domingo, 3 de março de 2013

Tendo em vista o “Processo de Autodemolição” e a “Fumaça de Satanás”, os católicos desejam uma coisa: CLAREZA

Raio atinge a cúpula da Basílica de São Pedro, em Roma, poucas horas após a renúncia de Bento XVI. Foto: Alessandro di Meo/AFP
A revista Catolicismo deste mês (edição nº 747), em cuja capa está estampada a foto acima, publica um luminoso artigo de Plinio Corrêa de Oliveira (1908-1995) que — como o leitor certamente perceberá — está impressionantemente vinculado aos acontecimentos da época atual de Sé Vacante[1]. Como se sabe, é o interregno iniciado no dia 28 último, com a renúncia de Bento XVI, e que se encerrará quando for escolhido seu sucessor. 

Apesar de ser um artigo que veio a lume há 35 anos (publicado na “Folha de S. Paulo” em 16-8-78), o autor, como afirma a revista, às vésperas de um novo Conclave[2], “poderia levantar em linhas gerais as mesmas perguntas nele formuladas, para as quais todos os católicos desejariam respostas claras”. 

A seguir transcrevemos tal matéria, que o eminente líder e pensador católico escreveu às vésperas do Conclave de agosto de 1978, que elegeu o Papa João Paulo I. 
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[1] Sé Vacante — do latim “Trono Vazio”. 
[2] Conclave — do latim cum clave, que significa com chave. É a reunião fechada dos Cardeais na Capela Sistina para a eleição do Romano Pontífice.

Clareza 

Plinio Corrêa de Oliveira

Nesta época em que o público tem tanta influência até mesmo nos círculos mais reservados — nesta época em que tanta gente confunde público com publicidade, e imagina candidamente que a face da publicidade exprime sempre a do público — nesta época, enfim, em que tantas vezes um público átono, adormecido, deixa correr os acontecimentos sem entender o clamor publicitário, nem a conduta dos homens públicos, frequentemente hipersensíveis a tal clamor, pergunto: será real que as multidões veem e sentem as coisas como as apresentam tantos dos chamados meios de comunicação social?


No tocante ao Brasil, como à Igreja, sou levado a responder pela negativa. Deixo aqui de lado o Brasil, pois assim o manda o amor à brevidade. E passo a falar da Igreja. Da Igreja, sim, nestas vésperas de Conclave. 
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Diante do caudal de nomes de candidatos ao Papado que lhe vão sendo apresentados, o povo não quer saber tanto qual o lugar de origem, a idade e a carreira eclesiástica, nem qual a fisionomia deles (fisionomia que cabe, o mais das vezes, em uma das variantes em curso: jovial-risonha, caridosa-tristonha, desgrenhada-frenética, esta última ainda não em voga para cardeais).

O que o povo quer saber se reduz a esta pergunta principal: Paulo VI anunciou que a Igreja estava sendo vítima de um misterioso “processo de autodemolição” (Alocução de 7-12-68) e que nela penetrara a “fumaça de Satanás” (Alocução de 29-6-72). O falecido Pontífice — ante cujos restos mortais me inclino aqui com a devida veneração — partiu, pois, para a eternidade com a autodemolição em curso, e a fumaça de Satanás em expansão. 

O que pensará seu sucessor sobre a autodemolição e a fumaça? Como se conduzirá ante uma e outra? Mil outras questões poderiam ser formuladas acerca do novo Papa. Mas as que acabo de considerar primam sobre as demais. Pois quem navega numa barca em meio à pior fumaça, e em companhia de passageiros que vão desconjuntando o madeirame, se interessa de imediato e principalmente em saber o que vai ser feito a respeito da fumaça e dos demolidores da barca. Ora, a Santa Igreja de Deus é a admirável, a nobilíssima, eu quase diria, a adorável Barca de Pedro. É natural que tais perguntas, se as formulem, nestes dias, também os passageiros desta Barca.


São incontáveis os católicos segundo os quais a fumaça e a autodemolição se identificam, a justo título, com duas grandes tendências existentes na Igreja de nossos dias. Uma destas tendências se desenvolve no plano teológico, filosófico e moral. É o progressismo. 

A outra tendência se desenvolve no tríplice plano diplomático, social e econômico. Ela se chama, segundo o ângulo em que é considerada, aproximação com o Leste, aproximação com o socialismo e aproximação com o comunismo.

Se considerarmos que o progressismo é, por sua vez, uma aproximação com os mil aspectos do que se convencionou chamar “mentalidade moderna” (a qual é, até certo ponto, uma ficção a que poucos homens aderem inteiramente, muitos só aderem com restrições e em proporções acentuadamente variáveis, e que não poucos rejeitam), chegamos à conclusão de que o futuro Papa terá seu pontificado essencialmente marcado pela atitude que tomar diante disto que podemos qualificar de dupla aproximação: a) a mundano-publicitária-progressista; b) a socialo-comunista. 

Desculpe-me o leitor os neologismos. Talvez conviesse compô-los de outra maneira. Apresentam-se-me ao correr da pena, e me servem para exprimir fácil e rapidamente o que quero dizer. Poupam, assim, o tempo do leitor, como o meu. Em nossa época, a pressa obtém indulgência para muitas deselegâncias...

O que pensam dessas aproximações os múltiplos cardeais cujos nomes vão sendo lançados como “papabili”? Como vê cada um deles as correntes rumo às quais esses movimentos de aproximação os convidam? Como hidras que é preciso abater desde logo com o gládio de fogo do Espírito? Como adversárias inteligentes, dúcteis, e talvez um pouco bobas, com as quais é possível conduzir lentas, cômodas e quiçá até cordiais negociações? Como parceiras em uma coexistência, ou mesmo colaboração perfeitamente aceitável, e por alguns lados até simpática? Estas são, entre mil, as perguntas que a maioria dos passageiros da sacrossanta Barca de Pedro gostariam de fazer a cada “papabile”. 

E para estas perguntas, que pairam no ar, o mais das vezes não vejo em torno de mim senão fragmentos de respostas, opacos, viscosos, totalmente insatisfatórios. 


Ora, queiram ou não queiram, quando do alto da loggia de São Pedro [foto] for proclamado o nome do novo Papa, e o consueto clamor de alegria se levantar da imensa praça circundada pelas colunatas berninianas, ao mesmo tempo uma muda mas ansiosa interrogação se apresentará aos espíritos. Será o novo sucessor de São Pedro, ante os promotores das aproximações, um batalhador, um negociador, ou um ajeitador? 

E ele, em quem residirá o excelso poder das chaves, cujas decisões são soberanamente independentes dos juízos dos homens, mas cuja missão pastoral não o poderá deixar indiferente às aspirações e necessidades das ovelhas, se perguntará, na hora solene da sua aclamação: qual das três atitudes espera de mim este povo imenso?

Enquanto aguardamos, na prece ininterrupta, submissa e confiante, esse momento ápice do primeiro encontro estuante de júbilo e carregado de preocupações, resta-nos perguntar: o que deseja a grei fiel? 

Vários, é bem claro, têm sua preferência definida por um papa que tome inteiramente esta ou aquela das atitudes, ante a dúplice aproximação. Classifico-me, todos o sabem, entre os que exultariam com a escolha de um papa combativo como São Gregório VII [pintura acima] ou São Pio X [foto acima]. Outros preferem nitidamente um papa “aproximacionista”, como foi em seu tempo Pio VII [pintura abaixo]. E assim por diante. 
Mas a imensa maioria dos fiéis, o que desejará ela? 

À primeira vista, parece apática. Tal apatia será desinteresse? Não o creio. 

O que será então? A meu ver, é a expressão do concerto respeitoso, e por isso mesmo silencioso, de quem não entende, não concorda e nem ousa discordar. 

Essa imensa maioria, em cujo silêncio me parece discernir traços óbvios de fadiga, angústia e desânimo, deseja de imediato, e antes de tudo, clareza. 

Sim, ela deseja, num silêncio que se vai tornando enfaticamente perplexo, saber sobretudo o que é esta fumaça, quais são os rótulos ideológicos e os instrumentos humanos que servem a Satanás como sprays de tal fumaça, no que consiste a demolição, e como explicar que esta demolição seja, estranhamente, uma autodemolição? 

Não é o que o senhor gostaria de saber, leitor? A senhora, leitora? Pois eu também. E como nós, milhares, milhões, centenas de milhões de católicos. 

E o que há de mais justo, de mais lógico, de mais filial e de mais nobre do que pedirem os filhos da luz, àquele a quem foi dito: “Tu és pedra, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”, pedirem-lhe clareza?

3 comentários:

Anônimo disse...

È incredibile che queste parole siano state scritte nel lontano 1978.

Vediamo cosa succederà…..
Saluti.

Maria Ivete Becker disse...

Excelente! E nem parece ter sido escrito há tantos anos! Cabe como luva no momento histórico em que vivemos. Eu, apenas colocaria que “Deus escreve certo por linhas tortas!”
Isto é: O Espírito dEle permite e age nestas circunstâncias, como que respeitando nossas ações. Portanto, Não temo e não deixarei minha fé! Ele está conduzindo! E os resultados poderão ser exatamente esta Clareza, esta Limpeza, esta Purificação prevista em seus Evangelhos. Temos que voltar às Verdades Evangélicas!

João Ramos disse...

Li o jornal O Globo do último domingo, um artigo de Frei Beto, sob o título Um conclave inusitado, onde aborda sobre o conclave do futuro sucessor de São Pedro. "Enfim, com dois papas vivos, a Igreja Católica será agora, foco das atenções por muito tempo. Tomara que saiba aproveitar para transparecer melhor a mensagem de Jesus". Estranhei enormemente a afirmação de que a Igreja tem dois papas, um renunciante que tem o direito de usar os trajes papais, mesmo sendo emérito e o outro eleito. O artigo escrito pelo Dr Plínio Correa de Oliveira em 1978, tem atualidade única, e esclarece muito o que se desenrola nos meios eclesiásticos, pois essa mentalidade progressista só vem para aumentar o caos. O papa que renuncia, deixa de ser papa, sem direito de usar as insígnias papais e deixa também de ser bispo de Roma, e perde o nome de papa e de Sumo Pontífice, para ficar apenas com o nome de batismo e de sagração episcopal. Papa emérito é uma termologia progressista, deixando entrever uma empresa ou uma república em que usa "ex" para indicar que não é. De acordo com a doutrina que me ensinaram que quando um Papa consciente e deliberadamente renuncia, deixa de ser papa e volta a condição de antes de ser eleito.