domingo, 30 de agosto de 2009

Honduras-Cuba: kerenkismo político e kerenkismo eclesiástico

O kerenkismo político e o kerenkismo eclesiástico formam neste momento, independentemente das intenções de seus protagonistas, os dois dentes de um mesmo alicate que se esgrime contra a causa da liberdade em Honduras e Cuba, porém também na Venezuela, Bolívia e Equador.
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A seguir, tradução do artigo de Armando Valladares, publicado no “El Heraldo” (Tegucigalpa) em 30-8-09
e no “Diario Las Américas” (Miami) em 26-8-09.

Cardeal Sean O’Malley, Arcebispo de Boston

Armando F. Valladares (*)

A América Central e o Caribe vivem uma das situações mais paradoxais de toda sua história: enquanto o “kerenkismo político” trata por todos os meios de dobrar a Honduras anti-comunista e empurrá-la ao abismo chavista, o “kerenkismo eclesiástico” estende suas mãos a Cuba comunista para perpetuá-la no pantanal castrista.

Uma importante comissão de eclesiásticos norte-americanos encabeçada pelo “moderado” cardeal Sean O’Malley, arcebispo de Boston [foto acima], e integrada por monsenhor Thomas Wenski, bispo de Orlando, Flórida, monsenhor Oscar Cantu, bispo de San Antonio, Texas, o padre Andrew Small, encarregado do episcopado norte-americano para as relações com a Igreja latino-americana e caribenha, e o padre Jonathan Gaspar, acaba de fazer uma prolongada visita à ilha-cárcere de Cuba, de 17 a 21 de agosto pp.

Desde sua chegada à ilha-cárcere, os altos prelados cobraram do presidente Obama a promessa que fizera de “um novo começo” nas relações dos Estados Unidos com Cuba comunista acrescentaram que Obama está sendo “muito lento” em cumprir essa promessa de reconciliação com o regime e lhe recomendaram “que não desperdice a oportunidade” de levantar o chamado “embargo” econômico norte-americano. Não em vão, o Granma, órgão oficial do PC cubano, apresentou essas notícias de uma maneira quase eufórica (cf. "Granma", Cuba, 19 de agosto de 2009). Ao mesmo tempo, a "Rádio Vaticana", citando como fonte o secretário da Conferência de Bispos de Cuba, monsenhor Juan de Dios Hernández, ressaltou o “clima de amizade e cordialidade” que imperou no encontro dos altos prelados com Ricardo Alarcón, presidente do Parlamento comunista, insistindo na “grande cordialidade” e “dialogo fraterno” (cf. "Radio Vaticana", 22 de agosto de 2009, Ed, em italiano www.oecumene.radiovaticana.org) entre os Pastores e o representante dos lobos.


Ao cardeal O’Malley, que revelou que viaja à Cuba há 20 anos, pouco lhe faltou para ver milagres nas relações entre a hierarquia da Igreja cubana e os ditadores cubanos, dizendo que existe uma “notável melhoria”, porém fez silêncio sobre a continuação da perseguição psicológica, política e policialesca contra os fiéis católicos abandonados por seus Pastores, e contra a população em geral (cf. Associated Press, 18 de agosto de 2009).
Monsenhor Wenski, membro do comitê de política internacional da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos, pediu explicitamente o levantamento do “embargo” externo norte-americano, sem dizer uma palavra sobre a causa do problema cubano que é o implacável “embargo” interno, que já passa de meio século, contra a população cubana (cf. Associated Press, idem, ibid.). O alto prelado invocou também a “liberdade”, não precisamente para os fiéis católicos e o povo escravizado, senão para o intercâmbio entre Cuba e os Estados Unidos, um meio com o qual o regime conta para não sucumbir economicamente. Por fim, monsenhor Wenski desejou também que “ambas as partes”, governo norte-americano e regime comunista, cheguem a um entendimento e conciliação, e concluiu que para isso seria preciso que “escutem seus melhores anjos” (cf. "Granma", idem, ibid.).

Quem poderão ser os “anjos” dos tiranos comunistas de Cuba, aos quais ingenuamente monsenhor Wenski invoca como mediadores-iluminadores, se considerarmos que o Papa Pio XI, em sua célebre Encíclica “Divini Redemptoris”, qualificou o comunismo não somente como “intrinsecamente perverso”, mas como “flagelo satânico”?

De qualquer maneira, estamos na presença de um dos mais lamentáveis episódios de colaboração comuno-católica, com rosto eclesiokerenskiano que, do lado norte-americano se remonta às viagens a Cuba dos “conservadores” cardeais Law, de Boston e O’Connor, de Nova York, com suas respectivas entrevistas com o ditador Castro e suas posteriores declarações elogiosas com relação a esse tirano. Tudo isso faz parte de uma sucessão de fatos que foram narrados cronologicamente e devidamente documentados em um livro editado por exilados cubanos, e que agora alcança sua maior atualidade (cf. “Duas décadas de progressiva aproximação comuno-católico na ilha-presídio do Caribe”, "Cubanos Desterrados", Miami-Nova York, 1990).

O kerenkismo eclesiástico simula ignorar a causa do problema cubano, que é o implacável “embargo interno” do regime comunista contra toda a população cubana, e dessa maneira desvia a atenção e as críticas para um dos efeitos da instauração do regime comunista na ilha-cárcere, o chamado “embargo externo”. É a triste cena de Pastores que fortalecem os lobos e deixam as ovelhas famintas e indefesas.

Assim também, o kerenkismo político finge ignorar a raiz do problema hondurenho, as reiteradas ações inconstitucionais do destituído presidente Zelaya para chavizar Honduras com eleições populistas à margem da Constituição, as leis e o sistema eleitoral, que lhe permitiriam perpetuar-se no poder e impor o chamado “socialismo do século XXI”, que não é senão um sucedâneo do moribundo regime castro-comunista.

O recente informe da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da OEA sobre Honduras, que acaba de visitar esse país, é o mais recente exemplo de uma longa sucessão de parcialidades, marcadas por dois indignantes pesos e medidas que afundam em um desprestígio moral maior ainda à OEA e os governos dos países que se prestam a essas manobras. Se os membros da CIDH reconhecem o destituído Zelaya como o legítimo presidente, isso é uma razão a mais para analisar com honestidade e imparcialidade não somente as alegadas violações de direitos do atual governo, como sobretudo para assinalar a causa do problema, que radica nas atitudes inconstitucionais de Zelaya, o verdadeiro e grande responsável pela encruzilhada na qual se encontra Honduras, assim como de maneira similar os ditadores Castro são os maiores responsáveis pela tragédia de Cuba.

Escrevo este artigo horas antes da chegada a Honduras de uma comissão de chanceleres e no momento em que a Corte Suprema de Justiça de Honduras emitiu um importante pronunciamento no qual se afirmam, dentre outros aspectos, que “a aplicação do plano de San José somente se pode fazer se apega-se à legislação nacional” e se adverte que os julgamentos iniciados por delitos contra a forma de governo, traição à pátria, abuso de autoridade e usurpação de funções devem se realizar porque, em caso contrário, “seria um autêntico contra-senso que a busca e a construção de acordos em um Estado de Direito se faça violentando ou deixando de lado a Constituição e as leis” (cf. "El Heraldo" (Tegucigalpa), 22 de agosto de 2009).

Da esq. para a dir.: Morales, Zelaya, Ortega, Chávez, Correa

O kerenkismo político e o kerenkismo eclesiástico formam neste momento, independentemente das intenções de seus protagonistas, os dois dentes de um mesmo alicate que se esgrime contra a causa da liberdade em Honduras e Cuba, porém também na Venezuela, Bolívia e Equador. Inclusive, o chamado “eixo do mal” somente conseguiu avançar na América Latina pela complacência e pelo apoio, às vezes implícito, às vezes explícito, do “eixo kerenkista” ou “eixo da moderação” dos Obamas, Insulzas, Arias e Lulas.

Alexander Fyodorovich Kerenski (1881-1970), um socialista “moderado”, ocupou o cargo de último Presidente da Rússia antes da revolução bolchevique de outubro de 1917, tendo preparado a tomada do poder por parte do comunismo com sua política de concessões e, segundo alguns historiadores, até de traições.



O espectro de Alexander Fyodorovich Kerenski parece ter voltado a rondar nas
Américas, por onde vaga periodicamente desde que se “encarnou” no presidente chileno Eduardo Frei Montalva, que pavimentou o caminho para o comunismo allendista e por isso passou para a História com a merecida pecha de “o Kerenski chileno” estampada indelevelmente em sua fronte. Tive ocasião de escrever um aspecto desse delicado problema em recente artigo “Kerenkismo obamista, Honduras e abismo chavista” (cf. "Diario Las Américas" (Miami", EUA), 24 de julho de 2009; "El Heraldo" (Tegucigalpa, Honduras), 23 de julho de 2009; "Destaque Internacional" (Internet), 21 de julho de 2009; texto reproduzido inclusive em lituano, com a ajuda de uma rede de voluntários, através de milhares de blogs, twitters, facebooks, orkuts e outras páginas web de mais de 30 países, especialmente do Brasil).

Porém, o espectro de Kerenski ronda em outros importantes governos e chancelarias das Américas, o qual, dependendo das circunstâncias, poderá chegar a ser motivo de próximos artigos-denúncia, todos os que sejam necessários, doa a quem doer, embora invariavelmente escritos de uma maneira respeitosa e documentada. Que a Providência ajude e fortaleça os defensores da liberdade em Honduras, em Cuba e no resto das Américas, porém, neste momento crucial, especialmente aos hondurenhos, dando-lhes o cêntuplo do espírito que deu a David em sua desigual luta contra Golias.
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(*) Armando Valladares, ex-preso político cubano, foi embaixador dos Estados Unidos ante a Comissão de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, durante as administrações Reagan e Bush. Acaba de receber em Roma um importante prêmio de jornalismo por seus artigos em favor da liberdade em Cuba e no mundo inteiro.

Um comentário:

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