• Heitor Buchaul (*)
O título em epigrafe foi tema de um seminário, realizado no dia 2 de outubro, no Parlamento Europeu em Bruxelas por iniciativa da COMECE (Comissão dos Episcopados da União Europeia) em cooperação com alguns membros dos Grupos parlamentares EPP e ECR.
A atualidade do assunto atraiu grande assistência, que ouviu atenta e estarrecida os relatos dos inúmeros tipos de perseguições a que os cristãos estão sujeitos no continente europeu.
O representante do Observatório sobre Intolerância e Discriminação contra os Cristãos na Europa citou surpreendentes estatísticas: “84% do vandalismo na França em 2010 foram dirigidos contra lugares cristãos; em 2006, 48% do clero no Reino Unido sofreram alguma forma de violência”. E acrescentou: “Os cristãos do Reino Unido sentem-se mais marginalizados do que nunca; 74% dizem que há mais discriminação contra os cristãos do que contra qualquer outro crente; mais de 60% acreditam que a marginalização aumenta no governo, no local de trabalho e na vida publica”.
A perseguição aos cristãos é um fato também nas instâncias da Comunidade Europeia e, como acontece em outros países, é perpetrada em grande medida pelo Poder Judiciário. Coube ao Dr. Javier Borrego [foto abaixo], antigo juiz da Corte Europeia de Direitos Humanos, discorrer sobre este tema.
O jurista espanhol começou seu discurso fazendo o Sinal da Cruz, comentando em seguida: “Ter feito este sinal pode espantar a muitos, embora não causasse surpresa se fosse um muçulmano dizendo uma oração em árabe”. Segundo o magistrado, o tribunal europeu está ficando cada vez mais ideologizado, emitindo sentenças frívolas e propondo-se “o grande legislador da Europa; criando direito e fazendo engenharia social, algo que não é de sua atribuição”. Ele citou o famoso caso dos crucifixos na Itália, onde nenhuma autoridade nacional italiana foi ouvida, tendo mesmo alguns juízes europeus declarado com ironia: “Não se preocupem, em um ano não haverá mais crucifixos em lugares públicos da Europa”. No entanto, isso gerou uma saudável reação popular.
Por sua vez, chamou a atenção o discurso do jovem Mons. Florian Kolfhaus, da Secretaria de Estado da Santa Sé, salientando a enorme propaganda midiática contra a Santa Igreja e comparando-a com o caso muçulmano: “Há enorme rebuliço se desrespeitam a figura de Maomé, mas o que fazem quando o desrespeito é contra os católicos, contra Nosso Senhor ou o Santo Padre?”. E acrescentou: “Para nós, cristãos, não basta termos o direito de existir; temos que poder nos dirigir livre e abertamente a Nosso Senhor Jesus Cristo e dizer que Ele é a único Salvador. […] Nos Estados Unidos, para se ganhar a eleição, é necessário falar em Deus. Algo não anda bem na sociedade europeia”.
Houve também outras interessantes intervenções de deputados europeus, como a da deputada lituana Laima Liucija Andrikiene: “Os feriados cristãos desapareceram dos calendários enquanto subsistem as festas muçulmanas e judaicas. Para onde vamos? Qual deverá ser a nossa posição? O que devemos fazer para defender os nossos valores? [...] Os católicos têm o direito de protestar. A liberdade de expressão, alegada em casos que ofendem os cristãos, tem de ter limite. Os lituanos estão perplexos, pois a perseguição antes soviética agora se apresenta com face mais humana”.
O deputado Charles Tannock, do Reino-Unido, não poupou críticas à União Europeia: “A perseguição pela UE é maior contra os cristãos. A discriminação dos cristãos é um tabu no Parlamento Europeu”. E mais adiante: “Duas mulheres no Reino Unido foram demitidas de seus empregos por portarem crucifixos, mas isso não ocorre com judeus ou muçulmanos”.
No mesmo sentido foi o discurso da deputada eslovaca Anna Zaborska: “É bom que os cristãos se mobilizem, a liberdade religiosa não é a mesma para todos e não é respeitada em todo o mundo. Há um desequilíbrio da União, da Comissão e do Parlamento [europeus] sobre a perseguição em relação aos muçulmanos e aos cristãos. A perseguição pode ser feita de maneira sutil. Por exemplo, este ano o Parlamento suprimiu de seu calendário a Assunção e Pentecostes; são pequenas coisas que se acumulam e que são símbolos de perseguição”.
Quanto às intervenções do público, merece destaque a de uma professora belga, que foi agredida mais de uma vez por muçulmanos em seu próprio país, por portar o Crucifixo.
O seminário foi concluído com as palavras do Mons. Piotr Mazurkiewicz, secretário-geral da COMECE, que salientou o problema do laicismo, uma verdadeira religião da não-religião: “Não se pode considerar como neutra uma decisão de retirar os crucifixos. Isto também significa uma tomada de posição religiosa [...] a ação dos deputados faz-se necessária”.
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(*) Heitor Buchaul é colaborador da Agência Boa Imprensa (ABIM)
Um comentário:
Sou radicalmente contra a retirada dos cricifixos, porque todos tem o direito a livre religião, respeitando as demais;por outro lado os padres no Brasil, apoiam incondicionalmente o governo que ai está, deu no que deu, portanto eles são mais responsáveis do que nunca e se manifestam timidamente para ñ perder as benesses governamentais.
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