A
reeleição do presidente Obama pressagia a expansão do caos em escala mundial.
As profundas rachaduras abertas nos EUA favorecem o aumento do descontrole e da
contradição no cenário mundial.
§
Luis Dufaur
Fonte: Revista Catolicismo, Nº 744, Dezembro/2012
Quando Barack Hussein
Obama encerrou seu último meeting, na
longa corrida pela reeleição, enxugou uma lágrima... O esgotamento de uma
campanha insana contribuiu para trair uma grossa preocupação: o “Messias” de
2008 já não estava mais lá. O futuro se fazia pressentir doloroso e incerto.
A estreita vitória que
o reelegeu deixou um país rachado, mais polarizado que nunca, com os políticos
menos moderados dos dois partidos compondo as duas Câmaras em oposição.
Obter o consenso
mínimo na legislação mais rotineira será difícil, observou Andy Sullivan, da
agência Reuters (7-11-12). “Não haverá
muita boa vontade no Capitólio”, disse o professor de história da
Universidade de Princeton, Julian Zelizer. A polarização crescente manifestada
na eleição tornará mais difícil governar o gigante acometido por violentas
crises internas e externas.
Malgrado a vitória
final, as perdas democratas foram notórias e Obama governará um país rachado
não só política e ideologicamente, mas também social, étnica, geográfica, moral
e religiosamente.
“A
polarização já foi mais extrema em alguns períodos do século XIX e nos anos
1930” [da Grande
Depressão], lembra o historiador Alexander Keyssar, de Harvard, mas “em nenhuma dessas vezes as instituições do
governo ficaram tão paralisadas como agora”. E especificou que as
trincheiras que dividem os EUA hoje são entre radicais e centristas dentro de
cada partido; mais do que entre a esquerda democrata e a direita republicana.
Como conciliar o irreconciliável?
“Vitória
sem folga” obriga o
presidente americano a procurar a cooperação da oposição, comentou “O Globo”
(8-11-12), mas esta “manteve a maioria na
Câmara e saiu rancorosa das urnas com 57 milhões de votos”.
No Senado, o
presidente terá o apoio de uma maioria democrata ampliada, porém posicionada
mais à esquerda, com a presença pela primeira vez de uma senadora assumidamente
homossexual.
“O
pragmatismo deve levar Obama para o centro no 2º mandato”, escreveu Peter Baker, de “The New
York Times”. Mas onde está esse centro, do qual os políticos mais populares dos
dois partidos desertam, migrando para os extremos? Quem ou que fator poderá resolver
o dilema de Obama?
Para
o Prof. Zbigniew Lewicki, diretor do Departamento de Estudos Americanos da
Universidade Cardeal Stefan Wyszyński, de Varsóvia (Polônia), do ponto de vista
europeu, Obama “não correspondeu às expectativas geradas há quatro anos”
e “voltou as costas à Europa” (“Gazeta Wyborcza”, 8-11-12). Porém — acrescentou — o único
governo que “pode deleitar-se com a
vitória de Obama” é o da Rússia. Justamente o inimigo visceral dos EUA.
Isto por certo não é uma vitória americana, e não traz boas notícias para um
futuro mediato.
As rachaduras morais
acentuaram-se em vários plebiscitos que costumam ocorrer simultaneamente às
eleições presidenciais. Até o momento das eleições, na totalidade dos estados
em que fora posto em votação, o “casamento” homossexual havia sido recusado
pela maioria. Mas desta vez, três estados o aprovaram: Maryland, Maine e
Washington. Também o uso e a venda de maconha obtiveram aprovação em Colorado e
Washington, embora tenham sido rechaçados no Oregon. A lei federal considera a
maconha como narcótico ilegal e preveem-se atritos legais que podem até
inviabilizar as aprovações.
Cambaleios e incertezas no horizonte
O segundo mandato de Obama começa com aspectos próprios de uma situação cambaleante do ponto de vista interno dos EUA. Essa crescente rachadura interna não poderá deixar de ter graves reflexos nas relações internacionais.
Quem no cenário
internacional poderá equilibrar o gigante americano quando este começar a
oscilar num sentido ou noutro de acordo com disputas internas? Na verdade, o
resto do mundo aguardava respostas claras por parte dos EUA, pois sem o
concurso dessa imensa nação as grandes economias mundiais, especialmente as
europeias, não poderão dominar as rotações que as fazem dançar à beira de
abismos assustadores.
Cavalgando sobre um
gigante rachado, polarizado e absorvido por conflitos culturais, morais e
religiosos internos, Obama não poderá realizar ações significativas no exterior.
E então as bússolas dos países civilizados parecerão viciadas. A indicação de
um rumo tornar-se-á cada vez mais obra de adivinhação, impossível até, talvez, para
os políticos mais experimentados.
Nesse caso, quem
poderá ganhar com a paralisia e/ou o enlouquecimento das bússolas do Ocidente?
No Oriente, a China se
prepara de um modo assaz confuso, atormentado e incerto, para se projetar como
a primeira potência mundial.
Nas condições em que
se deu, a vitória de Obama deve ter sido recebida em Pequim como prenúncio da
realização da hegemonia marxista chinesa no mundo preconizada por Mao Tsé-tung.
Mas quem arriscará
garantir qualquer coisa considerando-se a obscura luta pela sucessão interna na
China comunista e os crescentes focos de rebeldia popular contra o governo?
A única coisa certa é
que a vitória eleitoral de Obama preanuncia horizontes ameaçadores para a
estabilidade mundial.
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Luxemburgo:
esplendor nobre.
Eleições americanas:
vulgaridade demagógica.
Num clima de dignidade e proporcionado esplendor, Guilherme,
príncipe-herdeiro de Luxemburgo, contraiu núpcias com a condessa belga
Stephanie de Lannoy. O casamento nas famílias reinantes traz a promessa de
continuidade da monarquia e estabilidade da nação. Mas certa mídia malévola que
se diz amante da democracia tentou desmoralizar a solenidade alegando que a
despesa — 350.000 euros — era incompatível com a atual época de crise.
Pouco depois, segundo o Center for
Responsive Politics, as eleições presidenciais americanas consumiram seis
bilhões de dólares, 13% a mais que o recorde atingido na eleição de 2008 e certamente
destinado a ser superado em 2016... O dinheiro público e privado gastado em
eleições paga amiúde explosões de demagogia e mau gosto. Onde reside no seu
melhor sentido o espírito democrático? Onde o povo é elevado pela tradição e dignificado
pelo requinte nobiliárquico, ou onde é rebaixado com exibições de vulgaridade e
demagogia?
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