Pe. David Francisquini (*)
Um padre zeloso vivendo dentro de uma paróquia, ou mesmo um leigo que tenha uma vida religiosa comum, pode perceber na vida moderna as dificuldades e os obstáculos como que intransponíveis para a salvação das almas. Digo “como que”, pois, apesar dos obstáculos, a graça de Deus nunca falta. Mas trata-se de uma verdadeira engrenagem, de uma máquina de grande potencial, cujos fios entrelaçados quais teias de aranha, captam as almas com uma facilidade inacreditável.
Notam-se, aqui e acolá, as emboscadas, as armadilhas constantes que, desde a mais tenra idade, turvam o panorama com uma verdadeira avalanche de vícios e defeitos, propagados em profusão, impelindo as almas para caminhos contrários aos Dez Mandamentos. Nesta perspectiva, vamos mostrar como a Virgem de Fátima tinha toda razão ao se manifestar no século passado preocupada com o avanço da imoralidade, da perversidade e do endurecimento das almas.
Em Fátima, no dia 13 de julho de 1917, Nossa Senhora mostrou aos três pastorinhos o inferno, onde caem as almas dos pobres pecadores como chuva miúda, ou como uma torrente que despenca, formando uma cachoeira. Por que tudo isto? Para nos advertir dos perigos que nos espreitam com análogo destino, caso nos deixemos arrastar pela impiedade reinante e o ateísmo latente e difuso de nossa época.
Entretanto, como negar que tudo impele as almas nessa direção? Não é gritante e mesmo alarmante o relativismo moral, a indiferença, a acomodação e adaptação com o vício, um como que pacto profundo e secreto que une as pessoas entre si, em sentido contrário ao que pediu Nossa Senhora?
As pessoas vêem o problema, às vezes sentem-se inclinadas a um movimento bom de querer deixar a má situação em que vivem, mas encontram um obstáculo intransponível, muitas vezes, no próprio ambiente onde vivem. Este exerce sobre elas uma pressão ditatorial que as impede de se moverem no sentido do bem. É como se tivessem de nadar contra a correnteza, o que é árduo.
A partir do relativismo moral, estabelece-se a cidadania do vício, que no começo é mais deleitoso e atraente. Para isso concorrem poderosamente os maus exemplos propagandeados pelos meios de comunicação social, com suas novelas e filmes, exibindo verdadeiras cenas de alcova, sem falar dos sites de pornografia e pedofilia não pouco comuns na internet. Tudo, enfim, direcionando para o abismo.
Como não ver nessa conjugação de forças um intento de estabelecer o reino de satanás? Tudo isso explica a tristeza manifestada por Nossa Senhora em suas aparições, com o coração cercado de espinhos que os homens ingratos nele cravam sem piedade. O único meio para reverter tal situação é a devoção ao Imaculado Coração de Maria e o atendimento de seus pedidos.
Nada pode impedir a vitória do bem, ainda quando o mal pareça invencível e indestrutível. É eloqüente o exemplo de David com Golias: uma funda e cinco pedrinhas colhidas numa torrente foram suficientes para que ele prostrasse por terra o invencível gigante.
Nossa Senhora colocou em nossas mãos essas pedrinhas. Ela no-las deu na forma das contas do Rosário, que é a nossa funda para prostrarmos satanás, seus sequazes, suas pompas e suas obras. Com a oração, teremos forças para imitar os bons exemplos contidos na vida dos santos. Através da prece humilde e confiante veremos nossa vontade ser fortalecida, e obteremos de Deus a união dos bons contra o mal. Nascerá daí uma luz de esperança que iluminará este túnel escuro, no qual a humanidade se encontra.
Pretendo, no próximo artigo, estender-me um pouco mais sobre os meios que a Igreja coloca à nossa disposição para vencermos essa luta e alcançarmos nossa salvação.
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