sábado, 29 de setembro de 2012

O celibato eclesiástico vem da ligação sobrenatural do Sacerdote católico com Cristo, o Sumo-Sacerdote

Imagem de Nosso Senhor Jesus Cristo Sumo Sacerdote – Catedral de Salvador, BA (Foto PRC)

Luiz Sérgio Solimeo 

Em épocas de crise, sempre surgem pretensos reformadores com soluções “geniais”, que não consistem em outra coisa senão em demolir as mais veneráveis tradições da Igreja.

Um dos alvos mais constantes desses pretensos reformadores tem sido o celibato eclesiástico, uma das glórias da Igreja latina.

Abandono do celibato e divórcio 
É curioso que, juntamente com a abolição do celibato clerical, vem o abandono da indissolubilidade do matrimônio. E compreende-se: julgando-se impossível a guarda da castidade, não é só a continência celibatária que cai por terra, mas também a castidade conjugal, a fidelidade no matrimônio.

Historicamente vemos que foi o que se deu com os cismáticos orientais, os protestantes, anglicanos, etc. A abolição total ou parcial do celibato clerical veio conjuntamente, ou foi precedida, da permissão para o divórcio.

Os atuais escândalos sexuais, tão noticiados pela mídia, têm servido de pretexto para um recrudescimento da campanha contra o celibato eclesiástico. Setores da mídia, organizações de padres-casados, de católicos liberais, vêm insistido no assunto. Além dos argumentos pseudo-científicos que visariam provar a impossibilidade da guarda da castidade, está sendo muito difundido o argumento de que o celibato é uma disposição puramente disciplinar, introduzido tardiamente na legislação da Igreja e que pode ser abolido sem maiores problemas. Ou, ao menos pode ser tornado optativo, com sacerdotes casados ou célibes, conforme decisão pessoal. Na verdade, inúmeros estudos, muitos deles recentes que desmentem por completo esse argumento pretensamente histórico-canônico.[1]

Prática da continência na Igreja primitiva
Esses estudos, com base em sólida documentação e irrepreensível documentação mostram que, embora não se possa falar em celibato no sentido estrito da palavra — isto é pessoa que nunca se casou —, é certo que desde os tempos apostólicos a Igreja teve como norma que aqueles que eram elevados ao Sacerdócio e ao Episcopado (como também os Diáconos) deviam guardar a continência. Caso fossem casados, o que era muito comum nos inícios da Igreja eles deviam, com o consentimento das esposas cessar a vida conjugal e inclusive de habitar sob o mesmo teto.

Vamos seguir aqui mais diretamente o breve, mas denso estudo do Cardeal Alfons Stikler [foto], pela sua autoridade de historiador do Direito Canônico e antigo bibliotecário da Santa Igreja.

Segundo explica ele, a Igreja dos tempos apostólicos e a Igreja primitiva não exigiam que uma pessoa fosse solteira ou viúva para ser ordenada sacerdote ou designada bispo.

Tendo em vista que grande número dos cristãos era composta de convertidos, às vezes na idade adulta (o caso de Santo Agostinho, convertido aos 30 anos, é típico), era comum que um casado fosse ordenado sacerdote e feito bispo. Mas, como se lê nas Epístolas de São Paulo a Tito e a Timóteo, o Bispo devia ser “homem de uma só mulher”,[2] no sentido de ter sido casado uma só vez.

Com efeito, julgava-se que uma pessoa que, tendo ficado viúva, tinha casado de novo, dificilmente teria força suficiente para cessar as relações conjugais e a convivência sob o mesmo teto. É evidente, salienta o Card. Stikler, que, dado o caráter de mútua entrega do matrimônio, tal separação só podia efetivar-se com inteiro acordo da esposa, a qual, por sua vez, se comprometia a viver na castidade em uma comunidade feminina.

A confirmação pelos Evangelhos
Em relação aos Apóstolos, só de São Pedro sabemos com certeza que fosse casado, pois sua sogra é mencionada nos Evangelhos.[3] Mas é possível que outros também o fossem. Mas temos a indicação clara de que eles abandonaram, inclusive a família, para seguir a Cristo.

Assim, lemos nos Evangelhos que quando São Pedro perguntou a Nosso Senhor, “Vê, nós abandonamos tudo e te seguimos”. Jesus respondeu: Em verdade vos declaro: ninguém há que tenha abandonado, por amor do Reino de Deus, sua casa, sua mulher, seus irmãos, seus pais ou seus filhos, que não receba muito mais neste mundo e no mundo vindouro a vida eterna.[4] Não caberia neste artigo acompanhar toda a história do celibato, conforme a ampla documentação citada pelo Card. Stikler. Resumidamente, apresentamos alguns dados mais salientes.

Já o Concílio de Elvira, na Espanha (310 A.D), no Cânon 33, ao tratar da continência sacerdotal, apresenta o celibato como uma norma que deve ser mantida e observada e não como uma inovação. E o fato de não ter havido nem revolta nem surpresa mostra que essa era a realidade.

O mesmo se dá no Concílio da Igreja da África, por volta de 390 e sobretudo no Concílio de Cartago, também no norte da África, (ano 419), do qual participou nada menos do que Santo Agostino. Esses Concílios lembram a práxis eclesiástica da obrigação do celibato, afirmando que tal praxe é de tradição apostólica.

Celibato não foi introduzido na Idade Média
O Papa Siricius, respondendo em 385 a uma consulta específica sobre a continência clerical, afirma que os Bispos e padres que continuam suas relações conjugais após sua ordenação vão contra uma irrevogável lei que os liga à continência e que vem desde os começos da Igreja.

Vários outros Papas e Concílios regionais, em especial na Gália, continuaram a lembrar a tradição do celibato e a punir os abusos.

Na luta que São Gregório VII travou no século XI contra a intervenção do Imperador do Sacro Império em assuntos eclesiásticos, conhecido como a querela das investiduras, ele teve que combater a simonia — a compra dos cargos eclesiásticos —, e o nicolaísmo — heresia que prega, entre outras coisas, o casamento clerical.

Não foi esse Santo, como alegam muitos, ou o Segundo Concílio de Latrão (1139) que “introduziram” a lei do celibato na Igreja; eles apenas confirmaram a vigência de uma disposição que vinha desde o início da Igreja, e tomaram disposições para manter a sua observância. Esse concílio lateranense não somente confirmou a lei da continência, mas declarou nulo o casamento tentado por sacerdotes e diáconos ou por aqueles ligados por votos solenes de Religião.

Erros e falsificações
O principal argumento daqueles que negam a tradição apostólica da continência clerical é que, durante o Primeiro Concílio de Nicéia, em 325, um Bispo e Ermitão famoso, Paphnutius, do Egito, teria se levantado, em nome da tradição, para dissuadir os Padres Conciliares, de impor a continência clerical. Diante de tal intervenção, o Concílio teria se negado a impor tal continência.

Ora, argumenta o Cardeal, o historiador desse Concílio, que esteve presente nele, Eusébio de Cesarea, não faz referência a esse fato, o qual, a ter existido, teria chamado sua atenção. A menção a Paphnutius só aparece quase um século depois, na pena de dois escritores bizantinos, Socrates e Sozomen, sendo que o primeiro dá como fonte uma conversa que teve quando jovem com um velho que teria participado daquele Concílio. No entanto, tal afirmação é muito questionável, pois Socrates nasceu por volta de 380, ou seja, mais de cinquenta anos após o Concílio, o que faz com que sua pretensa fonte fosse ao menos septuagenária quando ele nasceu, e praticamente nonagenária quando ele fosse um rapaz.

A história da intervenção de Paphnutius sempre foi tida em suspeição, inclusive porque seu nome não consta da lista de Padres vindos do Egito para o Concílio de Nicéia, como atesta Valesius, editor das obras de Socrates e Sozomen na Patrologia Grega de Migne.

Mas, o argumento decisivo, segundo o Card. Stikler, é o de que os próprios gregos não apresentaram o testemunho de Paphnutius para justificar sua ruptura com a tradição da continência clerical. Quando, no segundo Concílio de Trullo (691), por pressão do Imperador, permitiram o uso do matrimônio para os clérigos (não para os Bispos) — contrariando a tradição tanto do Oriente como do Ocidente — foram buscar no Concílio de Cartago, acima citado, uma possível justificação. Mas, posto que esse Concílio era claro na defesa da tradição apostólica da continência, foi necessário falsificar seus decretos, como é reconhecido, hoje em dia, pelos próprios historiadores cismáticos.

O Card. Stikler lamenta que historiadores do peso de Funk, no fim do século XIX, tenham aceitado como válida a história de Paphnutius, quando, em sua época, a crítica histórica já havia rejeitado sua veracidade. O francês Vacandard, através do prestigioso Dictionnaire de Théologie Catholique, foi um dos responsáveis pela divulgação desse erro.

União com Cristo Sacerdote
Conforme argumenta o Card. Stikler, a razão do celibato eclesiástico não é funcional. Ao contrário do Antigo Testamento, em que o Sacerdócio era apenas uma função temporária, recebida por via hereditária, o Sacerdócio do Novo Testamento é uma vocação, um chamado que transforma a pessoa e o confisca por inteiro. Ele é um santificador, um mediador.

Mais do que tudo, o Sacerdócio do Novo Testamento é uma participação no Sacerdócio de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Sumo Sacerdote. E, portanto, o Padre tem uma ligação misteriosa e especial com Cristo, em cujo nome e por cujo poder ele oferece o sacrifício incruento (in persona Christi). Portanto, é dessa ligação sobrenatural com o Salvador que vem a razão mais profunda do celibato sacerdotal.

O que existe hoje, aponta o Cardeal, é uma crise de identidade no clero, da qual decorre a crise do celibato. É preciso restaurar a verdadeira identidade do sacerdote, para que ele compreenda as razões profundas de seu celibato e, portanto, de sua vocação.

Esperemos que, com a ajuda da graça, se restaure, o quanto antes, a verdadeira identidade do sacerdote católico, para que cessem todos os desatinos do momento presente.

De nada serviria aos padres-casados e aos simpatizantes voltar às origens da Igreja… Essas origens não permitiriam que eles coabitassem com suas esposas e praticassem o ministério sacerdotal.
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Notas: 
[1] Cf. Pe. Christian Cochini, S.J, Apostolic Origins of Priestly Celibacy,(Ignatius, San Francisco, 1990); Cardeal Alfons Maria Stickler, The Case for Clerical Celibacy, (Ignatius, San Francisco, 1995); e o Pe. Stefan Heid, Celibacy in the Early Church, (Ignatius, San Francisco, 2000). 
[2] I Timótio 3:2; 3:12; Tito 1:6. 
[3] S. Mateus, 8:14: S. Marcos, 1:29; S. Luccas, 4:38. 
[4] S. Lucas, 28:31; Cf. S. Mateus 19:27-30: S. Marcos 10:20-21.
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 (*) Luis Sérgio Solimeo é colaborador da Agência Boa Imprensa (ABIM)

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Infiltradas no Judiciário, FARC estão vencendo a guerra

As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) estão ganhando a guerra contra o Exército colombiano, porque se infiltraram no Judiciário e na política. A denúncia é do ex-ministro de Defesa, Fernando Londoño Hoyos [foto], vítima ele próprio de um recente atentado terrorista no centro de Bogotá. “Os terroristas têm a iniciativa e nossas forças estão escondidas em trincheiras. É preciso derrotar o inimigo e, para derrotá-lo, é preciso atacá-lo”, escreveu. “As Forças Militares, e, sobretudo, o Exército, estão confundidas, atônitas, paralisadas pela guerra jurídica declarada contra elas. Se continuarem sem fazer nada, perdem a guerra. Mas se combaterem, seus homens são postos no cárcere”. As palavras do ex-ministro colombiano se aplicam, mutatis mutandis, a países afetados por ofensivas análogas das esquerdas.
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Agência Boa Imprensa (ABIM)

Denúncia de capitã dos marines americanos

“Mulher nunca deveria ser soldado de infantaria”, escreveu a capitã dos fuzileiros navais Katie Petrônio [foto] na revista “Marine Corps Gazette”. No artigo “Chega disso! Nós não fomos criados todos iguais”, a capitã defende que a anatomia feminina não resiste às asperezas da carreira militar. Katie Petronio se baseia na experiência pessoal. Ela “preenchia todas as condições” de uma mulher-soldado ideal. “Eu era uma estrela no hóquei sobre gelo com um título em Direito e Administração”. “Cinco anos depois, eu não sou fisicamente a mulher que uma vez fui”. Quem está promovendo essa agenda? “Katie explica: “Pessoalmente, eu não vejo marines femininas, recrutas ou oficiais, batendo às portas do Congresso, queixando-se de que sua impotência para servir na infantaria viola o direito à igualdade”, acrescentou. Segundo ela, a pressão provém de civis esquerdistas que não têm experiência alguma na matéria. Em suma, são ativistas fanáticos da igualdade de gênero a qualquer custo.
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Agência Boa Imprensa (ABIM)

Ambientalistas defendem tubarão assassino

O surfista Benjamin Linden [foto], 24, foi cortado ao meio por um “tubarão branco” na praia de Wedge Island, ao norte de Perth, na Austrália. Os ataques desses enormes tubarões se tornaram mais frequentes na Austrália desde que foram declarados “espécie em perigo de extinção”. O ministro australiano da Pesca, Norman Moore, se diz deprimido pelo fato de que a proteção favoreça tal proliferação. E muitos australianos se perguntam se era de esperar algo diferente, uma vez que esses tubarões não têm outros inimigos senão os homens e algumas baleias. A sociedade australiana questiona assim a proteção ambientalista a esses tubarões. Contudo, segundo certos ambientalistas, a diminuição dos seres humanos favorece a consecução do “desenvolvimento sustentável” do planeta. Para eles, a eliminação de homens e a proliferação de “tubarões brancos” são benéficas, pois favorece o desenvolvimento da Terra “de modo sustentável”.
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Agência Boa Imprensa (ABIM)

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Senso de honra e a crise do mundo presente


·         Luiz Sérgio Solimeo (*)

Nossa sociedade vive em meio a uma crise sem precedente na história do Ocidente Cristão. A família, célula básica da sociedade está sendo corroída por uma pavorosa decadência dos costumes. Vícios contrários à natureza são apresentados como motivos de orgulho. A desonestidade, a corrupção vão se tornando cada vez mais comuns. Juntamente com isso, e agravando o quadro, começa a espraiar-se um espírito de conformidade ou cinismo face à decadência.

Nessa situação, os problemas se interpenetram e se complicam, tornando-se quase insolúveis. Faltam princípios claros para entendê-los, vontade firme para solucioná-los. Tudo parece conduzir ao caos e à desesperança.

No entanto, existem minorias aguerridas que reagem com brio, que estão dispostas a não aceitar passivamente o desmantelamento do que resta da Civilização Cristã. Mais do que isso, querem elas tomar a ofensiva, restaurar as bases os fundamentos de uma verdadeira Civilização.

Restaurar o Senso do Bem e do Mal e o Senso da Honra 
Para se ter uma visão de conjunto da crise, de suas origens, causas, e soluções, é preciso ler ou reler o ensaio profético do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, Revolução e Contra Revolução.[1]

No presente artigo, no entanto, queremos ressaltar um ponto fundamental apresentado pelo grande pensador católico, como meio de luta na presente crise: o da necessidade de restaurar-se o senso do bem e do mal. É a perda desse senso do bem e do mal que se encontra no cerne da enorme confusão que domina o mundo moderno, distorce o pensamento, corrompe a moral, paralisa as reações.

Mas, como fazer para que a distinção entre o bem e o mal, do certo e do errado não permaneçam meros conceitos abstratos que pouco influenciem nossa vida concreta, nosso comportamento e atitudes? Como transformá-la em algo vivo e atuante, que se torne de tal modo parte de nossa personalidade que seja como que o seu esteio, a sua configuração?

A nós nos parece que é por meio do senso da honra que a distinção, a incompatibilidade entre o bem e o mal, se tornam algo pessoal e ativo. A restauração do senso do bem e do mal passa, pois, pela restauração do sentimento da honra.

Julgamos, portanto, oportuno tecer algumas considerações sobre a honra.[2]

Honra beleza da conduta virtuosa
A honra é a beleza espiritual que reluz na conduta do homem virtuoso. Ao mesmo tempo ela é um testemunho de sua excelência e um premio da virtude. Ela ocasiona louvor e reverência e o seu brilho máximo é a glória.

Deve-se honrar toda forma de excelência, mas deve-se ter preito diverso uma vez que a excelência comporta graus.

Embora, a rigor, a honra só seja devida à virtude, posto que o homem vive em sociedade, ele deve respeitar as regras gerais do convívio e, portanto, honrar àqueles que são tidos em tal conta pela estimativa geral, ainda que não se tenha certeza à respeito de sua virtude.

Importância social da honra
Por outro lado, há vários títulos pelos quais uma pessoa pode ser honrada: seus méritos pessoais, o cargo ou função que ocupa, grandes feitos que tenha realizado. As pessoas revestidas de autoridade devem ser honradas em virtude de sua representatividade de Deus, uma vez que toda autoridade procede Dele.

Aí não é a virtude da pessoa que exerce a autoridade que estamos honrando, mas a de Deus. Por isso mesmo quando essas autoridades não merecem serem honradas por mérito próprio, elas o merecem por sua representatividade. E isso é fundamental tanto para a boa ordem social como para a eclesiástica. Pois os Prelados, mesmo não virtuosos, representam a Cristo, do qual procede toda autoridade na Igreja.

A honra que se deve aos superiores implica em respeito por sua pessoa, submissão e obediência em tudo o que mandam legitimamente.[3]

Entre as pessoas revestidas de autoridade, além das civis e religiosas estão os pais e um mandamento especial da Lei de Deus (o quarto) manda-nos honrá-los.

Honra o maior dos bens humanos.
A honra liga-se à virtude da fortaleza através da virtude da magnificência, a qual fortalece a alma para empreender grandes feitos. De modo especial através do pudor, ela liga-se à virtude da temperança, a qual modera as inclinações do homem para que ele aja segundo os ditames da razão. Do mesmo modo a honra está ligada à virtude da justiça através da virtude da religião que nos manda respeitar os superiores.

A honestidade é como que um estado de honra. De onde se chame honesto aquele que é digno de louvor.

A honra só subsiste em sua totalidade, mas acidentalmente ela pode se manter, em alguns de seus aspectos, de forma parcial. Assim, mesmo quando não praticam o conjunto das virtudes, são honradas aquelas pessoas que se sobressaem em algo como, por exemplo, o soldado que cumpre com bem o seu dever, o comerciante particularmente honesto, o juiz exímio em fazer justiça, o bom pai de família etc.

A honra é o maior de todos entre os bens externos do homem. No empenho em mantê-la o homem é levado a fazer o bem e a evitar o mal.

Honra: o seu oposto, a Infâmia
O oposto da honra é a infâmia ou ignomínia, assim como a virtude opõe-se ao vício.

Naturalmente a infâmia repugna ao homem e é por isso que ele, mesmo quando decai, em geral, procura esconder o mal praticado. Assim se diz que a hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude: ao fingir-se de virtuoso, o hipócrita ainda reconhece o valor da virtude e aspira à honra que é apanágio dela.

Quando o homem vai mais fundo em sua degradação, em vez de esconder o vício, ele jacta-se de sua pratica. Transforma então o bem, a honestidade, a virtude em zombaria e se deleita no prazer mórbido da infâmia. Vira um cínico ou um alucinado.

Honra, estímulo para a prática da virtude 
O senso da honra constitui num estímulo constante para o homem elevar-se acima de si mesmo e encontrar forças para vencer as tentações. Porque a honra não admite concessões nem subterfúgios, é integra, exige a prática exímia das virtudes. É nesta última nota, que se encontra o característico da honra, a beleza moral da vida virtuosa.

A perda da honra, da auto-estima, abala profundamente o homem, produz-lhe agudo sofrimento moral. Para evitar tal situação, o homem procura recuperar a honra e com isso volta a praticar a virtude.

Em suma, a honra é a força de alma que nos leva a fazer mais do que é simplesmente prescrito.
“A honra autêntica é o brilho da virtude, sua aura. É o eco da virtude na sociedade, o sinal que ela é reconhecida e admirada. Ali onde a virtude está condenada a ficar sem eco, e portanto, sem brilho, ela não é acessível senão a alguns grandes solitários. De onde a necessidade de se continuar a cultivar a honra. A honra é uma intermediária necessária entre os ideais e o comum dos mortais.”[4]

Restaurar o autêntico sentimento de honra
Retomando o que dissemos na introdução deste artigo a respeito da crise moderna, concluímos que devemos tudo fazer para a restauração da honra.

E, enquanto católicos, devemos pensar sobretudo na honra de ser católico. Pois, se ocupar cargos de destaque, lutar nas guerras, ser fiel no casamento, na amizade, atuar com justiça, com honestidade, são motivos de honra, o termos recebido o batismo e lavados no sangue do Cordeiro,[5] o participarmos dos méritos do sacrifício da Cruz, é para nós motivo para maior honra. Honra de caráter sobrenatural, para o qual fomos escolhidos sem mérito nosso.

Se o católico deve rezar pelos seus inimigos, ele não deve portar-se diante deles como um saco de pancadas, dando a impressão de covardia e pusilanimidade. Sobretudo ele deve-se transformar num guerreiro, num polemista, num ativista, quando a honra da Igreja, a honra do Divino Salvador, de sua Mãe Santíssima, estão em jogo, são atacadas de modo vil e brutal por filmes, novelas, exibições de “arte,” elo movimento homossexual.

A honra do católico exige que ele defenda sua fé em praça pública, na política, na cultura, no judiciário, por toda a parte e por todos os meios legítimos.

Com a restauração da honra em nossa sociedade, restauraremos o senso do bem e do mal, da beleza, sobretudo no comportamento humano.

E para isso vale a pena viver.
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Notas:
[2] Resumiremos aqui o pensamento de São Tomás de Aquino o qual trata da honra em inúmeros artigos da Summa Theologica, mais especialmente: 1-2, q. 2, e 2-2, questões, 103, 129, 141, 144 e 145. 

[3] É evidente que quando mandam indevidamente ou para o mal não devem ser obedecidas. 
[4] L’Encyclopedie de l’Agora, Honneur. 
[5] Cf. Apocalypse, 22:14.
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 (*) Luis Sérgio Solimeo é colaborador da Agência Boa Imprensa (ABIM)

domingo, 23 de setembro de 2012

Limpar a poeira e tirar o mofo?! (II)

Congresso Eucarístico em 1942 na capital paulista (Vale do Anhangabaú) 

Pe. David Francisquini

Em recente artigo com o título em epígrafe, procurei analisar a causa mais profunda da baldeação em massa de católicos das hostes da Santa Igreja Católica Apostólica Romana para os renques protestantes, conforme as estatísticas e segundo podemos observar em nossa volta. Ao retornar ao tema, convido o leitor para considerarmos juntos alguns momentos da vida religiosa antes do Concílio Vaticano II.

No Paraná, onde eu cursava o seminário, ouvi no sermão de uma Sexta-feira Santa o bispo alertar os fiéis sobre a ação dos protestantes, que à época percorriam as cidades de sua diocese batendo de casa em casa, a fim de lançar dúvidas e sementes da cizânia na cabeça das pessoas.

Esses disseminadores da divisão entre as fileiras católicas não tiveram ambiente para continuar seu proselitismo e acabaram por deixar a diocese. Para reconforto dos fiéis, esse mesmo hierarca organizava as tradicionais associações religiosas femininas e masculinas, e não raras vezes promovia, em torno da catedral diocesana, manifestações públicas com a presença de todas elas revestidas de suas respectivas insígnias.

Com entusiasmo, ouvi um zeloso padre contar-me ter feito um debate público com os protestantes, mostrando-lhes não terem conhecimento de Deus nem dos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo. As crianças de sua paróquia sabiam mais sobre os ensinamentos divinos que os seus dirigentes.

Creio que falta hoje aos meus colegas do clero o espírito polêmico e militante da Santa Igreja Católica. Julgo oportuno trazer a lume o que diz São Pedro na sua primeira epístola, a fim de esclarecer a responsabilidade do ministério sacerdotal:

“Apascentai o rebanho que Deus vos confiou, velando sobre ele, não por constrangimento, porém, espontaneamente, conforme a vontade de Deus; não por um ganho vergonhoso, porém, por dedicação. Não vos porteis como senhores sobre a herança [de Deus], porém, tornando-vos um exemplo para o rebanho do íntimo do coração. E quando aparecer o príncipe dos pastores vós obtereis a coroa incorruptível da glória; e vós também, ó jovens, submetei-vos aos mais velhos” (1Petr. 5, 1-11).

Podemos apalpar nessas santas palavras o reflexo e o esplendor com que o guia de almas deve se dedicar em função da vocação para a qual foi chamado. Aplica-se aqui a parábola do mau administrador que dissipou os bens de seu senhor, pois ao conceder o pão da verdade e da verdadeira doutrina, o sacerdote é na verdade o administrador dos mistérios de Deus.

Missa Tradicional
Ademais, ele administra as águas que jorram dos sacramentos e das cerimônias religiosas realizadas com sacralidade. Ele é o bom exemplo de conduta digna e santa do seu estado sacerdotal; ele promove e cultiva a recitação do Rosário; ele santifica no momento solene da bênção do Santíssimo Sacramento; ele instrui na religião; ele entoa hinos e joga o incenso de bom odor a Nosso Senhor Jesus Cristo.

Missa nova afugenta os fiéis 
Com rituais que mais se assemelham ao protestantismo – sem falar dos escândalos nos meios católicos – sacerdotes há que acabam preparando o espírito dos fiéis para aceitar a doutrina errada. Ora pregam pouco a devoção a Nossa Senhora; ora descuram da água benta e das devoções externas, como o uso da medalha de São Bento e da Medalha Milagrosa; ora não arranjam tempo para atender devidamente às confissões e preparar as instruções religiosas; ora enfim, omitem o dever de falar de Deus e da alma, do prêmio e do castigo, da mudança de vida e do combate aos trajes modernos e imorais que pervertem os costumes das famílias e invadem até os ambientes religiosos.

O que mais estarrece são as heresias e a perseguição àqueles sacerdotes que querem portar a sua batina e celebrar o rito tradicional da missa tridentina, o qual nunca foi proibido, como afirma Bento XVI no Motu Próprio Summorum Pontificum.
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(*) Sacerdote da igreja do Imaculado Coração de Maria, Cardoso Moreira - RJ 

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Eleições presidenciais: América Latina dentro dos Estados Unidos


Destaque Internacional 

Embora a maioria dos votantes hispanos se interesse mais por problemas econômicos e de imigração, uma minoria ativa considera relevante o tema da política externa norte-americana com relação à América Latina, e continua pensando que a política de Obama para esta região foi um desastre para a causa da liberdade 

1. “Nas próximas eleições, os votantes latinos têm o poder de exercer mais influência, de ser o fator decisivo em maior número de contendas políticas e de emitir mais votos do que nunca antes”, acaba de assinalar Javier Palomarez, presidente e diretor executivo da Câmara de Comércio Hispana dos Estados Unidos. Essa afirmação está longe de constituir um exagero se se considera que nos Estados Unidos, de um total de 308,7 milhões de habitantes, 50,5 milhões são de origem hispana ou latina, representando 16% da população. O número de votantes hispânicos registrados para as próximas eleições é de 14 milhões e representa 11% dos eleitores. Desses 11% de eleitores hispânicos, 57% se inclina pela fórmula democrata, encabeçada por Barack Obama, 28% prefere a fórmula republicana, encabeçada por Mitt Romney e 15% se mantém indeciso, segundo pesquisa realizada pelos canais Telemundo e NBC. 

2. São três os Estados nos quais a presença hispânica é especialmente decisiva: Florida, Nevada e Colorado. E pelo fato de que até o momento não exista uma diferença substancial de potenciais votantes do candidato democrata e do candidato republicano, esses votantes hispânicos constituem uma minoria que pode ser especialmente decisiva no resultado eleitoral.

3. Outra constatação que dentro de um quadro disputado não pode ser subestimada: embora a maioria dos votantes hispânicos se interesse mais pelos problemas econômicos e de imigração, uma minoria bastante ativa considera relevante o tema da política externa norte-americana com relação à América Latina, e continua pensando que a política de Obama para esta região foi um desastre para a causa da liberdade. Dessa minoria mais ideologizada de hispânicos, que se opõe à política de concessões de Obama para com Chávez e os Castro, pode depender então o resultado eleitoral no caso em que, como se disse, as intenções de voto continuem parecidas entre ambos os candidatos presidenciais.

4. Aqui entra em cheio o papel dos cidadãos norte-americanos de origem cubana, venezuelana, colombiana, argentina, equatoriana, hondurenha, salvadorenha, nicaragüense, etc., que de uma maneira ou de outra sofreram ou sofrem, direta ou indiretamente, os efeitos chavista e castrista em seus respectivos países.

5. As considerações anteriores, a respeito da influência decisiva da minoria de hispânicos mais politizada, não constituem um mero cálculo no ar, senão que têm fundamento na realidade, especialmente no que se refere ao estado da Flórida. E a atual preocupação da equipe do presidente e candidato Obama se justifica pelo histórico decisivo que a Flórida teve em várias eleições.
Os norte-americanos ficaram estarrecidos com o brutal "resgate" do pequeno Elián, efetuado por agentes do Serviço de Imigração, e devolvido a Fidel Castro
6. No ano de 2000, poucos meses antes das eleições presidenciais, o presidente Clinton enviou de volta à Cuba, seguindo sua política exterior concessiva, o balseirinho Elián González [foto acima]. Os Estados Unidos se estremeceram com a brutalidade do gesto presidencial e o epicentro desse estremecimento foi a Flórida, onde reside mais de um milhão de cubano-americanos. As eleições nacionais realizadas pouco depois se definiram precisamente na Flórida. O candidato democrata, Al Gore, perdeu por umas poucas centenas de votos de diferença, obtidos em distritos cubano-americanos, entre o então candidato George Bush que obteve dessa maneira seu primeiro mandato. O próprio Clinton reconheceu que o caso do balseirinho Elián González foi decisivo para esta derrota democrata. Em 2004, para o resultado das eleições presidenciais que favoreceram o candidato republicano, foi decisivo o estado da Flórida, embora nessa ocasião a diferença em seu favor tenha sido bastante folgada, com uma margem de 381 mil votos. Nestas eleições de 2012, os obamistas reconhecem que a Flórida uma vez mais será decisiva.

7. Nestas eleições presidenciais não estão em jogo somente os debates sobre a economia e a imigração, cuja importância obviamente não se desmerece, mas também existem temas ideológicos subjacentes que preocupam um setor do eleitorado mais reduzido, porém influente. Essa minoria percebe a importância de que os Estados Unidos tenham uma política externa articulada com relação à América Latina: frear as esquerdas regionais, porque disso depende em boa medida o futuro dos próprios Estados Unidos. Nesse sentido, a comunidade cubano-americana da Flórida tem, novamente, uma enorme responsabilidade histórica diante dos Estados Unidos, de Cuba e da América Latina. Responsabilidade histórica, hoje compartilhada pelas comunidades de outros recém nomeados que sofreram e sofrem nas mãos de governantes de esquerda.

8. Esses cubano-americanos e latinos, votantes da Flórida e de outros estados com fortes contingentes hispânicos, têm que fazer todos os esforços eleitorais que estejam em suas mãos para evitar uma vitória de Obama. Isso constituirá uma ajuda decisiva ao país que os acolheu e, no caso dos cubano-americanos, trata-se também de uma obrigação moral com relação à causa da liberdade em Cuba.

9. As próximas eleições presidenciais norte-americanas contêm um paradoxo no que diz respeito aos votantes de origem hispano-americana. Durante décadas, os sucessivos candidatos presidenciais norte-americanos, e os respectivos governos de todas as tendências, salvo as honrosas exceções, ignoraram a América Latina. De repente, os atuais candidatos presidenciais abrem seus olhos e percebem que o continente ignorado entrou nos próprios Estados Unidos. E o fez de uma maneira tal, que os votantes de origem latina podem ter esse papel eleitoral decisivo.

10. Não somente o futuro dos Estados Unidos, senão o das Américas, passa então a depender, em boa medida, dos votantes de origem hispânica e para onde estes inclinem a balança dessa grande nação. Finalmente, é interessante se perguntar em que medida determinados temas religiosos e morais levantados pelos ativos movimentos pró-vida, que estão suscitando interessantes debates em setores do público dos Estados Unidos, poderão também influir na votação desse contingente hispânico-latino dos Estados Unidos.
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Editorial anterior sobre o tema: Estados Unidos: eleições presidenciais, América Latina e Cuba (Destaque Internacional, ano 14, nº 363, 27 de agosto de 2012). (O exemplo mais desastroso da aposta obamista em prol dos pseudo-“moderados” foi o apoio de Obama ao então presidente Lula, do Brasil, a quem chegou a elogiar como um modelo de aliado confiável). 
Destaque Internacional - Ano XIV - nº 365 - 17 de setembro de 2012. Editorial interativo. Responsável: Javier González. São bem-vindas sugestões, opiniões e críticas. E-mail: destaque2016@gmail.com. O presente texto pode ser difundido livremente, inclusive sem citar a fonte. 
Tradução: Graça Salgueiro

sábado, 15 de setembro de 2012

Há 70 anos, um discurso de indelével memória

O IV Congresso Eucarístico Nacional — de 4 a 7 de setembro de 1942 — foi um marco na história do Catolicismo no Brasil 
No grandioso congresso Eucarístico Nacional de 1942, observou-se um entusiasmo religioso ímpar, fruto da vitalidade do Movimento Católico em cuja liderança estava Plinio Corrêa de Oliveira. E desse evento guardam saudosa recordação todos os que a ele assistiram presenciando manifestações como a da foto acima e a do final. Sobretudo de seu encerramento, realizado no centro da capital paulista, no Vale do Anhangabaú tomado por uma multidão — mais de 500.000 pessoas, vindas de todo o Estado e de diversas partes do Brasil. Este número, impressionante mesmo para nossos dias, o era incomparavelmente mais para a pequena cidade de São Paulo do início da década de 40, cuja população não passava de 1.500.000 almas. 

Nesse brilhante encerramento, coube a Plinio Corrêa de Oliveira [foto] fazer o discurso de saudação oficial às autoridades civis e militares. O público entusiasmado ovacionou o orador, na ocasião Presidente da Junta Arquidiocesana da Ação Católica. 

Ocupava a presidência de honra desse evento o Núncio Apostólico e Legado Pontifício, D. Bento Aloisi Masella, tendo à sua direita o Interventor Federal Dr. Fernando Costa, representando o Presidente da República. Presentes aproximadamente 60 Arcebispos e Bispos, numeroso clero, autoridades, representações de outros Estados e de alguns países da América do Sul.

A seguir alguns tópicos desse memorável discurso:


“No curso já quatro vezes secular da História do Brasil, jamais se reuniu assembléia mais solene e ilustre que esta. No momento em que a vida nacional caminha para rumos definitivos, quis a Divina Providência reunir em pleno coração de São Paulo os elementos representativos de tudo quanto fomos e somos, de todas as glórias de nosso passado e de nossas melhores esperanças para o futuro. [...]

“Senhores, é hoje o dia 7 de setembro. A data é expressiva, e estou absolutamente certo de que um imenso clamor se levantará neste glorioso dia, transpondo os limites do Estado e do País, para notificar ao mundo inteiro que, como um só homem, o Brasil se ergue contra o imperialismo nazista pagão que trama sua ruína e parece ter chamado a si, exatamente como seu sósia vermelho de Moscou, a diabólica empreitada de destruir a Igreja em todo o mundo.

“Contra os inimigos da Pátria que estremecemos, e de Cristo que adoramos, os católicos brasileiros saberão mostrar sempre uma invencível resistência. Loucos e temerários! Mais fácil vos seria arrancar de nosso céu o Cruzeiro do Sul, do que arrancar a soberania e a Fé a um povo fiel a Cristo, e que colocará sempre seu mais alto título de ufania em uma adesão filialmente obediente e entusiasticamente vigorosa à Cátedra de São Pedro. [...]
As montanhas do Brasil parecem convidar o homem às supremas afoitezas dos heroísmo cristão
 “Talvez não fosse ousado afirmar que Deus colocou os povos de sua eleição em panoramas adequados à realização dos grandes destinos a que os chama. E não há quem, viajando por nosso Brasil, não experimente a confusa impressão de que Deus destinou para teatro de grandes feitos este País, cujas montanhas trágicas e misteriosas penedias parecem convidar o homem às supremas afoitezas do heroísmo cristão, cujas verdejantes planícies parecem querer inspirar o surto de novas escolas artísticas e literárias, de novas formas e tipos de belezas, e na orla de cujo litoral os mares parecem cantar a glória futura de um dos maiores povos da Terra.
"Os mares parecem cantar a glória futura de um dos maiores povos da Terra" 
“Quando nosso poeta cantava que nossa terra tem palmeiras onde canta o sabiá, e as aves que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá', percebeu, talvez confusamente, que a Providência depositou na natureza brasileira a promessa de um porvir igual ao dos maiores povos da Terra.

“E hoje, que o Brasil emerge de sua adolescência para a maturidade, e titubeia nas mãos da velha Europa o cetro da cultura cristã que o totalitarismo quereria destruir, aos olhos de todos se patenteia que os países católicos da América são na realidade o grande celeiro da Igreja e da Civilização, o terreno fecundo onde poderão reflorir, com brilho maior do que nunca, as plantas que a barbárie devasta no velho mundo. A América inteira é uma constelação de povos irmãos. Nessa constelação, inútil é dizer que as dimensões materiais do Brasil são uma figura da magnitude de seu papel providencial.
*          *          *
“Tempo houve em que a História do mundo se pôde intitular 'Gesta Dei per Francos'. Dia virá em que se escreverá 'Gesta Dei per brasilienses' — as ações de Deus pelos brasileiros.

“A missão providencial do Brasil consiste em crescer dentro de suas próprias fronteiras, em desdobrar aqui os esplendores de uma civilização genuinamente católica, apostólica, romana, e em iluminar amorosamente todo o mundo com o facho desta grande luz, que será verdadeiramente o 'lumen Christi' que a Igreja irradia. Nossa índole meiga e hospitaleira, a pluralidade das raças que aqui vivem em fraternal harmonia, o concurso providencial dos imigrantes que tão intimamente se inseriram na vida nacional, e mais do que tudo as normas do Santo Evangelho, jamais farão de nossos anseios de grandeza um pretexto para jacobinismos tacanhos, para racismos estultos, para imperialismos criminosos. Se algum dia o Brasil for grande, sê-lo-á para bem do mundo inteiro.

“'Sejam entre vós os que governam como os que obedecem', diz o Redentor. O Brasil não será grande pela conquista, mas pela Fé; não será rico pelo dinheiro tanto quanto pela generosidade. Realmente, se soubermos ser fiéis à Roma dos Papas, poderá nossa cidade ser uma nova Jerusalém, de beleza perfeita, honra, glória e gáudio do mundo inteiro. [...]
*          *          * 
“Em um Brasil imensamente rico, vereis florescer um povo imensamente rico, vereis florescer um povo imensamente grande, porque dele se poderá dizer:

“Bem-aventurado este povo sóbrio e desapegado, no esplendor embora de sua riqueza, porque dele é o reino dos Céus.

“Bem-aventurado este povo generoso e acolhedor, que ama a paz mais do que as riquezas, porque ele possui a Terra.

“Bem-aventurado este povo de coração sensível ao amor e às dores do Homem-Deus, às dores e ao amor de seu próximo, porque nisto mesmo encontrará sua consolação.

“Bem-aventurado este povo varonil e forte, intrépido e corajoso, faminto e sedento das virtudes heroicas e totais, porque será saciado em seu apetite de santidade e grandeza sobrenatural. 

“Bem-aventurado este povo misericordioso, porque ele alcançará misericórdia.

“Bem-aventurado este povo casto e limpo de coração, bem aventurada a inviolável pureza de suas famílias cristãs, porque verá a Deus.

“Bem-aventurado este povo pacífico, de idealismo limpo de jacobismos e racismos, porque será chamado filho de Deus.

“Bem-aventurado este povo que leva seu amor à Igreja a ponto de lutar e sofrer por ela, porque dele é o reino dos Céus”.
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Transcrito de “O Legionário” de 7-9-1942 — Órgão oficioso da Arquidiocese de São Paulo. A íntegra desse memorável discurso encontra-se disponível em:

http://www.pliniocorreadeoliveira.info/Disc_Congr_Eucar_42.htm


segunda-feira, 10 de setembro de 2012

ELEIÇÕES SEM A FURIOSA ESQUERDISTA


Franco Muralha (*) 
Não é nenhuma novidade comparar o cenário político a um teatro, em que cada espécime da troupe representa um papel para o qual foi designado e atua de acordo com o script. Alguns que não gostam de palhaços, animais amestrados e malabaristas identificam esse espetáculo com um circo. Outros preferem a imagem de uma orquestra, com o maestro dando as ordens, o spala sinalizando o tom, os instrumentistas no sobe-desce das suas intervenções, o coro traduzindo sons em palavras.

A sala de concertos prevê todas as condições para evitar protestos e manifestações durante a apresentação, e o respeitável público se limita a caras contrafeitas, grunhidos e movimentos inquietos nas poltronas, quando o espetáculo não convence. Deixa para manifestar no final seu agrado ou desagrado, num plebiscito escrutinado por quota maior ou menor de aplausos.

Mas acho que a atividade política deste nosso Pindorama parece identificar-se mais com uma furiosa. O leitor certamente sabe o que na linguagem informal se conhece como furiosa: aquela simpática bandinha de música, infelizmente em processo de extinção, que já foi a alegria de quase todas as cidades pequenas e grandes. A retreta por ocasião de festas e solenidades era obrigatória. Entre os instrumentistas havia sempre um vizinho, parente ou conhecido, e o espectador procurava observar como ele se saía, para depois tirar uma “casquinha” ou manifestar sua admiração. O som volumoso da furiosa repercutia ao longe, mexia com todos, ninguém lhe era indiferente.

Dosadas e distribuídas ao longo das músicas, as intervenções dos diversos instrumentos iam produzindo em conjunto os seus efeitos sonoros e psicológicos. Tristes ou alegres, estridentes ou discretos, agudos ou graves, cada um se manifestando mais intensamente ou menos, ou então se calando, conforme a impressão que a música devia provocar. O som cristalino do clarim, cantando vitória ou convocando para atos heróicos; o vozeirão profundo e conservador do contrabaixo, opondo-se a aventuras radicais; a vibração difusa do tarol, invasiva e persistente como um boato; flautas e flautins para imprimir alegria juvenil; a voz peremptória e autoritária dos pratos, tentando impor disciplina com base no “pare com isso!”. Trompa, oboé, bombardino, saxofone, cada um contribuindo para a charanga com sua mensagem própria. E também a pancada monótona e compassada do bumbo, impondo seu ritmo indiscutível. Tudo ordenado para o gran finale, quando cantam vitória em uníssono.

Tudo isso pode estar expresso na mesma música, ou então distribuído em doses maiores ou menores em partituras diferentes. O diretor do espetáculo escolhe o que é mais adequado às circunstâncias. Ora lança cantilenas de paz e amor, para disfarçar alguma carranca rubicunda; entoa um hino patriótico, quando em litígio com jornalistas ou rebeldes de várias categorias; ataca de Capitão Caçulo, se quer provocar entusiasmo; descola um passo doble – olé! – quando em vantagem numa disputa; solta o Cisne Branco, se precisa pacificar a galera; apela a Saudades de Matão, se o público não gosta do que seus cupinchas estão fazendo; o Peixe Vivo pode servir, quando as críticas vêm dos próprios camaradas.

Em busca dos aplausos do respeitável público, o coreógrafo pode entoar uma discutível melhora dos índices econômicos. Mas a grande maioria não entende de PIB, balança comercial, cotação do dólar, taxa de crescimento, e quer apenas ouvir harmonias bem mais simples: cadê o meu emprego? Onde eu vou vacinar os meus filhos? E a escola que me prometeram? Em casa ou na rua, quem me protege contra ladrões e assassinos?

A coreografia dos meses recentes fugiu dessas preocupações mesquinhas, pois não tinha resultados para mostrar. E como estão sendo os aplausos? Decepcionantes, ao contrário do que faz crer o malabarismo interpretativo do coreógrafo. Jornalistas que não se limitam a copiar o script do coreógrafo classificam a descida da serra da economia nacional como indisfarçável e retumbante catástrofe.

Interessados em arrancar estrondosos aplausos na próxima exibição, os organizadores do espetáculo devem estar contabilizando as estatísticas, lambendo as feridas e procurando ensaiar melhor. Tarefa difícil, talvez impossível. Como conseguir harmonia onde todos desafinam e chamam os outros de desafinados? Onde instrumentistas querem executar partituras diferentes? E a partitura, se é que ela existe, será aquela que o respeitável público deseja? Não haverá alguns instrumentos atrapalhando o conjunto? Ou serão todos os instrumentos?

Examinemos o caso do bumbo. Ah, esse pesado marcador de ritmo deveria estar em todo o repertório, porque... bem, porque tem de marcar o ritmo, que inclui Reforma Agrária, ambientalismo radical, justiça social, invasões, igualdade, sustentabilidade – toda a cantilena comunista. Sem falar em greves turbulentas, índios pintados e vestidos a caráter, quilombolas que nem sabem o que é isso. Vozes altissonantes foram repentinamente silenciadas, obedientes a um comando, pois tudo indica que o efeito delas é indesejável. No fundo, essa cantilena “bumbástica” não agrada ao distinto público. As pessoas ouvem, não gostam e se calam. Mas aguardam o momento adequado para manifestar seu desacordo: a hora das eleições.

O diretor do espetáculo sabe disso, e resolve o problema de modo muito simples: silencia o bumbo na hora das eleições. Por exemplo, o leitor tem ouvido a música – desculpe: a estridência – do MST nos meses que precedem as eleições? Sumiu, evaporou-se, deu uma de morto. Por quê? Porque o som estridente e ameaçador das suas foices, facões e bandeiras vermelhas seria prejudicial em momento mais adequado a uma lânguida valsinha. Se o Brasil profundo gostasse do bumbo e da estridência, o coreógrafo não precisaria escondê-lo, o maestro não teria de apelar para a valsinha.

Apesar de toda a cautela em esconder o bumbo, apesar de bem ensaiada a valsinha, o resultado das eleições será decepcionante para o diretor do espetáculo. Aprenderá ele a lição? Não creio. Daqui a pouco, toda a pancadaria do bumbo recomeçará, contrariando as advertências do contrabaixo. Deixará no respeitável público a sua lembrança, que de novo pesará negativamente nas eleições seguintes. E poderá conduzir a um decepcionante gran finale, ao qual se seguirão palmas ainda mais minguadas, que de fato significam derrota.
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(*) Franco Muralha é colaborar da Agência Boa Imprensa (ABIM)

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

As “conversações exploratórias” de paz: Desmobilização da Narcoguerrilha ou da Colômbia?

Raul Castro, Juan Manuel Santos e Hugo Chávez
Enquanto heroicos militares são encarcerados, o atual governo colombiano, encenando o papel de Kerensky, abre as portas para sanguinários terroristas 

Hélio Dias Viana (*) 

As recém-anunciadas “conversações exploratórias” governamentais com a narcoguerrilha — inauguradas oficialmente no dia 4 de setembro de 2012 com inaudita cobertura publicitária — vêm se revelando uma ofensiva psicológica de desmobilização da opinião pública colombiana para fazê-la aceitar reivindicações da narcoguerrilha nas quais estão previstas, entre outras coisas, a Reforma Agrária e a inserção dos chefes guerrilheiros na vida política do País.

Ou seja, enquanto os colombianos injusta e covardemente agredidos desejam com toda razão a paz, os guerrilheiros se servem das conversações em torno desta para obterem concessões e vantagens que os levem à conquista do Poder que as armas não lhes deram. Facilitando-lhes esse jogo – e contrariando a transparência que deve existir numa nação democrática com 45 milhões de habitantes – o governo da Colômbia promoveu em Cuba 30 reuniões secretas com os líderes das Farc, que não possuem sequer 10 mil homens! A pergunta que fica é: já não estará tudo combinado e negociado, e o que acontecer a partir de Oslo não será apenas um show "para inglês ver"?



Para nos darmos conta do cenário em que as referidas conversações se movem e alguns de seus atores, temos primeiramente Cuba, com seus dois ditadores sanguinários que tentaram inúmeras vezes implantar o comunismo na Colômbia; e depois a Venezuela, com o conhecido apoio de Hugo Chávez à narcoguerrilha e as ameaças — inclusive bélicas — feitas por ele ao governo colombiano por ocasião da morte do guerrilheiro Raúl Reyes.

Por sua vez, na Noruega — país que se ofereceu como mediador e financiador das conversações —, perfila-se como possível participante das conversações o ex-vice-chanceler Jan Egeland. Atual diretor para a Europa do Human Rights Watch, organização reconhecidamente de esquerda, ele viveu durante muitos anos na Colômbia e atuou como delegado da ONU nas desastrosas negociações de paz de El Caguán, um ‘santuário’ de 42.000 km2, destinado pelo governo de Andrés Pastrana à guerrilha, no qual o Exército estava proibido de entrar.

Esse ambiente filocomunista em torno das conversações de paz está também presente internamente na Colômbia. Após 14 anos, membros do Partido Comunista estiveram no Palácio de Nariño, sede do governo, para oferecer sua colaboração ao presidente Santos. Idêntica colaboração lhe foi oferecida por Gustavo Petro, ex-terrorista e atual prefeito de Bogotá, entusiasta da iniciativa presidencial e que por experiência própria sabe quão maiores são as vantagens auferidas pela guerrilha com a política do que com as armas.

Um “Kerensky colombiano”
Embora o presidente Santos tenha colocado um ou outro colaborador de matiz não esquerdista – inclusive dois generais – na sua iniciativa de paz, este fato não lhe tira a sua extrema gravidade, e de algum modo até contribui para tranquilizar a população. Ademais, como colocar ao lado de pessoas como a ex-senadora Piedad Córdoba, que embora não figure como participante oficial nas negociações já se anunciou que terá papel relevante no resultado das mesmas? Como dirigente das “Marchas Patrióticas”, uma espécie de MST colombiano, ela tem conhecidos nexos com as Farc e recentemente incitou os índios do Cauca a se insurgirem contra o governo.

Também notório é o papel a ser desempenhado pelo ex-sindicalista Luis Eduardo Garzón. Prefeito de Bogotá de 2004 a 2007 pelo partido de esquerda Polo Democrático — ao qual pertencia o atual prefeito —, Lucho Garzón já havia participado em conversações de paz com as guerrilhas em Mainz, na Alemanha, no ano de 1997. Essas conversações foram cercadas do maior sigilo e contaram com o apoio das Conferências Episcopais da Alemanha e da Colômbia. Lucho foi agora nomeado Ministro Extraordinário da Mobilização e Diálogos Sociais. Em entrevista concedida à jornalista Maria Isabel Rueda (“El Tiempo”, 3-9-12), ele reconhece não mais existir oxigênio para a luta armada e que atualmente a palavra é mais importante do que as armas.

O presidente Santos fará o papel de
um "Kerensky" [foto] colombiano?
Fica-se com a forte impressão de que, se as atuais conversações obtiverem o que foi anunciado, depois delas a Colômbia não será a mesma. E se o presidente Santos não puder realizar todas as reformas exigidas pela narcoguerrilha, ele está em todo caso preparando o caminho para que um próximo governo as faça. Um governo com ex-guerrilheiros ocupando cargos políticos diversos, e fazendo através da legislação o que não conseguem alcançar por meio das armas. Com isso Juan Manuel Santos estará representando na Colômbia o papel desempenhado por Kerensky [foto] na Rússia pré-comunista, e poderá passar para a História como sendo o “Kerensky colombiano”. 

Heroicos militares presos, terroristas livres
Por sua vez, a opinião pública acompanha com apreensão os acontecimentos. Ela vê de um lado as Farc — apoiadas por Cuba e pela Venezuela — serem tratadas como amigas, e de outro lado inúmeros militares sendo condenados a altas penas de prisão, frequentemente com base em testemunhas falsas. Segundo informa a já citada jornalista Maria Isabel Rueda no artigo “Ordem na casa” (“El Tiempo”, 2-9-12), “cerca de 17.000 militares colombianos estão atualmente condenados ou detidos”. Sim, dezessete mil! Ou seja, o número de militares nessa situação é o dobro do contingente de guerrilheiros das Farc, estimados em 8.500!

A mais recente condenação, a 25 anos de prisão, foi a do general Rito Alejo del Río. Embora o próprio juiz tenha reconhecido que ele não cometeu crime, condenou-o sob a alegação de que o general não protegeu um camponês que foi morto por paramilitares na imensa área sob a sua jurisdição! Cumpre lembrar que Del Río, preso há mais de quatro anos, fora destituído do comando de sua brigada pelo ex-presidente Andrés Pastrana por exigência das Farc como condição para as conversações de paz de El Caguán! Apesar de preso, o general continua a incutir medo aos guerrilheiros. ‘Timochenko’ [foto], líder máximo das Farc, o atacou no discurso que pronunciou no dia 4 de setembro em Havana, pouco depois de o presidente Santos ter anunciado o início das negociações.

Outro herói nacional em análoga situação é o famoso coronel Plazas. Ele se celebrizou quando em 9 de novembro de 1985 entrou com seus tanques no Palácio de Justiça ocupado por terroristas que desejavam pôr a Colômbia de joelhos. Como não o conseguiram, atearam fogo ao Palácio. Enquanto remanescentes ou seguidores desses inimigos da Nação ocupam hoje prestigiosos cargos públicos, o coronel foi condenado a 20 anos de prisão, com base em uma testemunha que se provou ter sido falsa.

O genial cérebro da famosa “Operación Jaque” (xeque-mate [foto abaixo]) — a qual, sem disparar um só tiro, libertou Ingrid Bittencourt, três norte-americanos e onze soldados colombianos — pode ser hoje visto no pátio da prisão militar onde está confinado. Só que transformado em “major-padeiro”, vendendo seus pães... Não espantaria se a causa de sua condenação tiver sido por enganar a “boa fé” dos guerrilheiros fazendo-os embarcar em avião do Exército ostentando o emblema da Cruz Vermelha... É assim que trata os seus heróis um governo tão solícito em negociar com terroristas assassinos prenhes das mais sinistras intenções!

Mais escandaloso, por fim, é o caso do general Jaime Uzcátegui. Encontra-se preso há treze anos, tendo sido condenado a uma pena de 40 anos por um crime cometido por paramilitares em uma área que nem sequer era de sua jurisdição!

"Teologia da Libertação" — o vergonhoso papel da esquerda “católica” 
Infelizmente esta é a situação. Enquanto nas relações do governo com a narcoguerrilha reinam a confiança e o desejo de acordo, a ponto de ambos declararem que não se levantarão da mesa de negociações enquanto a paz não tiver sido selada (satisfazendo a guerrilha, entre outras coisas, com uma Reforma Agrária socialista e com preciosos privilégios políticos, como já assinalamos), em relação aos militares rondam a suspicácia, a animadversão e a prisão!

Diante de tudo isso, a Conferência Episcopal mais uma vez sai à frente... para apoiar a temerária iniciativa presidencial de negociação com a narcoguerrilha. No que ela é superada somente por alguns sacerdotes jesuítas, entre os quais se destaca o padre Javier Giraldo Moreno [foto]. Há quarenta anos à frente do Centro de Investigação e Educação Popular — CINEP, um think tank da “Teologia da Libertação”, o padre Giraldo é um dos principais inimigos dos militares e não oculta sua simpatia pelo regime comunista cubano. Vejamos a seguinte notícia, publicada em 15 de agosto de 2012:

“O padre Giraldo celebrou os 86 anos de Fidel Castro — O padre jesuíta Javier Giraldo juntou-se a vários colombianos para celebrar o aniversário número 86 de Fidel Castro no auditório da Associação Distrital de Educadores de Bogotá (ADE). O defensor dos Direitos Humanos celebrou uma eucaristia ambientada com a bandeira de Cuba e imagens do líder. Assistiram funcionários da Prefeitura e diplomatas da embaixada de Cuba na Colômbia” (http://www.kienyke.com/confidencias/el-padre-giraldo-celebro-los-86-anos-de-fidel-castro/).

Esse grande admirador, não de Santo Inácio de Loyola, mas de Fidel Castro, o é também do ex-guerrilheiro padre Camilo Torres, de cuja obra se diz continuador. No tocante à superioridade da luta ideológica sobre a bélica, ele pensa, aliás, do mesmo modo que aqueles que querem trazer para essa arena os hoje enfraquecidos líderes guerrilheiros. Sob o título “O polêmico Padre Javier Giraldo”, ele é assim descrito no site do CINEP:

“Desde aquele encontro distante [com o padre Camilo Torres], o padre Giraldo soube que sua vida estaria dedicada a defender os oprimidos. Como todos os colombianos da época, viveu a incerteza de não saber o que havia acontecido ao desaparecer Torres da cena pública, em dezembro de 1965, até quando se soube em janeiro do ano seguinte, que havia ingressado no ELN [Exército de Libertação Nacional]. Em 16 de fevereiro desse ano morreu em seu primeiro combate. Javier entendeu desde então que continuaria sua obra, mas por um caminho diferente do das armas. Seguiria os passos dos padres de Golconda, de monsenhor Valencia Cano e de tantos outros comprometidos com a Teologia da Libertação”. http://cinep.org.co/index.php?option=com_content&view=article&id=192%3Ael-polemico-padre-javier-giraldo&catid=85%3Ael-cinepppp-en-los-medios&Itemid=60&lang=es

Quanto ao alcance dessa via de pacificação, cumpre recordar aqui o que José Dirceu certa vez escreveu como tendo ouvido de Fidel Castro: o ditador disse que teria evitado muitos erros, se no início da revolução cubana tivesse conhecido a “Teologia da Libertação”.

No momento em que a Rússia fala em reinstalar bases militares em Cuba e o câncer bolivariano deita metástases no Continente, a Colômbia está numa encruzilhada: ou continua fiel às suas tradições católicas e enfrenta a narcoguerrilha, ou se deixa manipular por sinistros complôs orquestrados sob o bafejo de Cuba, da Venezuela e da “Teologia da Libertação” para empurrá-la à situação em que hoje gemem os países dominados pela tirania comunista.
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(*) Hélio Dias Viana é colaborar da Agência Boa Imprensa (ABIM)

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Falsos amigos

Franco Muralha (*)

O relacionamento amigável e mutuamente respeitoso dos fazendeiros com seus empregados ou colonos — rotulado pelo estrabismo comunista como exploração do homem pelo homem — gerou na minha longínqua infância uma situação peculiar. A linguagem que eu aprendia em casa era constantemente agredida por outra com muitas semelhanças e diferenças, revelando remota origem comum, como a que teve a última flor do Lácio ao desvincular-se do espanhol.

Minha irremovível ojeriza à contrafação que eu ouvia fora de casa me fez erguer entre as duas linguagens uma barreira, exigindo contínua tradução alimentada por consultas frequentes aos dois dicionários mentais que eu ia formulando. Era um trabalho árduo, mas bastante divertido, que me fez tomar gosto pela origem das palavras, mais tarde identificada como etimologia. O verniz adquirido no curso secundário incluiu nesse gosto as diferenças linguísticas e culturais entre os povos, o que me rendeu depois o 3º lugar num vestibular com mais de oitocentos candidatos, graças a notas muito altas em português e inglês.

Após as muitas voltas que o mundo deu, vejo-me agora com ampla base, além de tempo disponível, para enveredar pelos meandros ardilosos e muito interessantes do trabalho de tradução. Você utilizará proveitosamente o seu tempo, lendo a seguir uns poucos exemplos de semelhanças e diferenças linguísticas, colhidos em vasto acervo que meu atual trabalho me permite acumular.

Vejamos inicialmente algumas palavras morfologicamente semelhantes em duas línguas, porém com significados diferentes.

• Prejudice, em inglês, é muito parecida com prejuízo, mas significa preconceito (juízo prévio).

• Blanco, em espanhol, pode ser traduzida por branco, mas é também muito usada para designar qualquer objeto em que se atira ou se pratica tiro ao alvo. Alvo e branco, na nossa língua, são similares apenas no que se refere à cor.

• Sueño pode significar sonho ou sono, em espanhol, língua que não dispõe de palavras distintas para designar essas duas realidades.

Em francês, subir não tem nada a ver com escalar montanha ou galgar degraus de uma escada. Trata-se de sofrer, suportar.

Se você ouvir um espanhol afirmar que é surdo, continue conversando normalmente com ele, pois essa “deficiência” (zurdo, que se pronuncia surdo) não o impede de ouvir. Trata-se apenas de canhoto. O espanhol que não consegue ouvir é sordo.

Palavras como essas, muito adequadamente os tradutores as denominam falsos amigos.

Sendo a língua uma realidade viva, em constante mutação, pode-se afirmar que não existe dicionário inteiramente atualizado. A toda hora se criam expressões novas, passa-se a usar palavras antigas com significados novos, inventam-se palavras. Li recentemente num jornal o qualificativo riponga, que eu não conhecia. Depois de inútil consulta aos meus dicionários, recorri ao onisciente Google e encontrei um site que pode ser útil também para você. Forneço o link, onde lhe será fácil encontrar o que eu procurava, além de outras informações sobre palavras e conceitos recentes, anotados pelos frequentadores do site: http://www.dicionarioinformal.com.br/

As situações em que se estabelece o uso de uma palavra ou expressão em sentido específico são muito variáveis, e nem sempre isso pode ser transferido do mesmo modo para outra língua. Vejamos alguns exemplos.

Diante de um grupo de americanos, precisei explicar a maravilha política que conhecemos como trem da alegria. Depois de inútil esforço didático, notei que eles não haviam entendido. Recorri então a um amigo brasileiro que reside lá há vários anos, e logo obtive a expressão equivalente: pork barrel (barril de carne de porco). Esqueci-me de indagar a origem da expressão, mas suponho que designe costume local antigo, de distribuir nos comícios a carne de porco contida em barris.

• Watergate tornou-se em todo o mundo um sinônimo de crime político, e existem até derivados híbridos como Mogigate. Se um tradutor não sabe disso, poderá brindar o leitor com a tradução desnecessária e inadequada de comporta (portão da água).

• Mensalão é outro crime político que dificilmente se traduzirá para outra língua.

Se você costuma ver filmes legendados, já deve ter deparado com a referência a fita vermelha, e provavelmente não entendeu a que fita o personagem se referia. Acontece que red tape é uma expressão americana correspondente a burocracia, talvez pelo costume de arquivar o papelório amarrado com fita dessa cor. Como as legendas têm de ser concluídas às pressas, economiza-se tempo aplicando uma tradução literal, desvinculada da cena, sem recorrer a um dicionário que esclareça o sentido correto.

Tradutores deparam às vezes com dificuldades insuperáveis, como aconteceu com um grupo de missionários enviados para catequizar os esquimós. Ao explicar-lhes o pecado original descrito no Gênesis, perceberam que não haviam sido entendidos. Só depois de muita conversa, ficaram sabendo que lá não existem cobras. Não sei como se saíram da enrascada, mas é certo que não puderam substituir cobra por foca, um animal benfazejo para os esquimós.

Traduzir tem algo de dramático. Momentos de indecisão, angústia e desafio. Você se divide entre os papéis de destruidor e de criador. Intenções, sons, matizes, características, cacoetes, jargões, metáforas e aliterações do texto se perderão, e outro tanto será criado, procurando compensar a perda. É como fazer uma feijoada na Holanda: vai faltar metáfora.

Não que as línguas em si não tenham recursos. Têm. Mas serão sempre substituições, só eventualmente equivalentes. Quando um autor escreve lindo em vez de belo ou bonito, tem intenções que vão mais longe do que graduar a beleza que descreve. Há entre as palavras relações de som, de oposição, de acomodação, de fricção ou de regionalidade que é difícil traduzir. Isso quando se percebe a intenção. E quando não se percebe?

Se dentro de uma mesma língua as palavras adquirem um matiz diferente quando se associam a outras, que dirá na tumultuada viagem de uma língua para outra? Se as palavras não fossem assim tão ricas, um clássico moderno como o americano Raymond Carver não escreveria um conto com o título What we really say when we say love – O que dizemos de fato quando dizemos amor. Palavras muitas vezes são armadilhas. Pasta, em português, pode ser macarrão, posto de ministro, bolsa, dentifrício, substância pastosa. Pena pode ser de ave, caneta, dó, sofrimento, condenação.

Até mesmo corriqueiras expressões do dia a dia oferecem dificuldades, e nem sempre as soluções satisfazem. Por exemplo, um personagem de nome Omar de Moura, que um bajulador chama de doutor Omar. Nos Estados Unidos esse “doutor Omar” vai virar “Mr. De Moura”. Ganha-se formalidade, perde-se a bajulação. Uma tradutora me perguntava: O que é que eu faço com “mãe de santo”, “quebrei a cara”, “dar tempo ao tempo”, “é o fim da picada”? Empacou no nome de uma antiga revista de cinema – A Cena Muda – e me perguntava: “A cena é silent ou changing, silenciosa ou que muda, que se move?”. Expliquei que era as duas coisas. E aí, para traduzir?

Se você presta atenção em estilos de escritores, terá notado que os quatro parágrafos anteriores não são meus. Foram transcritos de coluna mantida em Veja-São Paulo (Vejinha) por Ivan Angelo, um dos muitíssimos espécimes de mineiros ilustres refugiados em São Paulo. Não perderei o ensejo dessa extemporânea alusão irônica a mim mesmo, para inseri-la no contexto indagando se um eventual tradutor a detectaria. E se detectasse, como transmitiria esta informação ao leitor, sem importuná-lo com uma sempre incômoda nota explicativa?

Para finalizar, aproveito a deixa do Ivan Angelo e concluo com três exemplos em que as traduções possíveis perdem alguma coisa.

Mark Twain, escritor que se esmerava com a precisão nos seus escritos, afirma que “a diferença entre a palavra certa e a palavra quase certa é a mesma que há entre relâmpago e vagalume”. Mas há um detalhe importante. No inglês, relâmpago é lightning, e vagalume é lightning bug (inseto relâmpago). Pode-se traduzir por pisca-pisca, ou algo assim, mas de qualquer forma perde-se o trocadilho.

O provérbio francês à quelque chose malheur est bon é habitualmente traduzido como há males que vêm para bem. No entanto, o francês é muito mais abrangente, pois refere-se a qualquer mal, ao passo que a nossa tradução se restringe a alguns males.

Uma definição jocosa de embaixador qualifica esse profissional de relações internacionais como “um homem com credenciais to lie abroad pelo seu país”. O verbo to lie significa indiferentemente mentir ou permanecer, estabelecer-se. Portanto a atuação do embaixador pode ser entendida na frase como mentir no exterior ou estabelecer-se no exterior. Alguém pode me ensinar como traduzir isso sem perder essa ambiguidade?
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(*) Franco Muralha é colaborar da Agência Boa Imprensa (ABIM)