Heitor Abdalla Buchaul (*)
Devemos salientar, antes de tudo, que os católicos latinos não estão abrangidos pelo decreto-lei acima citado.
A Federação Armênia pela Justiça e Democracia comenta a decisão do governo Turco: “Não nos enganemos: se a Turquia quer devolver os bens outrora pertencentes às minorias, não é por um desejo brusco de Justiça, mas por uma injunção da Corte Europeia de Direitos Humanos e a pedido do Congresso americano [...]. Continuam em vigor as leis promulgadas por Ataturk [presidente turco que criou a Turquia moderna] logo depois do genocídio armênio, impedindo os refugiados armênios oriundos da Turquia de retornarem às suas cidades ou aldeias natais“.
A lei de 20 de abril de 1922 prevê o confisco na Cilícia de todos os bens pertencentes às pessoas que deixaram a região.
A lei de 25 de abril de 1923 estende o confisco a todos os armênios, quaisquer que fossem os motivos ou a data de sua saída do país.
A lei de setembro de 1923 proíbe em seu artigo 2o. o retorno dos armênios à Cilícia e a todas as províncias do oriente (Armênia Ocidental).
A lei de 23 de maio de 1927 exclui da nacionalidade turca todos aqueles que durante a guerra de independência não tomaram parte ou ficaram no estrangeiro entre 24 de julho de 1923 (Tratado de Lausanne) e a data da promulgação desta lei.
Se tais leis criminosas juntarmos as obrigações da Turquia em relação às minorias cristãs, frequentemente não respeitadas, fica claro que o gesto de Erdogan não é mais que uma gota d’água num oceano de reparações devidas ao povo armênio. Das 2000 igrejas da Comunidade Armênia até 1915, restam menos de 40 em atividade.
Algumas
vítimas do Genocídio Armênio (1915-1916) |
O presidente da ANCA (Comitê Nacional Armênio da América) declara: “Menos de 1% das igrejas e das propriedades da Igreja confiscadas durante o genocídio armênio e as dezenas que se seguiram serão restituídas [...]. A ANCA vai garantir junto às instituições americanas que o governo turco se reconcilie efetivamente com seu passado brutal, respeitando a liberdade das comunidades cristãs sobreviventes e restituindo o fruto de seus crimes”.
Podemos concluir que com essas medidas o governo turco quis demonstrar que é “moderno”, “democrático” e está em condições de entrar na União Européia. Mas um passado não muito distante mostra o contrário: em 1998, o mesmo Erdogan recebeu uma condenação por incitação ao ódio, quando em um discurso seu mencionou o seguinte trecho de um poema turco: “Os minaretes serão nossas baionetas, as cúpulas nossos capacetes, as mesquitas são os nossos quartéis, os crentes os nossos soldados".
Será possível uma mudança tão radical? O futuro dirá.
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(*) Heitor Abdalla Buchaul é colaborar da ABIM
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