quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Obama-Clinton: “política do garrote” para Honduras e “política de sorrisos” para Cuba

Armando Valladares *
O espírito intervencionista do recente comunicado do Departamento de Estado sobre Honduras não podia ser mais brutal, constituindo um exemplo típico de retorno da “política do garrote”... contra o anti-chavismo, enquanto se impulsiona uma suicida “política de sorrisos” para o “eixo do mal” latino-americano

Em 3 de setembro pp., o Departamento de Estado norte-americano, em nome da secretária de Estado Hillary Clinton, deu a conhecer um comunicado que tem como objetivo visível golpear o atual governo provisório de Honduras porém que, no fundo, pretende quebrar a resistência do heróico povo hondurenho, em sua luta pela liberdade. Trata-se de um comunicado que reflete ao mesmo tempo um intervencionismo pró-chavista, não menos deplorável, nos assuntos internos de outro país.

Nem mais nem menos, é a cruel aplicação contra Honduras, um pequeno país centro-americano aliado dos Estados Unidos, da “política do garrote”, desta vez nas mãos do kerenskiano presidente Obama, que ao mesmo tempo impulsiona uma suicida “política de sorrisos” com relação aos totalitarismos e populismos de raiz esquerdista nas Américas, como Cuba, Venezuela, Bolívia, Equador e Nicarágua.

São dois pesos e duas medidas de uma injustiça que clama a Deus
Dias atrás, o presidente Obama havia qualificado de “hipócritas” àqueles que na América Latina exigiam até há pouco tempo que os Estados Unidos não interviessem nos assuntos latino-americanos, enquanto que agora imploravam que o governo interviesse no caso de Honduras. Não obstante, poucos dias depois o presidente Obama cedia ante a “hipocritadura” chavista, tal como Kerensky cedeu ante Lênin em começos do século XX, e que precipitou o desenlace histórico que todos conhecemos. Já tive oportunidade de definir em artigo recente o que entendo por “kerenkismo obamista” e, para maior brevidade, remeto meus leitores a ele (cf. “Kerenkismo obamista, Honduras e abismo chavista”, “Diario Las Américas, Miami”, EUA, 24 de julho de 2009; “El Heraldo”, Tegucigalpa, Honduras, 23 de julho de 2009; “Destaque Internacional”, Internet, 21 de julho de 2009; “Mídia Sem Máscara”, 26 de julho de 2009; texto reproduzido na Internet em vários idiomas, inclusive em lituano, em mais de 30 países).

O comunicado do Departamento de Estado anunciou “a suspensão de uma ampla gama de ajuda ao governo de Honduras”, ante a alegada “necessidade de fortes medidas” para quebrar a “resistência” ao “Acordo de San José” por parte das atuais autoridades hondurenhas, e ante o que denomina “falta de restauração de um regime democrático e constitucional em Honduras”.

O espírito intervencionista do texto não podia ser mais brutal, constituindo um exemplo típico de retorno da diplomacia do garrote... contra o anti-chavismo. Com efeito, um “acordo” significa conformidade de pareceres entre duas ou mais pessoas ou instituições. Se pretende-se dobrar as instituições e o povo hondurenho a qualquer preço, então não chamem-no hipocritamente de “acordo” e sim, uma “imposição”, um gesto de “neo-colonialismo” ou um “ucase” (do russo, “ukaz”, que os dicionários traduzem como “ordem despótica”). O comunicado do Departamento de Estado alega sair em defesa do sistema “democrático” e “constitucional” de Honduras, porém quer impor um “acordo” que, apesar de levar o nome desse grande santo que foi São José, acabaria sendo um “ucase” muito pouco santo e, sem sombra de dúvida, sobretudo muito pouco “democrático”.

O comunicado norte-americano trata de justificar seu intervencionismo alegando a necessidade de uma “restauração” da ordem democrática, parecendo ignorar por completo que o deposto presidente Zelaya já havia ferido gravemente essa ordem democrática, ao pisotear as leis e a própria Constituição, diante da indiferença do Departamento de Estado, da OEA e dos governos das Américas que hoje farisaicamente se rasgam as vestes.

O presidente Obama acaba de prometer na última Cúpula das Américas um “novo começo” com a sanguinária ditadura castrista; estendeu pontes de diálogo com os regimes populistas-totalitários da Venezuela, Equador e Bolívia; manifestou sua disposição de conversar com os regimes islâmicos mais radicalmente anti-americanos e até com o tirano da Coréia do Norte; finalmente, proclamou aos quatro ventos que o “diálogo”, não a imposição, é o caminho primeiro e indispensável para a resolução de conflitos de ordem internacional e que os Estados Unidos passaram a defender o multilateralismo. Porém, quando se trata de Honduras, a linguagem adocicada muda totalmente e fica amarga, com gosto de fel, agressiva, prepotente e intervencionista da pior qualidade.

Nas linhas seguintes, os redatores do comunicado do Departamento de Estado, talvez percebendo o flanco de contradição e da fraude que abriam, tratam de adotar um ar de imparcialidade quando dizem que se “reconhece” a “natureza complicada” das ações que levaram à deposição de Zelaya em 28 de junho. Não obstante, nessas ações, de uma maneira incrivelmente tendenciosa, somente atribui a responsabilidade e a culpa ao “ramo legislativo”, ao “ramo judiciário” e aos “militares”, silenciando sobre a responsabilidade primeira e fundamental do “ramo executivo” encabeçado por Zelaya.

Apesar desse pretendido ar imparcial, se comete a maior das parcialidades quando se omite uma alusão sequer ao fato de que em Honduras, no dia 28 de junho de 2009, também existia esse “ramo executivo”, é verdade, porém que havia se afastado nitidamente da Constituição e das leis, e tratava de empurrar Honduras para o abismo chavista.

É preciso insistir com invariável objetividade, na mesma proporção da insistente parcialidade do comunicado norte-americano: é o “ramo executivo” encabeçado pelo deposto presidente Zelaya o grande responsável pela atual encruzilhada de Honduras, assim como os irmãos Castro são os grandes responsáveis pelo drama cubano, e Chávez é o grande culpado pela deterioração das liberdades na Venezuela e em outros países da região nos quais intervém como Pedro em sua casa, sem que o Departamento de Estado abra a boca.

O lamentável comunicado do Departamento de Estado alude também “complexas questões legais”, que não se dá ao trabalho de definir e nem sequer de mencionar. Se essas questões são tão “complexas”, é uma razão a mais para defini-las ou, pelo menos, enumerá-las, e passar a analisá-las com o devido cuidado antes de adotar medidas que, além de serem intervencionistas e garrotistas, são precipitadas e injustas contra a irmã Honduras.

Outra das provas do garrotismo, e da unilateralidade deste comunicado do Departamento de Estado, é precisamente o fato de que evite a análise dessa “complexidade”, lavando as mãos como Pilatos.

Os indícios falam no sentido de que o Departamento de Estado evite abordar essa “complexidade” porque não lhe convém fazê-lo: a palavra “complexidade”, no contexto do comunicado do Departamento de Estado, é um eufemismo para não tocar no tema central, o da enorme responsabilidade do deposto presidente Zelaya, um chavista no qual o presidente Obama e a secretária de Estado Clinton depositaram suas esperanças.

Trata-se de uma típica saída kerenskiana, entreguista, partidária do ceder para não perder, com o qual se protege e absolve Zelaya que, como já se disse, foi “democraticamente eleito” porém que — convém reiterá-lo até o cansaço, na mesma proporção em que seus defensores o omitem também até o cansaço — se afastou dos princípios constitucionais e das leis hondurenhas.

Não menos lamentável é o fato de que o Departamento de Estado, aberto a “novos começos” com os mais sanguinários ditadores comunistas e com déspotas islâmicos radicais, continue se negando a dialogar com as atuais autoridades hondurenhas e ameace em “não respaldar” o “resultado” das próximas eleições nacionais desse país.

Explica-se que, diante do que foi dito acima, o maior representante latino-americano do “eixo do mal” e atual presidente-ditador da Venezuela, Hugo Chávez, com uma emoção de crocodilo tenha declarado desde o Irã, onde mantinha reuniões conspiradoras contra os Estados Unidos, que “já era hora” de que o presidente Obama adotasse essas medidas, e tenha manifestado sua complacência com esse lamentável comunicado do Departamento de Estado, em boa medida, fruto de suas pressões e reclamos.

Nesse texto do Departamento de Estado, de 3 de setembro pp., ficou a descoberto a claudicação pró-chavista do “ramo executivo” do governo norte-americano. Por isso, seria de se desejar que o “ramo legislativo” deste país, Câmara de Representantes e Senado, através de suas respectivas comissões de Relações Exteriores, convoquem os representantes do Departamento de Estado para que expliquem as flagrantes contradições e omissões deste recente engendro. E também, que estudem a possibilidade de convidar seus colegas representantes do “ramo legislativo” de Honduras, para que tenham a oportunidade de expressar sua opinião, um elementar direito de defesa que o “ramo executivo” do governo norte-americano lhes está negando.

A política intervencionista do Departamento de Estado nos assuntos de Honduras deve cessar de imediato. O Congresso dos Estados Unidos também deveria convocar a uma audiência o embaixador norte-americano nesse país, Hugo Llorens, um cubano-americano com credenciais de moderado, que foi alto assessor da secretária de Estado Condolleeza Rice, mas que agora se tem mostrado fiel e submisso defensor do deposto presidente chavista. Entre outras perguntas, se poderia perguntar ao embaixador Llorens se é verdade, sim ou não, que permitiu à esposa do deposto presidente Zelaya utilizar as instalações diplomáticas norte-americanas para, desde ali, discursar a favor de distúrbios e violência, enquanto fazia crer que estava resistindo nas montanhas. Os congressistas também poderiam convocar a Srª María Otero, uma hispana de origem boliviana e antecedentes bolivarianos, recém nomeada Secretária de Assuntos Globais do Departamento de Estado, para interrogá-la se usou, sim ou não, um telefone da Secretária de Estado e, sobretudo, a influência de seu cargo para chamar empresários hondurenhos por telefone, coagindo-os e ameaçando-os por seu apoio ao atual governo provisório.

Proclamar as verdades que doem nos Golias contemporâneos, em alta voz, claramente, com argumentos e provas irrefutáveis, de uma maneira invariavelmente educada e respeitosa, é a mais efetiva maneira de ajudar o pequeno e heróico Davi hondurenho, assim como aos povos irmãos latino-americanos que sofrem sob os malefícios do “eixo do mal” chavista.
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* ARMANDO VALLADARES, ex-preso político cubano, serviu como embaixador dos Estados Unidos ante a Comissão de Direitos Humanos da ONU nas administrações Reagan e Bush, tendo recebido a Medalha Presidencial do Cidadão e o Superior Award do Departamento de Estado. Em julho pp., na Itália, foi o primeiro hispano honrado com o prestigioso Prêmio ISCHIA de jornalismo internacional. E-mail: armandovalladares2006@yahoo.es

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Abaixo, algumas fotos da manifestação do dia 4 de setembro, na qual milhares de hondurenhos protestaram contra as contínuas intervenções de Hugo Chávez em Honduras







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