quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Até que a morte os separe

Padre David Francisquini (*) 
Ao criar o homem, Deus disse: “É bom que não viva só; façamos para ele uma companheira”. Estava constituído pelo Criador o primeiro casal, e assegurada, a partir desse núcleo social, a propagação da espécie humana. Vivendo em sociedade, os homens educariam retamente sua prole, preparariam os caminhos para a salvação, e gozariam por fim da eterna bem-aventurança na pátria celeste.
Com efeito, este primeiro casal simbolizava a família monogâmica e indissolúvel criada por Deus, a qual se tornaria o fundamento indispensável e nobilíssimo da sociedade na qual os homens deveriam viver. E o próprio Cristo Nosso Senhor recordou aos judeus que, com a sua vinda, as coisas voltariam a ser como no início.

Se Moisés, à época, deu permissão ao libelo de repúdio dos homens às suas mulheres, foi em razão da dureza daqueles corações, pois “não separe o homem aquilo que Deus uniu”. Na verdade, a convivência entre um homem e uma mulher pelo matrimônio indissolúvel exige de ambos um completo domínio, pois o casamento é para sempre, ou seja, até que a morte os separe.

Bodas de Caná - Tintoretto (1518-1594)
Tendo Jesus Cristo elevado tal união à dignidade de sacramento, os cônjuges devem se comprometer a conviver juntos. Eles são assistidos com as graças necessárias para permanecerem fiéis uns aos outros e cumprir os deveres de seu próprio estado, educando dignamente sua prole para a vida presente e futura. Sendo o casamento de instituição divina e santificado pelo próprio Jesus Cristo nas bodas de Caná, ele representa precioso instrumento de santificação para a maior parte dos homens.

Com tais atributos, o matrimônio deve ser edificado sobre a rocha inabalável da fé, dos bons costumes, da prática de nossa santa religião, da frequência constante e persistente dos sacramentos — sobretudo da confissão e da comunhão —, e da devoção a Sagrada Família, modelo de virtudes para todos os membros da família.

Caso contrário, o casamento desmoronará no primeiro obstáculo que sobrevier ao casal, como vem acontecendo de maneira crescente em nossa sociedade neopagã, na qual ele passou a ser construído sobre a areia movediça do sentimentalismo romântico, uma paixão desordenada que priva a pessoa da visão clara e objetiva das coisas.

Em próximo artigo, pretendo falar sobre o papel de São José, modelo exímio de todas as virtudes que os pais devem admirar e assimilar em suas vidas no governo familiar. Enquanto as mães poderão encontrar na humilde Virgem de Nazaré, Mãe de Deus e Mãe das mães, o exemplo das mais sublimes virtudes para enaltecer o seu lar com dignidade e heroísmo de uma verdadeira mãe cristã.
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(*) Sacerdote da igreja do Imaculado Coração de Maria, Cardoso Moreira - RJ

sábado, 24 de setembro de 2011

CANSAÇO


Leo Daniele (*)

O suspense cansa.

Imaginemos um carro à beira do precipício. Um verdadeiro abismo com todas as suas características, inclusive o convite gritante para a ação da força da gravidade. O vazio sobe no nosso peito, nos incomoda, o impacto do episódio nos impressiona. E se …? O motorista do carro, entretanto, está despreocupado. Os passageiros também. Mas a tragédia é para dentro de segundos.

Digamos que a cena seja a ilustração com a qual abrimos todos os dias nosso computador (que mau gosto, não?). Ao cabo de um ano, a ilustração só impressiona visitantes. Para nós, apenas causa bocejos. Ficou rotineira.

Hoje, como numa dança macabra, a tragédia se repete sem parar numa escala mundial. São desastres atrás de desastres. Filhos matam seus pais, mães assassinam seus filhos (nem estou falando do aborto). Professoras escandalizam seus alunos. A moralidade se precipita, como o carro do início deste artigo. Os homossexuais pretendem “casar-se”. O mais alto edifício de mundo é derrubado por terroristas (lembra-se?). Terroristas massacram 20 ou 50. Em alguma parte do globo, a cada 5 minutos acontece o martírio de um católico, segundo li neste mesmo site.

E as pessoas que deveriam dar brados de alerta, ter lágrimas de pranto, soltar clamores de indignação, bocejam.

Contribuem para o cansaço geral, limitando-se a dizer de vez em quanto: “É lamentável…” E ficam por aí. Eu também fico por aqui. A opinião pública assiste, cansada.

“Quais as causas dessa ingenuidade obstinadamente cega, que penetrou em tantos, grandes ou pequenos, cultos ou ignorantes, moços ou velhos?”, perguntava, nas páginas da Folha de S. Paulo, Dr. Plinio Corrêa de Oliveira em 1968 (28 de agosto).

O fenômeno é o mesmo. Ele responde: “É o cansaço, o terrível cansaço de ser lógico, sério, coerente e arguto”. Sim, estaremos cansados, o excesso de informações na internet, imprensa, rádio, TV, continuando a produzir esta estafa.

Mas convém ter presente que o autor afirma, no mesmo artigo: “Pode-se dizer que em muitas guerras ou tensões internacionais, ganhou quem, até o fim, não se deixou penetrar por esse amolecimento fatal”.

Sejamos um destes. Sacudamos o torpor. O momento presente no-lo pede. Nossa Senhora nos ajudará.
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(*)  Léo Daniele é colaborar da ABIM

sábado, 17 de setembro de 2011

Tradição conduz novamente o Colégio de São Bento (RJ) ao topo do Enem

Nilo Fujimoto (*) 

Não é novidade. O primeiro no ranking do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) pela quarta vez em 6 anos do ENEM é o Colégio de São Bento, no Rio de Janeiro*.

Com 153 anos de existência, sempre sob a mesma orientação de princípios no ensino, a instituição vem mantendo a tradição admitindo apenas meninos em seus cursos. Certamente por entender que a desigualdade deve ser respeitada, meninos e meninas têm capacidades, interesses e aptidões diferentes.

Essa distinção possibilita a criação de um ambiente em que os homens podem desenvolver suas qualidades como confirma o ex-aluno Henrique Rondinelli, agora destacado aluno do curso de Direto da UFRJ: “Tínhamos mais liberdade para brincadeiras de garotos, o que fazia com que a gente se sentisse muito bem, inclusive com professores e funcionários. Acho que se entrar menina, esse encanto se quebra.”

A disciplina e a cobrança do cumprimento do regulamento interno é um dos elementos indispensáveis para a formação vitoriosa: nove aulas por dia, das 7h30 às 17h30 de segunda a sexta, e provas em todos os sábados. Somando-se a matérias comuns a todas as escolas, o Colégio de São Bento oferece aulas de conteúdo cultural, como história da arte, apreciação musical, cultura clássica e até mesmo teologia.

Pois, então, é o respeito às desigualdades entre os sexos – suas aptidões, qualidades e dinamismos –, a observação do equilíbrio na aplicação da disciplina e das cobranças e o primoroso conteúdo de matérias – inclusive religioso – que constituem os elementos para a boa educação e sucesso da instituição. (*) Cfr.: G1, 12/9/2011, “Colégio de São Bento, no Rio, volta ao topo do ranking do Enem no país”
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(*)  Nilo Fujimoto é colaborar da ABIM

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Stalinismo: fossa comum com os restos de 495 pessoas


Hélio Dias Viana (*) 

Quando será estabelecida uma Nurenberg para julgar os casos das vítimas do comunismo? – Eis uma nova e estarrecedora descoberta.

Stalinismo: fossa comum com os restos de 495 pessoas
Giovanni Bensi, “Avvenire”, 17 julho de 2010 MOSCOU 

Os ossos descobertos na periferia de Vladivostok, no Pacífico sul, pertencem a centenas de vítimas do terror staliniano, mortos pela NKVD, a polícia política “precursora” da KGB. As autoridades locais o confirmaram com base nos resultados reunidos pelos especialistas de medicina legal.

A macabra descoberta ocorreu no corrente mês, mas sua confirmação só chegou agora: trata-se de esqueletos de nada menos 495 pessoas, a maioria com sinais de disparo na nuca, e de umas 3,5 toneladas de outros ossos, trazidos à luz numa fossa comum por operários empenhados em trabalhos na estrada.

O prefeito de Vladivostok emitiu um comunicado, no qual afirma que “a hipótese de que os restos pertencem a vítimas da repressão está confirmada”. As vítimas, segunda conclusão da perícia, foram mortas presumivelmente durante o “grande terror” dos anos 30 do século passado, quando milhões de cidadãos soviéticos foram fuzilados ou eliminados nos campos de trabalhos forçados siberanianos do Gulag, do qual Vladivostok era um centro de desova. Agora os restos serão sepultados num memorial.
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(*)  Hélio Dias Viana é colaborar da ABIM

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Fará a Turquia justiça aos cristãos?


Heitor Abdalla Buchaul (*)

Em discurso após a nova vitória do AKP (Partido pela Justiça e Desenvolvimento) nas eleições legislativas de 12 de junho, o primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdogan (foto) prometeu trabalhar por todos os cidadãos do país, de todas as religiões e estilos de vida. O governo Erdogan aprovou um decreto-lei para restituir às minorias cristã e judaica as propriedades confiscadas desde 1936. Mas o que realmente está por trás dessa iniciativa?

Devemos salientar, antes de tudo, que os católicos latinos não estão abrangidos pelo decreto-lei acima citado.

A Federação Armênia pela Justiça e Democracia comenta a decisão do governo Turco: “Não nos enganemos: se a Turquia quer devolver os bens outrora pertencentes às minorias, não é por um desejo brusco de Justiça, mas por uma injunção da Corte Europeia de Direitos Humanos e a pedido do Congresso americano [...]. Continuam em vigor as leis promulgadas por Ataturk [presidente turco que criou a Turquia moderna] logo depois do genocídio armênio, impedindo os refugiados armênios oriundos da Turquia de retornarem às suas cidades ou aldeias natais“. 

A lei de 20 de abril de 1922 prevê o confisco na Cilícia de todos os bens pertencentes às pessoas que deixaram a região.
A lei de 25 de abril de 1923 estende o confisco a todos os armênios, quaisquer que fossem os motivos ou a data de sua saída do país.
A lei de setembro de 1923 proíbe em seu artigo 2o. o retorno dos armênios à Cilícia e a todas as províncias do oriente (Armênia Ocidental).
A lei de 23 de maio de 1927 exclui da nacionalidade turca todos aqueles que durante a guerra de independência não tomaram parte ou ficaram no estrangeiro entre 24 de julho de 1923 (Tratado de Lausanne) e a data da promulgação desta lei.

Se tais leis criminosas juntarmos as obrigações da Turquia em relação às minorias cristãs, frequentemente não respeitadas, fica claro que o gesto de Erdogan não é mais que uma gota d’água num oceano de reparações devidas ao povo armênio. Das 2000 igrejas da Comunidade Armênia até 1915, restam menos de 40 em atividade.
Algumas vítimas do Genocídio Armênio
(1915-1916)

O presidente da ANCA (Comitê Nacional Armênio da América) declara: “Menos de 1% das igrejas e das propriedades da Igreja confiscadas durante o genocídio armênio e as dezenas que se seguiram serão restituídas [...]. A ANCA vai garantir junto às instituições americanas que o governo turco se reconcilie efetivamente com seu passado brutal, respeitando a liberdade das comunidades cristãs sobreviventes e restituindo o fruto de seus crimes”. 

Podemos concluir que com essas medidas o governo turco quis demonstrar que é “moderno”, “democrático” e está em condições de entrar na União Européia. Mas um passado não muito distante mostra o contrário: em 1998, o mesmo Erdogan recebeu uma condenação por incitação ao ódio, quando em um discurso seu mencionou o seguinte trecho de um poema turco: “Os minaretes serão nossas baionetas, as cúpulas nossos capacetes, as mesquitas são os nossos quartéis, os crentes os nossos soldados". 

Será possível uma mudança tão radical? O futuro dirá.
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(*) Heitor Abdalla Buchaul é colaborar da ABIM

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Fazem falta verdadeiras elites



Leo Daniele (*)

Poucas coisas existem simples como a desigualdade. Poucas complicadas, torcidas e equivocadas, como o igualitarismo.

Neste mundo sem dogmas e sem religião, o igualitarismo é uma espécie de “dogma”. Para os igualitários, as desigualdades são como as doenças: não se consegue evitá-las completamente, mas é preciso afastá-las o quanto for possível.

Verdadeiro ou falso? Falso! Como se lê no livro Nobreza e Elites Tradicionais análogas, de Plinio Corrêa de Oliveira (ao lado foto da capa) . E inclusive a sabedoria imemorial de todos os povos rejeita essa concepção igualitária.

A falta de espaço impede uma explanação metódica e completa sobre o tema das desigualdades, como a faria o ilustre autor, considerado “o teólogo das desigualdades sociais”. Ouçamos, entretanto, em breves sentenças o eco da sabedoria dos povos e dos milênios, sobre esse asssunto.

  • O velho Eurípedes afirmava que a igualdade não tem outra existência que a de seu nome.
  • Plutarco observava que a distância de animal a animal de espécies diversas não é tão grande quanto a que vai de homem a homem.
  • Constatam os árabes que até os cinco dedos da mão não são iguais.
  • Os alemães, de seu lado, recomendam a quem procura a igualdade, que vá ao cemitério.
  • Dizem os indianos: “Entre os homens, uns são jóias, outros pedregulhos”.
  • Com espírito, acrescentam os turcos: “Os cisnes pertencem à mesma família que os patos, só que eles são cisnes”.
  • Os gregos sentenciam: “Se o sol não existisse, seria noite apesar da presença de todas as estrelas”.
  • Vauvenargues remata: “A natureza nada fez de igual; sua lei soberana é a submissão e a dependência”.

E cada leitor pode acrescentar suas observações, pois até duas gotas de água da chuva que caem numa vidraça são desiguais. Se isso é assim, é porque Deus quis que assim fosse. Vamos, então, para as alturas! “Sede perfeitos, como vosso Pai celeste é perfeito”, ensinava Nosso Senhor Jesus Cristo.

O que concluir? Deus é o autor de todas as desigualdades e, respeitada a igualdade fundamental proveniente do fato de todos os homens terem a mesma natureza e os mesmos direitos fundamentais, devemos amar as desigualdades acidentais entre eles, se queremos amar a Deus.

Bem… se isto for visto assim por muitos, será natural a formação de numerosas elites. Sim, de verdadeiras elites. De elites tradicionais. De elites autênticas. De cuja ausência, hoje tanto se ressente a sociedade brasileira.
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(*)  Léo Daniele é colaborar da ABIM