Carlos Sodré Lanna (*)
O espírito religioso do povo português encontrou no Brasil um clima fecundo para sua natural expansão.
O costume de se designar os acidentes geográficos pelos nomes de Deus, da Virgem Maria, dos santos e santas teve origem com o Descobrimento, a partir de suas primeiras denominações: Terra de Vera Cruz e de Santa Cruz.
Essa tradição é responsável pelos nomes sagrados dados a centenas de cidades, distritos e vilas de nossa Pátria, nos mais diversos quadrantes, como também a regiões, rios, lagos, montanhas e pontes, todos extraídos da religiosidade católica.
Assim, em primeiro lugar, os nomes de Deus e de Jesus Cristo aparecem em formações compostas: Menino Deus, no Pará e Cristo-Rei, no Paraná.
Salvador foi atribuído à capital da Bahia, bem como a cidades de vários outros Estados. Senhor do Bonfim é uma cidade baiana. A denominação Bom Jesus é difundida em diversas regiões, como, por exemplo, Bom Jesus do Galho (MG). Divino, como a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, aparece em Divino das Laranjeiras (MG). Espírito Santo, além de designar o Estado que leva tal nome, figura em Espírito Santo do Pinhal (SP) e outras localidades.
Em relação a Nossa Senhora, são numerosas as invocações que figuram como nomes de cidades: Nossa Senhora Aparecida (SP), Nossa Senhora da Glória (SE), etc.
Uma antiga devoção mariana consagrada a Nossa Senhora da Conceição é
igualmente bastante difundida em cidades brasileiras: Conceição do Araguaia (PA), Conceição do Coité (BA) e várias outras.
Além dessas, é grande o número de expressões relativas à Mãe de Deus existentes em todo o território nacional: Virgem da Lapa (MG), Madre de Deus (MA), Amparo da Serra (MG), Carmo da Mata (MG), Dores do Rio Preto (ES), Piedade de Ponte Nova (MG), etc.
Com o adjetivo "bom", aparece Bom Sucesso (MG), Bom Conselho (PE), Boa Morte (MG), provenientes de invocações de Nossa Senhora.
Ocupa lugar de destaque a designação de Santa Maria, em vários Estados, e seus compostos como Santa Maria da Vitória (BA).
Quanto aos nomes de santos aplicados a cidades, a preferência recai em São José e Santo Antonio, como, por exemplo, São José do Rio Preto (SP), São José do Ouro (RS), Santo Antonio de Lisboa (PI), Santo Antonio do Leverger (MT) e muitas outras localidades.
Podem ser lembrados ainda, na formação dos nomes de municípios, vários outros santos como São Benedito do Sul (PE), São Bento do Norte (RN), São Bernardo do Campo (SP), São Caetano do Sul (SP), São Domingos do Prata (MG), São Félix do Xingu (PA), São Francisco do Sul (SC), São Gabriel da Cachoeira AM), São João da Barra (RJ), São Joaquim (SC), São Luís (MA), São Mateus (ES), São Pedro dos Ferros (MG), São Vicente Ferrer (MA) etc. São Paulo, a capital paulista, recebeu o nome do Apóstolo dos Gentios por ter sido fundada na festa comemorativa de sua conversão, em 25 de janeiro.
Quanto ao emprego dos nomes de santas, a preferência recai sobre Santana ou seus compostos, como Santana do Livramento (RS), vindo logo em seguida as designações de Santa Rita e Santa Rosa, com seus complementos, em diversos Estados. Seguem-se Santa Luzia, Santa Bárbara e Santa Isabel. Para designar os cultos às padroeiras, cabe lembrar Santa Adélia (SP), Santa Amélia (PR), Santa Brígida (BA), Santa Clara (AP), Santa Inês (MA), Santa Quitéria (CE), Santa Teresa (ES), Santa Vitória (MG) etc.
Com a designação Cruz, é expressivo o número de municípios, seja na forma simples de Santa Cruz (SE), ou composta, como Santa Cruz do Sul (RS), Primeira Cruz (MA), além de seus derivados como Cruzeiro (SP), Cruzália (SP), Cruzeta (RN), Cruzília (MG).
Toda essa série de designações, consistindo em nomes de santos e santas, concedidas às cidades brasileiras, tão ampla e variada, constitui o reflexo do primeiro símbolo católico implantado e frutificado em nosso País, que foi a cruz.
Para concluir, reproduzimos um pertinente comentário do conceituado historiador Pe. Serafim Leite SJ: “A Cruz de Cristo estava na bandeira da nação evangelizadora [Portugal], e no passado e no presente, numa forma ou noutra, é o objeto mais visível do culto no Brasil, como o certifica no Rio de Janeiro a estátua do Cristo Redentor a iluminar e a abençoar o Brasil em que a própria imagem de braços abertos, é a Cruz” (Suma histórica da Companhia de Jesus no Brasil, Livraria Portugalia, Lisboa, 1965, p. 138).
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(*) Carlos Sodré Lanna é colaborador da Agência Boa Imprensa (ABIM)
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