quinta-feira, 24 de abril de 2008

O Bispo, o rio e o pecado

Hélio Dias Viana*

A greve de fome — a segunda — a que se submeteu o Bispo de Barra (BA), D. Luiz Cappio, sugere algumas reflexões.

Em primeiro lugar, sua atitude é típica dos adeptos da Teologia da Libertação, que desviam as atribuições do religioso para o plano meramente humano e temporal, deduzindo daí toda uma Weltanschauung. Desvio muitíssimo mais perigoso que o do Rio São Francisco, pelas conseqüências doutrinárias e morais de que se reveste.

Em segundo lugar, D. Cappio — que teve o cuidado de se apresentar sempre revestido do hábito franciscano — está se imiscuindo numa área que não lhe compete, ao invadir atribuições do poder público. Seria, em sentido oposto, o mesmo que um governo resolvesse opinar sobre o acerto de um projeto para a construção de uma catedral.

Se, para a transposição do Rio São Francisco, o governo devesse fazer expropriações pelas quais pagasse aos proprietários um preço injusto, aí sim, contra este aspecto, de ordem moral, o Bispo poderia se opor, expondo o que a respeito ensina a doutrina católica.

Contudo, esse aspecto moral parece nada dizer não só a D. Cappio, mas também à CNBB e a tantos outros Bispos que dão incondicional apoio à Reforma Agrária socialista e confiscatória, atentatória do sagrado direito de propriedade, o qual é assegurado por dois Mandamentos da Lei de Deus: “não roubar” e “não cobiçar as coisas alheias”.

Por fim, o pecado. Que um Bispo da Santa Igreja, além de negar obediência à Santa Sé — que lhe ordenou cessar a greve de fome —, faça uso de método condenado pela moral católica, qual seja o de se expor ao suicídio, constitui pecado contra o 5º. Mandamento da Lei de Deus: “não matar”. Sem falar do pecado de escândalo.

A CNBB, que até certa altura apoiou D. Cappio, resolveu voltar atrás, possivelmente por pressão do Vaticano, pois estava se tornando cúmplice de um tríplice pecado: atentado à vida, desobediência e escândalo.

Mais um triste episódio da “autodemolição” da Igreja, operada a partir do Concílio Vaticano II, a que se referiu Paulo VI.

(*) Jornalista freelancer e tradutor.

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