sexta-feira, 22 de março de 2013

O BOFE DA IGREJA

Segundo Leonardo Boff, a Igreja deveria ser destituída de todo poder. Seria uma "igreja ecológica" (sic) e que vivesse "fora dos palácios e dos símbolos do poder" 
Paulo Roberto Campos

No último post tratamos de quanto é contrária à da Igreja Católica a visão de Frei Beto (A concepção de Frei Beto sobre a Igreja é diametralmente oposta à Santa Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo). No mesmo sentido, recebi ontem um artigo de outro “teólogo” da libertação. Trata-se de Leonardo Bof, cujo sobrenome — como fiz em relação ao pseudônimo de Frei Beto  grafo com um só “f”, pois ambos são miserabilistas e contrários ao supérfluo, devendo, portanto, ser “simples” em tudo... 


Leonardo Boff 
e sua atual companheira
Aliás, Bof também deveria, em razão da “pobreza” e da “simplicidade” que defende, desapegar-se do prenome “Leonardo”, pois este é seu nome religioso, ao qual só tinha direito enquanto foi franciscano. Desde que abandonou sua Ordem religiosa, em 1992, e juntou-se à madame aí do lado, voltou de fato a ser o Genézio Boff constante de seu registro civil. 

Mas, voltando ao mencionado artigo, trata-se de uma matéria do Sr. Genézio Bof para o “Jornal do Brasil (on-line), do dia 17 último, intitulada “O papa Francisco chamado a restaurar a Igreja”. Nela não transparece a humildade franciscana — a cujo chamado ele voltou as costas —, mas sim a pretensão de querer dar lições de “Teologia da Libertação” ao próprio Papa. Imaginem só! Vejamos um trecho do artigo:
“Francisco não é um nome. É um projeto de Igreja, pobre, simples, evangélica e destituída de todo o poder. É uma Igreja que anda pelos caminhos, junto com os últimos; que cria as primeiras comunidades de irmãos que rezam o breviário debaixo de árvores junto com os passarinhos. É uma Igreja ecológica (sic) que chama a todos os seres com a doce palavra de ‘irmãos e irmãs’. Francisco se mostrou obediente à Igreja dos papas e, ao mesmo tempo, seguiu seu próprio caminho com o evangelho da pobreza na mão. Escreveu o então teólogo Joseph Ratzinger: ‘O não de São Francisco àquele tipo imperial de Igreja não poderia ser mais radical, é o que chamaríamos de protesto profético’ (em “Zeit Jesu”, Herder 1970, 269). Ele não fala, simplesmente inaugura o novo. Creio que o papa Francisco tem em mente uma Igreja assim, fora dos palácios e dos símbolos do poder”.
Ao ler tal sofisma, uma “bofada”, recordei-me de Joãozinho Trinta. Lembram-se? Com muito conhecimento de causa, o carnavalesco afirmara em 1978: “O povo gosta de luxo. Quem gosta de miséria e intelectual”. É por isso que se vê no carnaval o povo vestido de príncipes, princesas, reis e rainhas, com seus coloridos mantos e coroas douradas. 


Por isso também é que se costuma dizer que “a Igreja é o palácio dos pobres”. O povo gosta de pompa e circunstância, de esplendor, de coisas maravilhosas que lembrem o Céu, de belas e ricas cerimônias religiosas como as de antigamente, que faziam superlotar praças e igrejas — hoje esvaziadas por causa das pregações da doutrina miserabilista da “Teologia da Libertação”.

E por que o povo gosta de tudo isso? Simplesmente porque, conforme disse Tertuliano, “a alma humana é naturalmente cristã”, feita à imagem e semelhança de Deus, que é Soberano Todo-Poderoso, Senhor do Céu e da Terra, dos Anjos e dos Homens. 

A fim de nos mostrar a verdadeira doutrina católica, segundo a qual não existe contradição entre as grandezas esplendorosas da Igreja e o autêntico espírito de pobreza — refutando assim o sofisma do Sr. Genézio Bof —, recorro novamente ao líder católico brasileiro Plinio Corrêa de Oliveira, de quem reproduzo uma matéria publicada na revista Catolicismo em dezembro/1958. Mais de meio século depois, a mesma se mostra hoje mais atual do que nunca.


Pobreza e fausto: extremos harmônicos no firmamento da Igreja 


Plinio Corrêa de Oliveira (*) 


Um aspecto da Santa Igreja 

Numa cela cheia de penumbra, ante um crucifixo que relembra a morte mais dolorosa que jamais houve, um monge cartuxo [foto] folheia um devocionário. Revestido de um simples e pobre burel, com uma longa barba, esse Religioso parece a personificação de todos os elementos que impregnam o ambiente que o rodeia: gravidade extrema, resolução varonil de só viver para o que é profundo, verdadeiro, eterno, nobre simplicidade, espírito de renúncia a tudo quanto é da Terra, pobreza material enfim, iluminada pelos reflexos sobrenaturais da mais alta riqueza espiritual. 


Outro aspecto da Santa Igreja 

Na imensa nave central da Basílica de São Pedro, movimenta-se majestoso o cortejo papal. Na fotografia, percebe-se apenas uma parte dele, isto é, alguns Cardeais e os dignitários eclesiásticos e leigos que precedem imediatamente a sedia gestatória. Nesta, o Sumo Pontífice, ladeado dos famosos flabelli e seguido da Guarda Nobre. Ao fundo, ergue-se o Altar da Confissão, com suas elegantíssimas colunas e seu esplêndido dossel. E bem mais atrás a célebre Glória de Bernini. As altas paredes recobertas de mármores admiráveis e adornadas de relevos, os arcos a um tempo leves e imensos, as luzes que resplandecem como se fossem estrelas ou fulgidíssimos brilhantes, tudo enfim se reveste de uma grandeza, de uma riqueza que é bem o supra-sumo do que a Terra pode apresentar de mais belo. É a maior pompa de que o homem seja capaz, realçada pela magnificência da arte e pelo esplendor dos recursos naturais da pedra. 
*     *     *
O que em um quadro é gravidade recolhida, no outro é glória irradiante. O que em um é pobreza, no outro é fausto. O que em um é simplicidade, no outro é requinte. O que em um é renúncia às criaturas, no outro é a superabundância das mais esplêndidas dentre elas. Contradição? É o que muitos diriam: pode-se, então, amar a um tempo a riqueza e a pobreza, a simplicidade e a pompa, a ostentação e o recolhimento? Pode-se a um tempo louvar o abandono de todas as coisas da Terra, e a reunião de todas elas para a constituição de um quadro em que reluzem os mais altos valores terrenos?


O problema é muito atual, no momento em que Sua Santidade o Papa João XXIII se mostra tão edificantemente zeloso das esplêndidas tradições vaticanas, com manifesto desconcerto de elementos que têm uma mentalidade à Aneurin Bevan (o líder trabalhista que foi paladino na luta contra todas as pompas, e assistiu de costas a uma parte da cerimônia de coroação da Rainha Elizabeth II).


Não, entre uma e outra ordem de valores não 
existe contradição, senão na mente dos igualitários, servos da Revolução. Pelo contrário, a Igreja se mostra santa, precisamente porque com igual perfeição, com a mesma sobrenatural genialidade, sabe organizar e estimular a prática das virtudes que esplendem na vida obscura do Monge, e das que refulgem no cerimonial sublime do Papado. Mais ainda. Uma coisa se equilibra com a outra. Quase poderíamos dizer que um extremo (no sentido bom da palavra) compensa a outro e com ele se concilia.


O fundo doutrinário no qual estes dois santos extremos se encontram e se harmonizam é muito claro. Deus Nosso Senhor deu-nos as criaturas, a fim de que estas nos sirvam para chegarmos até Ele. Assim, cumpre que a cultura e a arte, inspiradas pela Fé, ponham em evidência todas as belezas da criação irracional e os esplendores de talento e virtude da alma humana. É o que se chama cultura e civilização cristã. Com isto, os homens se formam na verdade e na beleza, no amor da sublimidade, da hierarquia e da ordem que no universo espelham a perfeição d’Aquele que o fez. E assim as criaturas servem, de fato, para a nossa salvação e a glória divina. Mas, de outro lado, elas são contingentes, passageiras; só Deus é absoluto e eterno. Cumpre lembrá-lo. E por isto é bom afastar-se dos seres criados, para no desprezo de todos eles pensar só no Senhor. 


Do segundo modo, considerando tudo o que as criaturas são, se sobe até Deus; e do outro modo, se vai até Ele considerando o que elas não são. A Igreja convida seus filhos a irem por uma e outra via simultaneamente, pelo espetáculo sublime de suas pompas, e pela consideração das admiráveis renúncias que só Ela sabe inspirar e fazer realizar efetivamente. 

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(*) Catolicismo, Nº 96 – Dezembro/1958.

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