é nada fácil. Vejamos alguns excertos do referido artigo: “Entre as tradições que merecem sobreviver, algumas têm raízes débeis, e podem ser eliminadas sem enorme abalo para a nação. Mas outras há em que não se pode tocar sem desfigurar a própria alma da nação, o seu processo de continuidade histórica, sua própria identidade consigo mesma. [...] Na Índia dos Marajás, por exemplo, muita coisa haveria que modificar. Mas essa obra jamais poderia degenerar num fazer ‘tabula rasa’ — na vida da Índia atual — de todos os tesouros de arte, cultura e talento da Índia tradicional. Nem numa substituição sumária e total da Índia grandiosa, lendária e poética plasmada pelos séculos, por um Estado socialista, prosaico e vulgar como é a Índia atual: uma espécie de país organizado à sueca, isto é, tudo quanto há de mais paradoxal e anorgânico”.

“A Índia de hoje são os indianos que hoje vivem. E eles não aprovaram tão radical, indiscriminada e brutal transformação”.

Mais adiante, o artigo refere-se às então recentes eleições indianas : “De um longo e substancioso despacho do correspondente da AFP em Nova Delhi, datado de 15 de janeiro p.p., destacamos este trecho: "O líder dos comunistas indianos, comentando a preparação das listas de candidatos para as eleições legislativas do próximo mês, exclamou: ‘Isto é a restauração! Nunca houve tantos Marajás nas listas como este ano!’ [...] ‘Grandes Famílias’ ilustres que reinavam sobre vastos Estados do Radjastan, do Pundjab e de Madhya Pradesh, e que, na realidade, não deixaram de dominar nunca a política local, e centenas de pequenos Príncipes obscuros voltam ao primeiro plano político”.

E o Prof. Plinio conclui : “Não entramos no mérito da questão da forma de governo. Descartado de seu aspecto político, este reviver da popularidade dos Rajás indica uma reação de alma muito importante do ponto de vista ‘Ambientes, Costumes, Civilizações’. Em suma, o povo indiano está farto do socialismo trivial, rasteiro e sem nenhum vôo. E volta-se para a Tradição em busca desta coisa indispensável: altos horizontes para a alma”.

Passadas mais de quatro décadas desses acontecimentos, a aura revolucionária que desde o início dominou o Partido do Congresso indiano, deseja tentar ainda submergir cada vez mais as famílias nobres; e já lhe tendo tirado o poder político deseja agora liquidar qualquer influência que possam ter sobre a sociedade; e continua a ser, como afirma o Prof. Plinio, “trivial, rasteiro, sem nenhum vôo”, conforme o seu próprio lema "Aam Aadmi", ou seja "Homem Comum". O que não combina com Marajás, levando a vulgarização e a mediocridade a seu ápice.

A decisão do partido do primeiro-ministro Manmohan Singh causou polêmica no país.

“Esses títulos são uma herança de família; como então o Partido do Congresso pode querer tirá-los? Como fazer o povo parar de nos chamar pelos nossos títulos de nobreza? Muitas vezes são termos afetivos”, protestou durante um debate na TV CNN-IBN Bhanu Pratap Singh, um ex-ministro de Estado, que hoje seria o Marajá de Narsinghgarh, no estado de Madhya Pradesh. Ele argumenta que em 1971, quando a então a primeira-ministra Indira Gandhi eliminava vários privilégios dos nobres, os títulos não chegaram a ser abolidos. Portanto, os descendentes teriam direito de usá-los hoje. Mas a liderança do Partido do Congresso julga que a existência de muitos políticos de origem nobre em seus quadros contraria a imagem que almeja projetar para o público.

Esse quadro é muito interessante e simbólico para se constatar, em primeiro lugar, o ódio que os revolucionários votam a tudo que é nobre, belo, elevado, sendo uma questão mais espiritual do que material; e, em segundo lugar, o seu verdadeiro objetivo –– fazer a humanidade rebaixar-se cada vez mais, perdendo os exemplos e parâmetros mais sublimes, e considerando como inspiração apenas aquilo que é comum e banal.

Nada mais contrastante em relação ao desejo natural de perfeição, que Deus colocou na alma humana.
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* Heitor Abdalla Buchaul é colaborador da ABIM

Escritora elogia condição de mãe e esposa


A escritora Maria Mariana abandonou a “fama” do teatro e da TV para ser mãe de quatro filhos. Em entrevista à revista “Época”, explicou que “o fato de eu adorar ser mãe” rendeu muitas qualidades. Ela conta por que escolheu o lar: “Eu sonhava com uma enorme mesa de família, com aquela macarronada no domingo. Eu queria mudar de degrau”. Para espanto das feministas, acrescentou: “Não acredito na igualdade entre homens e mulheres. O homem tem uma função no mundo e a mulher tem outra. Homem e mulher estão no mesmo barco, no mesmo mar. Há ondas, tempestades, maremotos. Alguém precisa estar com o leme na mão. Os dois, não dá. Deus preparou o homem para estar com o leme na mão. Porque ele é mais forte, tem raciocínio mais frio. A mulher tem mais capacidade de olhar em volta, ver o todo e desenvolver a sensibilidade para aconselhar. A mulher pode dirigir tudo, mas o lugar dela não é com o leme”.

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Agência Boa Imprensa – ABIM